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Política Externa Norte-Americana para a
Indonésia: O Caso Timor Leste (1975-1999)
Laura Morais Sales Lima (Universidade Federal Fluminense)
A presente comunicação consistirá em uma análise
histórica das relações entre os Estados Unidos e
a Indonésia, no período entre a anexação do
Timor Leste (1975) e o reinício das conversações,
no âmbito da Organização das Nações
Unidas - ONU - acerca da independência timorense. O objetivo principal
do trabalho é compreender a mudança no posicionamento internacional
dos Estados Unidos, entre dois extremos. Na década de 1970, a política
externa americana mostrou-se conivente com a invasão indonésia
e, um quarto de século depois, aquele Estado apresentou-se, internacionalmente,
como simpatizante da causa timorense.
Pretendemos analisar a dinâmica do relacionamento bilateral entre
Estados Unidos e Indonésia, o desenvolvimento dessa relação
e seus efeitos diretos na questão timorense. Acreditamos que a
análise histórica da referida conjuntura pode ajudar-nos
a compreender, mais profunda e analiticamente, os meandros do papel norte-americano
nessa questão.
Percebemos, assim, que a questão timorense; a anexação
e o processo de independência - iniciado oficialmente em 1999 -,
extrapola os limites do relacionamento direto entre a Indonésia
e o Timor Leste. A estrutura da Guerra Fria, a posição de
destaque da Indonésia na agenda da política externa americana
para o sudeste asiático e a importância geopolítica
do Timor Leste tiveram grande relevância na conivência dos
Estados Unidos e de outros países ocidentais com a invasão
de 1975.
O problema que nos deparamos, inicialmente, na conjuntura acima explicitada,
é a incongruência entre os dois direcionamentos dados à
questão timorense pela política externa norte-americana.
Assim, nosso principal objetivo é demonstrar que o direcionamento
da política externa norte-americana influenciou, sobremaneira,
tanto a anexação quanto a independência do Timor Leste.
Para embasar o estudo histórico que aqui desenvolvido, recorremos
a dois pensadores que têm por base a história como ferramenta
de análise das relações internacionais, nomeadamente,
Jean Baptiste-Durosselle e Raymond Aron. Duroselle afirma que "nossa
obra desenvolve, do início ao fim, a idéia de que o estudo
científico das relações internacionais só
pode ser baseado na matéria fornecida pela história"
(Todo Império Perecerá, 1992: 23) e Aron comenta que "o
curso das relações internacionais continua a ser supremamente
histórico, em todos os sentidos (...)" (Estudos Políticos,
1972: 395).
Utilizaremos as noções, estudadas por Duroselle, de estrutura
(movimentos lentos), de conjuntura (movimentos rápidos) e de situação
(movimentos instantâneos). Na percepção do teórico
francês, o estudo das relações internacionais deve
levar em conta essas três instâncias correlatas nas quais
o político e o econômico estão intimamente relacionados.
No nosso trabalho analisaremos as relações entre Estados
Unidos e Indonésia como decorrentes das transformações
na conjuntura e situação ao longo do tempo em uma estrutura
delimitada (Guerra Fria). A resposta norte-americana a uma determinada
situação (tal como a luta pela independência política
indonésia), para nós, produz resultados diretos na formação
de uma nova conjuntura (no caso, o apoio norte-americano a Sukarno) que,
por sua vez atuará na nova situação. Entretanto,
admitimos, também que essa reciprocidade, embora hierárquica,
entre a conjuntura e a situação, não é estéril
no tempo, ou seja, os resultados apresentados não são instantâneos
e impensados.
Adotaremos a perspectiva do professor Yuen Khong, que observa uma linha
de path-dependent approach, ou legacies of previous decisions como ele
a intitula. Sua abordagem "explora o grau em que as respostas americanas
aos [contencioso] estão conectadas umas às outras, [sugerindo
o seguinte argumento], se e como os estados Unidos responderam a uma crise
anterior age como uma coação importante em sua resposta
à próxima crise". Assim, tomamos as relações
entre Estados Unidos e Indonésia não como uma linearidade,
cortês ou contenciosa, mas como construção histórica
de um relacionamento assimétrico mutuamente dependente, embora
uma dependência em níveis distintos.
