É um modo de produção de mercadorias (bens e serviços) que assenta na separação entre o capital, que detém a propriedade dos meios de produção (máquinas, sistemas de gestão e de informação, tecnologias e matérias-primas), e a força de trabalho, que mobiliza esses meios para produzir riqueza. A remuneração da força de trabalho fica sempre aquém do valor que cria, e nessa diferença ou excedente consiste o lucro do empresário e a consequente exploração do trabalhador.
Ao longo dos últimos duzentos anos, boa parte das lutas sociais foi travada para decidir o montante dessa diferença ou excedente. Por maiores que sejam os compromissos capital-trabalho, resta sempre a contradição entre o capital, para quem o trabalho é uma mercadoria que só deve ser usada enquanto necessita dela, e os trabalhadores, para quem a sua força de trabalho não é uma mercadoria como as outras, quer porque é a única que produz riqueza, quer porque é o centro da vida pessoal e familiar do trabalhador, e que por isso não pode ser socialmente descartada só por deixar de ser útil para o capital.
Para além da contradição entre o capital e o trabalho, o capitalismo gera uma contradição entre o capital e a natureza. A natureza é concebida pelo capital como uma fonte potencialmente inesgotável de matérias-primas, um tipo, entre outros, de mercadorias. Acontece que as matérias-primas são uma falsa mercadoria, já que não foram produzidas por trabalho humano, os recursos naturais não são inesgotáveis e a sua exploração acarreta consequências sociais e ambientais extremamente gravosas para as populações e para a natureza.
Onde estão os limites da exploração da força de trabalho e da depredação da natureza? Como esta pergunta faz pouco sentido para o capital, é a sociedade que deve perguntar: quais são os limites do capitalismo? A questão não é tanto a de saber se o capitalismo sobreviverá. É mais a de saber se sobreviveremos ao capitalismo.
Boaventura de Sousa Santos