O voluntariado organizado, um dos fenómenos sociais mais dinâmicos, é objeto de interesse e de análise a nível nacional e internacional. Fenómeno sociologicamente complexo, antes de assumir uma dimensão pública (macro), constitui uma experiência individual (micro), mas socialmente compartida (meso) com outros voluntários e com os beneficiários da ação voluntária.
Diversos atores e processos históricos influenciaram o “voluntariado português”: a Igreja católica e as misericórdias, as mutualidades e o voluntariado cooperativo e sindical, o Estado Novo e a política de repressão, a Revolução de 1974 e os valores da democracia e da participação, o Estado-Providência, as IPSS e, por último, a instituição dos anos Internacional (2001) e Europeu do Voluntariado (2011). À semelhança dos países da Europa do Sul, em Portugal registam-se valores de participação mais baixos (menos de 10% da população adulta) relativamente aos países da Europa Central e da Europa do Norte.
Nos últimos anos, diversas instituições internacionais e governos reconheceram o papel do voluntariado na consolidação dos valores da cidadania ativa, da democracia, da solidariedade e da coesão social, ampliando enormemente as suas tradicionais funções assistenciais e de ajuda mútua. Um dos desafios das organizações de voluntariado prende-se com a conciliação da oferta de serviços às pessoas e às comunidades com a promoção da participação dos voluntários, mantendo um equilíbrio entre a dimensão participativa e a gerencial, entre o social e o económico. Esta complexa relação tem originado tensões, mal-entendidos e instrumentalizações.
O trabalho voluntário, embora se reconheça a sua mais-valia, qualidade relacional, espaço de atuação e complementaridade face ao trabalho profissional, é visto muitas vezes como uma forma de colmatar as insuficiências do Estado. De facto, as reservas e as críticas à aferição do valor económico do voluntariado – fortemente recomendado pelas agências internacionais – são alimentadas pela preocupação, já manifestada em vários países da UE, de que o voluntariado possa ocupar e substituir o trabalho remunerado, sobretudo neste período de aguda crise económica e financeira.
Mauro Serapioni