As relações do governo Juscelino Kubitschek (1956/1961)
com Portugal
Waldir Rampinelli - Universidade Federal de Santa Catarina
rampinelli@brturbo.com
Um dos grandes debates da década de 1950 e início de 1960,
no Brasil, se deu em torno da formulação da política
externa e da orientação da política internacional
, voltadas para o projeto nacional-desenvolvimentista. Vivia-se, então,
a necessidade de o país se afirmar como nação no
contexto mundial e para tanto precisava sair de sua condição
de agrário-exportador. É inadmissível - dizia Juscelino
Kubitschek de Oliveira (JK) - que uma nação como esta não
tenha que opinar com maior autoridade naquilo que põe em permanente
perigo a existência das sociedades humanas, uma vez que estão
em jogo, necessariamente, também os nossos interesses mais vitais
.
Portanto, as políticas externa e internacional voltaram-se, preferencialmente,
para os países desenvolvidos - de modo especial os Estados Unidos
e os da Europa Ocidental - com a finalidade de propiciar o desenvolvimento,
em novos termos, do capitalismo no Brasil. A viagem que JK fez em janeiro
de 1956 , ainda na condição de presidente eleito mas não
empossado, tinha como objetivo principal garantir recursos financeiros
para o plano de metas a ser implantado.
No entanto, JK mantém uma política externa e internacional
de apoio ao império colonial português. Na Organização
das Nações Unidas (ONU), quando o delegado do Iraque propõe
que Lisboa preste esclarecimentos sobre as suas colônias, o diplomata
brasileiro Donatello Grieco afirma que "tocar em Portugal era tocar
no Brasil".
JK chega, inclusive, a prejudicar interesses econômicos brasileiros
- como o dos exportadores de café - para favorecer aos produtores
lusitanos de Angola. Por isso o apoio dos cafeicultores paulistas à
candidatura presidencial de Jânio Quadros, em 1960 .
Desse modo, contraponho-me àqueles que afirmam ter existido uma
coerência lógica na política externa de JK. Ao mesmo
tempo que defendia a soberania e a autonomia dos países e seus
respectivos povos, apoiava o colonialismo exercido nas mais diversas partes
do mundo pelas metrópoles desenvolvidas. Portugal, país
que sequer pertencia a este conjunto, mereceu a mais decidida e entusiástica
reverência.
As relações Brasil-Portugal também foram estimuladas
e facilitadas pelo grupo lusófilo do Itamaraty e por alguns intelectuais,
entre eles Gilberto Freyre, com o destacado trabalho sobre a teoria da
miscigenação. As teses de Freyre e a atuação
política de JK, embora ambos pertencessem a partidos políticos
distintos, se encontram no apoio dado ao colonialismo português.
Os diplomatas brasileiros, não raramente, recorrem aos argumentos
do sociólogo pernambucano para justificar o status colonial.
Explicar as razões que levaram JK a adotar essa política
de apoio ao regime salazarista e ao seu império colonial, bem como
a contribuição de alguns intelectuais e diplomatas, é
o objetivo central desta comunicação.
Analiso, por exemplo, como o Brasil e Portugal tratam a questão
do colonialismo e, simultaneamente, a sujeição de JK aos
interesses lusitanos por meio do Tratado de Amizade e Consulta. Mostro
o apoio teórico de Gilberto Freyre à estratégia salazarista
do Portugal uno, indivisível e plurriracial e a formulação
do pacto colonial, entre Lisboa e Rio de Janeiro, nas Nações
Unidas Apresento as razões que levaram JK a aderir de modo incondicional
à política externa e internacional de Portugal, e aponto
o componente econômico nessas relações subservientes
à Lisboa. Concluo, afirmando que, apesar da submissão de
JK aos interesses lusitanos, sua política externa e internacional
criou, paradoxalmente, as bases para que se adotasse a Política
Externa Independente, nos governos Quadros e Goulart, que, em um outro
contexto, seria retomada pelo Pragmatismo Responsável.
