A Questão
Social, O Sindicalismo e o Serviço Social: Entre o enfrentamento
e a Conformação. O surgimento da "Questão Social" enquanto problema das
sociedades industriais foi, e continua sendo, um tema central para discussão
das ciências sociais mesmo neste século. As particularidades
do problema não o exime de seu caráter generalizante por
afetar não somente as sociedades industriais, mas sobretudo aquelas
que se formaram no entorno destas. O propósito desta discussão
está na reflexão que se faz sobre as suas formas de enfrentamento,
ocasionadas por equívocos ou intenções que visavam
minimamente a atenuação dos impactos da referida temática.
A proposta deste trabalho busca refletir sobre as trajetórias do
movimento de trabalhadores e do Serviço Social enquanto formas
de enfrentamento da "Questão Social" no Brasil. Portanto,
enquanto o sindicalismo surge historicamente na época da expansão
do capitalismo, com a finalidade de mediar os interesses econômicos
e ampliar os direitos políticos da classe trabalhadora, o Serviço
Social aparece como um instrumento de viés eminentemente cristão
utilizado como um amortecedor das lutas de classes. Na trajetória
do movimento sindical é possível visualizar um emaranhado
de perspectivas de atuação da mesma forma que a trajetória
do Serviço Social tem compreendido tanto no campo teórico
quanto no campo pragmático, tendências que vão do
assistencialismo a crítica radical da sociedade capitalista sob
uma ótica marxista. Assim, delinearemos as atuais reflexões
sobre a "Questão Social" e suas metamorfoses, como também
da prática sindical e do Serviço Social na presente conjuntura.
O intercruzamento entre prática sindical e o Serviço Social
se dá, portanto por se apresentarem como estratégias de
enfretamento da politização das desigualdades sociais no
Brasil.
Este texto centra-se nos imperativos sociais, ligados ao mundo do trabalho,
que favorecem a incursão dos sujeitos no uso intensivo de droga
e na dependência. O estudo é parte de uma pesquisa de doutoramento,
que analisa as trajetórias de consumo de álcool, cocaína
e maconha por ex-usuários em tratamento em dois serviços
de recuperação do Brasil: o Programa de Atendimento Integral
ao Alcoolista e outros Dependentes Químicos - PAIAD, em João
Pessoa, e o Instituto Recife de Atenção Integral às
Dependências - RAID, em Recife.
Noção de trabalho e trabalhadores na Amazônia
A heterogeneidade sócio-cultural e ambiental constitui uma das maiores características da região amazônica. A própria organização do trabalho na Amazônia apresenta diversidade que não pode ser compreendida apenas sob a lógica do capital. Existem formas peculiares de ocupabilidade que remontam a culturas tradicionais e que se inserem no âmbito das estratégias de sobrevivência dos povos da floresta. A perspectiva mundos do trabalho parece ser mais adequada para a compreensão das relações de trabalho na planície amazônica. Numa região marcada por uma estrutura de poder conflituosa centrada em oligarquias, cujo poder provém da terra pode-se dizer que não é simplesmente o emprego que está em crise, mas sim o trabalho enquanto direito de usufruto e exploração da terra e de suas riquezas naturais. A centralização do poder local nas mãos de grupos oligárquicos e dos antigos coronéis de barranco compõe um quadro de violência na Amazônia tendo, pois, nas relações de poder os elementos chaves na configuração do trabalho. O papel político que os trabalhadores desempenharam na interlocução com o poder desde o período áureo da economia gomífera até o presente momento, tem sido imperioso para o reconhecimento da cidadania por parte da estrutura de poder. Muitos conflitos entre trabalhadores e patrões ocorreram nos seringais, sendo que poucos podem ser caracterizados como greve. Todas as iniciativas de organização nos seringais eram reprimidas pela política dos coronéis de barranco. Contudo, há vestígios de resistência dos seringueiros que tentavam criar a sua entidade de classe, sempre de caráter efêmero, em função da repressão e morte desses trabalhadores em enfrentamentos com os capangas dos patrões. A organização política dos trabalhadores no Amazonas pós-movimento da Cabanagem (1835 - 1840), pode ser compreendida em quatro momentos historicamente delimitados. O primeiro momento remonta ao período do ouro negro que vai de 1890 a 1911, sendo os dois últimos anos o período do apogeu da borracha no mercado internacional. O segundo momento está circunscrito à organização social dos trabalhadores urbanos, especialmente os estivadores que entram em cena com um enorme movimento grevista em 1899. O terceiro momento está associado à emergência dos sindicatos de categorias de trabalhadores e as associações de profissionais liberais, sobretudo a dos engenheiros, médicos e assistentes sociais. O quarto período está associado à expansão do capital na Amazônia Ocidental, configurado no projeto Zona Franca de Manaus. Esse é o momento de construção da classe operária em todo o Brasil e, no Amazonas, o vigor do movimento de redemocratização do país vem dar forte impulso ao movimento operário local. Este estudo se ocupa do exame da noção de trabalho e trabalhadores na Amazônia dando especial relevo ao movimento sindical local. Realizamos um cotejamento de dados a partir de uma pesquisa bibliográfica para subsidiar os nossos estudos de doutoramento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Os resultados mostram que a resistência dos trabalhadores na Amazônia foi fundamental para a construção da cidadania nesta região.
Em 1867, João Elisário de Carvalho Montenegro, português
natural do município de Lousã (próximo a Coimbra,
na região da Beira Litoral), adquiriu uma fazenda em terras do
atual município de Espírito Santo do Pinhal, no estado de
São Paulo, batizando-a de Nova Lousã. Em plena época
da escravidão e pouco após as primeiras experiências
com o trabalho livre, em regime de parceria, do senador Vergueiro em Ibicaba
(Limeira), Montenegro tocava sua fazenda com famílias de conterrâneos
seus importados do próprio Concelho da Lousã, em Portugal,
para trabalharem como mão de obra livre e assalariada. |
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