Durante 2008, a crise financeira atingiu gravemente a Islândia, um país de cerca de 300 mil habitantes, no noroeste da Europa. Após uma década de forte crescimento económico, assente em grande medida na especulação financeira, a economia islandesa tornou-se uma das primeiras vítimas da crise financeira internacional. O desemprego triplicou, a Króna (coroa islandesa) perdeu metade do seu valor relativamente ao Euro e a emigração de jovens quadros disparou.
Face à incapacidade de pagar os créditos contraídos pelos três maiores bancos privados islandeses, o governo decidiu não resgatar os bancos e permitir a sua falência, nacionalizando-os posteriormente. Em outubro de 2008, a Islândia tornava-se a primeira nação ocidental a solicitar apoio do FMI no contexto desta crise. A contestação social que emergiu, face às medidas de austeridade impostas pelo governo e à gestão danosa das contas públicas, acabou por conduzir à demissão do primeiro-ministro Geir Haarde, em janeiro de 2009, e ao seu julgamento por práticas danosas.
A resposta islandesa à crise reveste-se de um simbolismo importante para a questão da democracia participativa na Europa e a formação de respostas alternativas à crise. Após a queda do governo de Haarde, o novo governo de centro-esquerda, liderado pela social-democrata Jóhanna Sigurðardóttir, anunciou uma iniciativa popular para redigir uma nova constituição através de assembleias de cidadãos e, sob iniciativa presidencial, realizou dois referendos populares sobre o pagamento da dívida da banca ao Reino Unido e aos Países Baixos. Em ambos os referendos, o povo islandês recusou assumir a dívida dos bancos falidos. Estas decisões, que vão contra as diretivas neoliberais do FMI e a prática de outros governos europeus, que optaram por resgatar os bancos privados financiando-os com capitais públicos, representam por isso uma resposta alternativa importante. A economia islandesa está a recuperar e o impacto social da crise tem sido minimizado através da expansão dos programas de apoio social no curto prazo. A Islândia apresentou também a sua candidatura à UE em 2009.
Licínia Simão