O uso da força nas relações internacionais
Shiguenoli Miyamoto - Universidade Estadual de Campinas
shiguenoli@globo.com
Ao longo da História, os conflitos parecem ter levado nítida
vantagem sobre a cooperação. Embora ambos tenham convivido
paralelamente, o que se tem observado é que o uso da força
tem sido a moeda corrente para resolver situações as mais
diversas possíveis, quando os países - principalmente as
grandes potências - vêem seus interesses contestados. A questão
da segurança é sempre colocada como elemento principal para
essa forma de agir. Mas, ao assim fazerem, relegam a possibilidade de
cooperação internacional e de pensar a segurança
sob outras óticas. Com este tipo de raciocínio, o sistema
internacional tem enfrentado problemas cada vez mais graves, fazendo com
que aqueles Estados com menor capacidade de enfrentamento sintam-se desprotegidos,
tendo que adaptar-se a uma ordem que sempre se lhes apresenta completamente
desfavorável. Nesse caso, mesmo as organizações internacionais
têm desempenhado papel restrito na formatação de uma
ordem mundial mais justa e igualitária.
O texto a ser apresentado procurará, portanto, dentro desta perspectiva,
discutir o tema da cooperação e dos conflitos nas Relações
Internacionais. Após um breve apanhado dos conceitos em discussão,
nossa atenção estará direcionada à forma como
os países têm se posicionado nas últimas décadas,
dando ênfase principalmente ao período a partir da segunda
metade do século passado. Com esses elementos poderemos ampliar
a discussão, tentando mostrar que, mesmo dispondo de todo um aparato
internacional - constituído de tratados, acordos, convenções,
etc. - que permita um relacionamento mais cooperativo, as grandes potências
têm sempre optado pela via conflituosa para a resolução
dos problemas que consideram importantes na agenda de suas políticas
externas. Assim, mesmo a Organização das Nações
Unidas, considerada o maior experimento em termos de cooperação
internacional, tem sido relegada a plano secundário, desempenhando
papel relativamente modesto quando se encontram envolvidos países
como os Estados Unidos, o Reino Unido, ou qualquer uma das nações
detentoras de energia nuclear.
Em um contexto desta natureza, mesmo os pequenos países têm
considerado que sua margem de atuação é muito pequena
ara reverter situações que lhes são completamente
desfavoráveis. Nesse caso, algumas nações têm,
portanto, optado por formas de atuação não convencionais,
seja através de políticas mais agressivas com seus vizinhos,
seja utilizando recursos considerados condenáveis pela comunidade
internacional, como os atentados terroristas. Isto tem se verificado com
certa freqüência em grande parte do mundo, servindo como exemplo
os dois casos mais representativos norte-americano e espanhol. Contudo,
os países , apesar de adotarem rígidas medidas de segurança,
não têm conseguido dar conta de problemas dessa natureza
que têm afetado sobretudo a população civil. Ou seja,
prevalece para todos que o uso indiscriminado da força e da violência
nas relações internacionais, tem sido um instrumento considerado
útil para ver suas reivindicações atendidas. O que
leva, por sua vez, ao crescimento incessante da violência para a
resolução de toda e qualquer questão relacionada
às demandas, sejam elas de que natureza forem. Este seria, portanto,
o foco da apresentação nesse evento.
A presença das organizações humanitárias em
paralelo com a presença das forças militares e de segurança
Fernando Nobre Fundação AMI
fundacao_ami@mail.telepac
Antes de finalizar com uma descrição da presença,
muito parca infelizmente!, das organizações humanitárias
portuguesas em paralelo com a presença das forças militares
e de segurança, hoje geralmente no terreno "com objectivos
humanitários", importa fazer uma resenha histórica
sobre essa matéria e uma análise sucinta sobre o desenvolvimento
recente e consequências da presença das forças militares
e de segurança em situações de conflito, precedidas
ou seguidas de situações humanitárias graves. O que
está aqui em causa, que fique claro desde já!, não
é a presença "de per si" das forças militares
e de segurança, que, evidentemente, sempre estiveram presentes
em todos os palcos do conflito. O que é hoje questionável
é a presença dessas mesmas forças quando é
invocada a "razão humanitária" como justificativo
determinante da sua presença, quando não da própria
génese da intervenção militar, como aconteceu recentemente
na Somália, na Bósnia, no Kosovo e até em Timor,
no Afeganistão e no Iraque. É neste novo contexto, que efectivamente,
as forças militares e as instituições humanitárias
em geral acabam por ter que conviver. Se, neste novo contexto, as acções
e verdadeiras motivações dos vários intervenientes
não forem perfeitamente esclarecidas, entendidas e respeitadas
"ab initium" pelos seus promotores, nomeadamente pelos Estados
dominantes e suas forças militares, corre-se o enorme risco de
essas acções serem perversa e perigosamente intrincadas
numa total adulteração de princípios e géneros
com as consequências gravosas, já sentidas na pele pelas
agências humanitárias não governamentais e das Nações
Unidas!, daí decorrentes.
