Sigla criada em 2001 por Jim O’Neil, economista da Goldman Sachs, em alusão à emergência do Brasil, Rússia, Índia e China como potências do sistema internacional. O crescimento económico destes países na última década (média de 6,6% ao ano) tem ajudado à sedimentação desta sigla no jargão político internacional. A este elevado crescimento económico, quatro vezes mais rápido do que o crescimento da economia norte americana no mesmo período, junta-se um peso político-diplomático crescente, o que, por exemplo, obrigou à substituição do G8 pelo G20 como fórum preferencial de discussão sobre a economia global.
Dito isto, é preciso compreender que a sigla BRIC esconde duas realidades particularmente relevantes para o mundo contemporâneo. Em primeiro lugar, esconde todo um conjunto de outras potências emergentes que têm tido crescimentos significativos nos últimos anos e cuja importância poderá, a breve trecho, ser equivalente a alguns dos atuais BRIC, como são os casos da Turquia, da Indonésia e da África do Sul. Em segundo lugar, coloca num mesmo contexto países muito diferentes e com pesos muito diferenciados internacionalmente, desde logo porque nenhum dos restantes três países se compara à dimensão e importância da China. No mesmo sentido, também a Índia, potência nuclear com mais de mil milhões de habitantes, não pode ser comparada ao Brasil e à Rússia. Por fim, Moscovo não pode propriamente ser entendida como a capital de uma potência “emergente”, pois, em termos militares, nunca deixou de ser uma potência e o seu crescimento tem sido baseado, não no desenvolvimento industrial, como no caso dos restantes BRIC, mas, sim, nos elevados preços de mercado dos seus recursos energéticos.
Assim, a sigla BRIC acaba por ser, sobretudo, um símbolo do reequilíbrio de poderes no sistema internacional, cada vez menos centrado no Ocidente e cada vez mais multipolar, um processo que tanto a crise financeira de 2008 como a atual crise europeia vieram, de certo modo, ajudar a acelerar.
André Barrinha