Os Estados Unidos da América surgiram como grande potência depois das duas guerras mundiais. No século XIX, com a Guerra Civil, consolidou-se a União e o capitalismo industrial e aboliu-se a escravatura. Afirmado o seu papel hegemónico no hemisfério ocidental com a Doutrina de Monroe, os EUA deram amplo curso à sua tendência expansionista, ocupando até final desse século todo o território para Oeste até ao Pacífico. A doutrina nacionalista do “destino manifesto”, o “darwinismo social” e a crença numa “missão” civilizadora nortearam os ideólogos desta primeira fase do imperialismo americano, que avançou para as Filipinas, Cuba e Porto Rico. Entretanto, perpetuava-se a dependência de 4 milhões de ex-escravos, a que se juntaram os milhares de mexicanos convertidos, com o fim da guerra com o México, em cidadãos americanos de segunda categoria e ainda os índios do sudoeste, que aumentaram o número de nativos despojados e exilados na sua própria terra.
A afluência surgida da 1.ª Guerra Mundial esfumou-se com a queda da Bolsa em 1929 e a Grande Depressão. Com esta crise económica, de graves repercussões internacionais, culparam-se os especuladores de Wall Street, os bancos e a administração, mas o capitalismo americano reergueu-se com o New Deal e o próprio impulso da 2.ª Guerra Mundial, preparando assim o caminho para a hegemonia.
Conhecemos então o mundo dividido entre os «bons» do lado do American Way of Life e os “maus” do lado de lá da Cortina de Ferro. Do boom económico que se seguiu, perturbado pela crise do petróleo na década de 1970, surgiu a nova fase pós-industrial ou pós-capitalista de um imperialismo vincadamente económico. A queda da URSS, na década de 1990, pareceu benéfica para a imagem dos EUA. A sua intervenção em ações políticas de cunho imperialista, revestidas pelo sempiterno slogan da “defesa da democracia”, o alastrar do seu modelo económico ao nível global e a difusão da sua influência cultural fizeram crer na perenidade do império. Contudo, sinais de queda explodiram com as Torres Gémeas em 2001 e ressurgiram em 2007, com nova crise económica internacional. De novo se culparam os especuladores de Wall Street, os bancos e a falta de regulação. O que sobreviverá deste “paradoxo americano”, obcecado pela segurança e enredado nos seus próprios mitos?
Isabel Caldeira