A tradição filosófica sugere que a ética seja entendida como uma reflexão fundamentada sobre a validade das práticas que têm impacto no bem-estar humano. Essa validade deve ter como horizontes de referência a preservação da dignidade humana e a realização do seu potencial. Por isso, dada a universalidade destes referenciais, os princípios éticos que regulam e orientam a conduta do bom cidadão são os mesmos a que deve obedecer o bom gestor. O respeito pela liberdade individual, o empenho solidário na vida coletiva e a transparência nas relações humanas são princípios que não dependem de circunstâncias particulares nem devem ser atenuados pelo “fim lucrativo” como fim em si mesmo, que não é.
A ética, no contexto empresarial, tem a função de “polícia-sinaleiro”, alertando em cada caso para a eventual imoralidade das escolhas possíveis. Espera-se que, quando esse sinal surge, os decisores organizacionais travem a fundo, corrijam a rota ou evitem a escolha imoral. Se os gestores assumissem este compromisso como um elemento central da sua prática diária, talvez os perigosos desequilíbrios sociais que hoje existem fossem menos profundos e as dificuldades da própria atividade empresarial fossem menos graves.
Os gestores e empresários são, com frequência, vítimas dos seus próprios preconceitos em relação aos interesses alheios, do seu próprio medo de desalinharem o passo e, em última instância, da sua própria ação, naturalmente limitada por todas essas vulnerabilidades. O maior imperativo ético da ação empresarial é a exigência de respeito, em cada decisão, pelas liberdades positivas (promovendo o desenvolvimento) e negativas (preservando contra o dano) de cada ser humano. O maior desafio é manter a integridade desta escolha, mesmo durante uma crise económica e social.
Filipe Almeida