A palavra mais humilhada, empobrecida e abusada de todas as palavras políticas. Poucas palavras evocam tanta emoção e, ao mesmo tempo, tanta deceção. Tem sido cruelmente invocada para cometer e justificar guerras, invasões, colonização, despotismos e diferentes formas de violência e opressão.
Para os conformistas, a democracia reduz-se à sua dimensão política, que a considera apenas o procedimento menos mau para a eleição de representantes políticos. No atual contexto da crise financeira e económica, a democracia é um instrumento ao serviço da ideologia e dos interesses dos poderes económicos e políticos dominantes.
No entanto, no seu sentido alternativo e emancipatório, a democracia não é simples e unicamente um método político, um sistema de governo ou apenas uma realidade estática. É um processo inacabado, aberto, dinâmico, contraditório, multidimensional e de longa duração que consiste em transformar relações desiguais de poder em relações de autoridade partilhada em todos os âmbitos da vida (laborais, familiares, económicos, educativos, religiosos, culturais, etc.). Assim concebida, longe de ser um aliado das ideologias dominantes, a democracia é toda a luta social e política que cria as condições para o exercício da igualdade na diversidade ou, noutras palavras, fornece as bases para o desenvolvimento de capacidades, conhecimentos e valores que criam e reproduzem práticas de solidariedade, participação e busca efetiva da igualdade.
Antoni Aguiló