Perguntas Frequentes
1. Como trabalhador na saúde estou mais exposto ao stress psicológico e ao burnout nesta altura. Como posso proteger-me? O que posso fazer pelos meus colegas e pelos outros profissionais de saúde com quem contacto?
- Tire tempo suficiente para relaxar entre turnos, abrande até que os níveis de excitação voltem ao normal;
- Mantenha-se em contacto com os seus amigos e familiares;
- Organize as suas atividades diárias, faça planos;
- Privilegie o sono, a alimentação equilibrada e a atividade física;
- Planeie atividades regulares que o ajudem a sentir-se bem;
- No trabalho faça pausas regulares (sempre que possível);
- Relembre e use estratégias que o ajudaram no passado a lidar com situações stressantes;
- Concentre-se no que está no seu controlo;
- Fale com os seus colegas ou com alguém em quem confie sobre como se sente;
- Seja compassivo consigo mesmo e com os outros;
- Dê atenção às coisas que estão a correr bem, sempre que puder;
- Partilhe e celebre os sucessos ou pequenas vitórias;
- Seja responsável, não egoísta, cuide de si mesmo;
- Limite o tempo que passa a ver, a ler ou a ouvir as notícias;
- Envolva-se com tarefas que afastam a mente da crise atual;
- Se sentir sobrecarregado, saiba que há formas de obter apoio;
- Saiba que não está sozinho nesta situação;
- Não faz mal dizer que não está bem;
- Saiba que isto é uma maratona, não um sprint;
- Saiba que não vai durar para sempre e a epidemia vai acabar.
2. Existe algum problema psicológico que seja específico dos profissionais de saúde?
Sim, o Trauma moral, que corresponde à consequência de ter de tomar decisões que têm um valor moral difícil e que, em resultado das escolhas, por vezes entram em conflito com a moral de cada um e mesmo a moral comum. Isto acontece quando temos de escolher entre quem tratar ou não tratar, quais os recursos que temos de alocar a cada um dos nossos doentes, tendo por vezes de deixar outras pessoas sem esses tratamentos.
3. Como poderei manter-me equilibrado psicologicamente durante o isolamento?
- Saber reconhecer as suas próprias reacções emocionais e as dificuldades que pode ter;
- Não negue os seus sentimentos, mas lembre-se que é normal que todos tenham reações emocionais devido a um acontecimento/situação tão inesperado, imprevisível e ameaçador;
- Ser capaz de monitorizar as suas reações físicas e emocionais;
- Lembre-se que não estamos sozinhos. Embora não estejamos em contacto físico, fazemos parte de um sistema e de uma organização que pode apoiar e ajudar, também emocional e psicologicamente;
- Fale sobre o evento/situação crítico, ajudando-se mutuamente a libertar a tensão emocional;
- Respeite as reações emocionais e a ação/comportamento dos outros, mesmo quando são completamente diferentes e difíceis de entender do nosso ponto de vista;
- Tente manter-se em contacto, mesmo através de canais virtuais, com pessoas na sua vida. Restabelecer uma rotina diária de alguma forma previsível;
- Peça ajuda a pessoas em quem confia, possivelmente escolhendo quem lhe dá uma melhor sensação de familiaridade e segurança;
- Tenha algum tempo para recuperar, prestar atenção às suas necessidades e manter a distância do evento, da situação ou das atividades ligadas a ele (dormir, descansar, pensar, chorar, estar com entes queridos, etc.);
- Proteja o seu equilíbrio emocional, acedendo a serviços de apoio;
- Aceda, quando e se possível, ao apoio psicológico;
- Limite o acesso aos meios de comunicação uma ou duas vezes por dia. As pessoas expostas precisam de encontrar um significado para o que aconteceu e, por isso, passam muito tempo à procura de notícias; no entanto, é necessário protegermo-nos da exposição excessiva;
- Prefira os canais oficiais como fontes de informação, como a Organização Mundial de Saúde https://www.who.int/ e as suas orientações sobre as práticas de higiene;
- Lembrem-se que uma atitude positiva e evitar pensamentos catastróficos ajuda a si e à comunidade.
(Texto adaptado da EMDR Europe Association)
4. Que sinais e sintomas que podem ocorrer em alguém que se confrontou com um evento traumático?
Estes são exemplos de reações que podem se manifestar em pessoas expostas a eventos potencialmente traumáticos. Devemos, no entanto, perceber que algumas reações devem ser consideradas como formas de adaptação ao acontecimento potencialmente traumático ou stressor.
