O Sul global é uma metáfora da exploração e exclusão social, agregando lutas por projetos alternativos de transformação social e política. A expressão Sul global tem vindo a ser crescentemente usada para fazer referência às regiões periféricas e semiperiféricas dos países do sistema-mundo moderno, anteriormente denominados Terceiro Mundo.
A constituição mútua do Norte e do Sul globais e a natureza hierárquica das relações Norte-Sul permanecem cativas da racionalidade moderna, geradora não apenas da ciência e da técnica, mas também da lógica capitalista, impessoal e devastadora e causadora de uma ordem política e económica desigual. A economia moderna, celebrada como uma “ciência” da acumulação material, sancionou e celebrou historicamente a exploração e a colonização de recursos e saberes do mundo. A economia, num sentido amplo, constitui-se como uma gramática colonial, cujo discurso produz a exclusão e o apagamento do que é não familiar, embora explorável – as “outras” práticas sociais e subjetividades. Este modelo hegemónico neoliberal, sustentado pelo monopólio sobre os recursos económicos, tem vindo a acentuar a reprodução de assimetrias no mundo, a expensas da redistribuição e da justiça social.
Contrapondo-se à globalização capitalista, muitos movimentos sociais através do mundo têm vindo a denunciar a dominação, exploração, marginalização e opressão das relações impostas pelo Norte global, avançando com novas propostas que desafiam a epistemologia hegemónica, visando romper com o modelo hegemónico capitalista. O Sul global constitui-se hoje como um espaço de soluções económicas, sociais e políticas alternativas às alternativas historicamente fracassadas, dando origem a uma geografi a imaginária que une áreas com realidades extremamente diversas. Estes novos desafi os por uma globalização contra-hegemónica têm encontrado maior eco e reflexo no Fórum Social Mundial, símbolo das aspirações alternativas do Sul global.
Maria Paula Meneses