Tendo em conta a diversidade de conceções que suscitou ao longo do tempo, duas das caraterísticas mais vincadas do teatro são as seguintes: uma arte marcada por um efeito intenso de presença – atores e espectadores encontram-se no mesmo “aqui e agora”, influenciando-se mutuamente – e uma forma de representação – os elementos em cena remetem para um campo simbólico.
A palavra teatro surgiu da expressão grega theatron, “o lugar de onde se vê”. Situados no lugar do teatro, onde se vê a crise? O teatro foi frequentemente um modo de encenar a conflitualidade, dando relevo ao momento crítico no qual as divisões entre indivíduos e grupos não podiam mais ser ignoradas, solicitando o encontro de uma solução. O teatro constituiu-se como palco para um exame intenso de problemas sociais, tirando partido da sua capacidade de dar conta da sociedade através de diálogos – daí o seu potencial para ensaiar a multivocalidade. A presença ao vivo dos atores permite ainda explorar os modos críticos pelos quais os problemas se inscrevem na materialidade dos corpos.
Situados a partir das mobilizações artísticas que se designaram como alternativas no meio teatral, encontramos uma multiplicidade de propostas: recusa do espetáculo como mero entretenimento, privilégio de modos coletivos de criação e autoria, envolvimento ativo do espetador na performance, formas radicalizadas de comentário político, dramaturgias do espaço como provocação do teatro fora dos teatros, o protagonismo a dar aos corpos e vozes de identidades e grupos excluídos de muitas “cenas sociais”, etc. Situados no lugar onde a sociologia vê o teatro, deixemos algumas pistas exploradas pelas pesquisas: a descoincidência entre público reivindicado pelos agentes artísticos e público efetivo; os públicos encontram-se em constante recomposição e a sua experiência teatral surge como um modo de viver a tensão entre o individual e o coletivo; a produção teatral tem conhecido diferentes pressões no quadro competitivo com outras formas de espetáculo; a retração e a desarticulação do apoio estatal às artes agudizam o cenário de crise para quem deseja experimentar as alternativas que recusam
o mero novo formato.
André Brito Correia