Relações Internacionais: os novos papéis
do Estado no Contexto Regional do Mercosul
Israel Roberto Barnabé (Universidade Federal de São Carlos/UFSCar)
Edmundo Alves de Oliveira (Centro Universitário Araraquara/UNIARA)
edmundoedmundo@yahoo.com.br
Após a década de 70 do século XX o mundo assiste
a um processo de globalização capitalista, uma remodelação
de padrões políticos, econômicos e sociais sem precedentes
na história da humanidade. As sociedades vão aos poucos
aderindo a um "modelo neoliberal" onde a minimização
do Estado e a abertura do mercado parecem ser as características
principais. O desmantelamento da URSS e o conseqüente término
da Guerra Fria que dividia o mundo em dois blocos antagônicos serviram
para acelerar as transformações em curso.
Essas transformações (políticas, econômicas
e sociais) e a complexidade do novo contexto mundial em formação
nas últimas décadas reacenderam as discussões sobre
as relações internacionais, tendo em vista a importância
fundamental que a política adquire num mundo tido hoje como neoliberal.
De fato, o afastamento do Estado de alguns setores da sociedade (uma das
características neoliberais) pode levar-nos a considerar o Mercado
como regulador absoluto das sociedades, em detrimento da política.
Notamos que o panorama mundial contemporâneo atinge a configuração
do Estado Nacional transformando suas funções e delegando-lhe
novos papéis. Entre os estudiosos que analisam a crise do Estado-nação
nos dias atuais, duas linhas diferentes podem ser apontadas.
Num primeiro momento, nos deparamos com autores que defendem a tese de
que o discurso da crise do Estado-nação seria uma ideologia
utilizada pelos "Homens de Estado" para justificar decisões
políticas que, propondo-se necessárias para o desenvolvimento
do país, prejudicam grande parte da população.
A segunda tendência, da qual partilham vários autores, procura
mostrar a gravidade da crise do Estado-nação e, mais do
que isso, aposta no fim do Estado nas próximas décadas.
Segundo essa corrente, tal crise é agravada pelos vários
processos de integração em curso atualmente que, se consolidados,
causariam, em última instância, a supressão dos Estados
Nacionais dos países-membros. Uma das características principais
que embasam tal argumento é a criação de uma moeda
única (pilar da integração) que supriria um dos maiores
símbolos do Estado-nação - a moeda local.
Em nossa opinião, as duas abordagens apresentadas pecam pelos extremos.
Os Estados Nacionais - principalmente dos países menos desenvolvidos
como os da América Latina, por exemplo - enfrentam atualmente graves
problemas, tanto com relação à gestão econômica
e política interna quanto com relação à inserção
dos respectivos países no mercado mundial altamente competitivo.
Neste sentido, deixando de atuar em alguns setores da sociedade e pressionado
por instituições globais, pelo próprio contexto mundial
atual, o Estado, em suas funções tradicionais, apresenta-se
superado e incapaz de gerir as demandas da sociedade.
Por outro lado, apesar desses problemas enfrentados pelo Estado Nacional,
não vislumbramos sua extinção e atentamos para o
papel extremamente importante que este deve assumir nos dias atuais.
Neste contexto, é a importância política do regionalismo
que queremos apresentar em nosso artigo. Ou seja, apesar de também
se constituir como uma tendência da globalização,
o regionalismo (mais especificamente o Mercosul - bloco regional que analisamos)
deve ser pensado como uma possibilidade de fortalecimento político
do Estado Nacional e de uma conseqüente mudança de sua postura
frente às instituições e conglomerados mundiais,
mudando o teor dos acordos selados e preservando os interesses particulares
dos países-membros dentro de um contexto global.
O objetivo de nosso artigo é, portanto, mostrar que o Regionalismo
pode fortalecer os Estados Nacionais dos países-membros e possibilitar
uma inserção mais ativa destes países no competitivo
cenário externo. Em outras palavras, discorremos em defesa do Estado
Nacional e sobre a importância política do regionalismo no
contexto contemporâneo.
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