Reações Emocionais |
|
Reações Cognitivas |
|
Reações Físicas |
|
Reações Comportamentais |
|
in Manual de Apoio Psicossocial a Migrantes (2015) p. 31
5. Nas crianças e adolescentes, vou encontrar reações diferentes em idades diferentes?
- 0-2 Anos - Comportamento irritável, chora muito, mostrando apego ou passividade.
- 2-6 Anos - Muitas vezes sentem-se impotentes, com medo da separação, estão em negação relativamente ao evento crítico; tornam-se mudos e evitam companheiros e adultos: isolam-se.
- 6-10 Anos - Manifestam culpa, sentimentos de fracasso e raiva; têm fantasias de brincar como salvador e estão intensamente preocupados com os detalhes do evento crítico.
- 11-18 Anos - As respostas assemelham-se às reações dos adultos: irritação, rejeição de regras e comportamento agressivo; medo, depressão, comportamentos de risco e podem tentar suicídio.
in Manual de Apoio Psicossocial a Migrantes (2015) p.32
6. Quais os principais problemas psicológicos que a situação de pandemia pode desencadear?
Em situações definidas como tendo algum potencial traumático, sabemos que a generalidade das pessoas não deverá desenvolver nenhum tipo de problema psicológico que não seja da adaptação às próprias circunstâncias e muitas dessas reacções têm tendência a desaparecer com tempo e principalmente com o afastamento no tempo do evento potencialmente traumático. No entanto, também sabemos que existe um grupo de pessoas que vai desenvolver problemas psicológicos como as Reacções Agudas de Stress, Perturbação de Stress Pós-Traumático, Ansiedade, Depressão, entre outras. A severidade dos sintomas vai variar com a história de cada um e de como foi vivido o evento potencialmente traumático ou a existência previa de problemas psicológicos. De qualquer forma, sabemos que a população portuguesa é caracterizada por uma boa capacidade de resiliência, o que a protege de alguns destes problemas psicológicos. Diremos também que, mesmo para quem desenvolve problemas psicológicos, numa situação destas, a psicotraumatologia possui hoje um conjunto variado de tratamentos que ajudam a ultrapassar, com sucesso, estas situações..
7. Como posso gerir o meu próprio stresse?
- Falar sobre as experiências vividas
- Sempre que possível, evitar stresses acrescidos
- Manter-se atento a perigos adicionais
- Relativizar situações stressantes contextualizando-as numa perspetiva mais ampla
- Evitar isolar-se, tentando arranjar tempo para relaxar e para realizar atividades de que gosta
- Procurar manter as rotinas existentes
- Definir metas e traçar um plano para as concretizar
- Disponibilizar-se para ajudar os outros
8. O que posso fazer para ajudar os meus pares?
- Estar disponível - Se for solicitado para prestar suporte, tentar estar disponível. Apesar de nem todos quererem falar, as pessoas que passaram por uma experiência stressante geralmente gostam de saber que alguém está lá para eles. Estar disponível, sem ser intrusivo.
- Gerir a situação e os recursos disponíveis - Se necessário, ajudar a certificar-se de que a pessoa está segura, protegida; confirmar a existência de privacidade e que tem acesso à ajuda de que necessita, por exemplo, um médico se estiver doente.
- Providenciar informação - Proporcionar à pessoa informações precisas e reais – por forma a ajudar a colocar a situação em perspectiva, dum modo mais objectivo e controlável.
- Ajudar a pessoa a estabelecer controlo pessoal - Respeitar a capacidade da pessoa para tomar decisões e gerir a situação. Ouvir e apoiar na tomada de decisões. Permitir que a pessoa expresse sentimentos, sem julgamento.
- Encorajar - Algumas pessoas sentem-se culpadas ou têm perda de auto-estima durante situações stressantes. Encorajar a pessoa a ter uma visão mais positiva, ao ajudar a encontrar explicações objetivas e pensamentos alternativos.
- Manter a confidencialidade - A confidencialidade é uma pedra angular de todo o apoio dos pares – revelando-se essencial para a integridade de todo o processo. Não compartilhar a história do seu colega com os outros ou fornecer detalhes sobre eles para terceiros.
- Providenciar follow-up - Pode ser adequado disponibilizar-se para fazer follow-up à pessoa que está a ajudar, através de um telefonema ou de uma conversa, em presença. Ser discreto e não-intrusivo no follow-up. Não avançar com quaisquer promessas para se manter em contacto.