Casa grande, senzala e arredores. O alcance da repercussão do livro Casa grande e Senzala (1933) de Gilberto Freyre no meio intelectual brasileiro é difícil de limitar, pois se não bastasse a grande efusão provocada pela sua publicação, a partir daí, o livro passou a ser considerado pedra de toque no desenvolvimento das ciências sociais no Brasil e, conseqüentemente, parada obrigatória em qualquer consideração historiográfica do país. Junto com Raízes do Brasil (1936) de Sérgio Buarque de Holanda nós temos uma parelha de livros que influenciaram sobremaneira o modo de enxergar o Brasil e também dos brasileiros verem a si mesmos. Neste sentido, nós giramos em torno de duas obras lapidares para emancipação das ciências sociais no Brasil, cuja autoria é de dois estudiosos, que por profissão estão vinculados à produção acadêmica das ciências sociais, mas que possuem ostensiva produção ultrapassando esse plano. Como a relação dos dois livros entre si trata-se de um jogo de espelhos em que um reflete o outro de modo invertido, se considerarmos as posturas intelectuais dos seus autores e os posicionamentos políticos-ideológicos tomados por um e outro nalgumas ocasiões fundamentais para a história brasileira recente, ao falar de um estaremos inevitavelmente falando do outro. Mas com o fim de delimitar terreno, detenhamo-nos, por ora, na obra de Gilberto Freyre, porque dialoga mais de perto e intensamente com a dimensão literária da representação do Brasil, devido a prosa que o seu livro carrega consigo, a outra parte de sua produção em que se assume nitidamente como autor literário e aos poetas que tomaram seu livro Casa grande e Senzala como matéria de investigação e realização literárias. Se por um lado este livro toma grande vulto no âmbito das ciências sociais, também é verdade que seu interesse não pára aí, uma vez que de igual modo passa a ser objeto de especulação no plano literário. Se o livro por si só vem despertando o interesse de inúmeros estudiosos da literatura, devido ao alto grau de sofisticação estilística que sua prosa suporta, não devemos esquecer que a produção do seu autor se estende em críticas consideráveis a objetos de cultura, notadamente os objetos literários. Desse modo, parece bastante sedutora a hipótese de comparar esta produção crítica com aquela outra que se ocupa mais precisamente dos fenômenos sociais, posto que é perceptível o empenho do autor em radiografar uma possível alma brasileira através de seus artistas, como contraparte e complemento do que se pode ver através do recorte que faz de um certo comportamento da vida brasileira em circunstâncias bem determinadas. Sendo assim, podemos tomar esta crítica literária como um negativo do que se propõe em Casa grande e senzala, para que, assim, possamos acompanhar alguns de seus desdobramentos noutra esfera, considerando que a produção ficcional do autor está em diálogo franco e direto com parte de nossa produção literária mais recente. Por outro lado, alguns de nossos autores mais representativos, a exemplo de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, ocuparam-se do livro de Gilberto Freyre não só como fonte de interpretação do Brasil, mas o incorporaram como matéria de poesia e, nesta medida, possibilita um dinâmico exercício de leitura que se segue em duas mãos, se tomarmos o seguinte trajeto: da sociologia à crítica e daí até a poesia, também no sentido inverso. Se conseguirmos fazer este percurso ao menos uma vez, é indício de que nossos propósitos foram realizados. "Uma epopéia nos sertões na literatura brasileira
pós-64: Os Guaianãs, de Benito Barreto" A tetralogia de romances do escritor mineiro Benito Barreto, Os Guaianãs,
aborda ficcionalmente aspectos da recente história brasileira.
Escritos entre 1962 e 1975, os romances, marcadamente épicos, possuem
como temática a resistência popular frente à implantação
da ditadura civil-militar no país. A tetralogia situa a ação
no interior de Minas Gerais narrando acontecimentos que vêm do início
do século XX até o Golpe de 1964. Desconhecidos da crítica
literária e do público leitor, assim como boa parcela da
literatura sobre os anos de chumbo, os romances de Benito Barreto recriam
um Brasil ferido e heróico.
Representações do Dinheiro em Camões, Garrett
e Pessoa-O Caso Mental Português e o Espírito do Capitalismo.
Memória e discurso no romance - traços discursivo-estilísticos
d'A Pedra do reino, de A. Suassuna. "O inquérito continua em aberto e em suspenso, (...) sua Obra ficará assim, em suspenso e aberta, dependendo sempre de novos depoimentos que o senhor nos prestar. Talvez, até, ela dure para o resto de sua vida e nunca chegue a terminar, (...)" O romance por ser uma narrativa em que predominam elementos dos mais
diversos é um dos tipos de composição que mais incorpora
discursos de diferentes origens e intencionalidades; nas palavras de Antônio
Cândido, um bastardinho brilhante. Em qualquer romance faz-se presente
a memória - desde aquela que simula resgatar os fatos ficcionais
narrados até a que se utiliza da História sócio,
político-cultural e, em particular, de toda uma herança
literária.
A construção de uma identidade de fronteira na
Obra literária de Uanhenga Xitu A produção literária de Uanhenga Xitu (ou Agostinho
Mendes de Carvalho) consigna-se como um suporte de reflexão sobre
a construção de uma identidade de fronteira manifestada
num vasto quadro de personagens. Tamoda, Felito ou José das Quintas,
entre muitas outros, manifestam-se como frutos da presença colonial
portuguesa em Angola, emergindo viventes entre dois mundos culturais (sejam
os chamados tradicional e moderno ou o que relaciona colonizados a colonizadores),
enquadrados em espaços de secular interacção de europeus
com africanos e num tempo que a memória individual do criador recupera
o tempo da vigência colonial do Estado Novo pré-luta de libertação.
|
||
Clique no botão do lado direito do seu rato para imprimir | ||