Termo cunhado em 1995 por Ignacio Ramonet, primeiro num editorial do jornal Le Monde Diplomatique, do qual foi diretor entre 1990 e 2008, e posteriormente no ensaio “O pensamento único e os novos senhores do mundo”. De acordo com Ramonet, a queda do Muro de Berlim tornara categórica uma doutrina do consenso que já vinha sendo forjada pelo menos desde os acordos de Bretton-Woods. Este “novo catecismo” neoliberal – que encontra formulação lapidar no “there is no alternative”, de Margaret Thatcher – glorifi ca o mercado, estimula a concorrência e a desregulamentação, promove a mundialização da produção e dos fluxos financeiros, fomenta as privatizações e desconsidera o papel do Estado, corrói os direitos sociais e arbitra a favor do capital em detrimento do trabalho.
Ao mesmo tempo que se impõe materialmente, o neoliberalismo origina uma narrativa sobre si próprio que o entende como desejável e inevitável. O pensamento único é esse estreitamento férreo das fronteiras do debate e essa capacidade de obstaculizar a enunciação de alternativas e soluções fora do quadro neoliberal. Enquanto tradução ideológica dos interesses do capital internacional, o pensamento único é produzido por instituições como o FMI, o Banco Mundial ou a Comissão Europeia, pelas bíblias da informação económica e por significativos setores da academia, sendo posteriormente reproduzido na generalidade dos média.
Para Ramonet, o poder político encontra-se no nosso tempo secundarizado diante do controlo da informação e da sua difusão por parte das grandes empresas. Desta forma, a noção de pensamento único alerta para o papel da informação e da opinião publicada como veículo de criação de consenso numa sociedade mediatizada, ao mesmo tempo que sugere a importância da crítica aos média e da busca de canais informativos alternativos como eixos fundamentais na construção de projetos contra-hegemónicos.
Miguel Cardina