As transformações da indústria, relacionadas com a difusão das tecnologias da informação e comunicação, evidenciam que a dinâmica deste setor tem uma natureza sistémica que se expressa na afirmação de novos domínios de atividades, de novas lógicas produtivas, de novas competências, de novos modelos de inovação e de novas conceções de regulação.
A utilização de circuitos integrados, de fibras óticas e de tecnologias digitais aumenta a capacidade para transportar informação, favorece o desenvolvimento das indústrias da eletrónica, dos computadores e das telecomunicações e permite compatibilizar automatização e flexibilidade de processos de fabrico, mesmo em indústrias tradicionais. A difusão das novas tecnologias é também acompanhada pela convergência entre as lógicas de funcionamento dos serviços e da indústria: para além de serem mais frequentes os processos de “industrialização de serviços”, com o fabrico de bens industriais que substituem serviços, ganham expressão práticas de “terciarização de indústrias”, baseadas na compressão do tempo entre produção e consumo, como o sistema “just-in-time”. Envolvendo contactos mais frequentes entre produtor e utilizador, a terciarização que acompanha a difusão das novas tecnologias intensifica interatividades das diversas indústrias e da indústria com os outros setores, acentuando-se a natureza difusa das fronteiras, e dos próprios conceitos, desses setores.
Em estruturas produtivas muito dependentes de atividades tradicionais, em crise e com fenómenos de desindustrialização, como na economia portuguesa, o desenvolvimento industrial depende, de forma muito significativa, da aplicação de políticas que estimulem três vetores: a criação dos novos domínios industriais referidos, a consolidação de complementaridades produtivas de modo a que esses domínios contribuam para valorizar a indústria e os outros setores da economia, o desenvolvimento das competências adequadas às novas lógicas produtivas e a aprendizagens coletivas de conhecimentos complexos.
João Tolda