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Sindicalismo e sindicatos
docentes no Brasil
Modos de Subjetivação Docente
Vania Biavatti (PUC São Paulo)
Vivemos numa profusão de incertezas, originárias em grande
parte da constatação de que os avanços materiais
da ciência quase invariavelmente, foram acompanhados de uma contrapartida
de degradação, mostrando que as promessas de uso da razão
como caminho incondicional para o bem-estar social e político,
foram equivocadas.
Quer isso tenha materialidade ou seja produto de discursos, no mundo globalizado
se manifesta como crise da humanidade, refletida na constatação
das limitações das instituições modernas em
solucionar problemas atuais.
Uma das instituições - dentre inúmeras outras - atingidas
pela crise da pós-modernidade é o sindicato.
Nesse contexto, a pesquisa que apresentamos incide sobre o sindicalismo
brasileiro, particularmente interessada no sindicalismo docente
Os estudos brasileiros sobre o tema centralizam abordagens em duas vertentes:
uma que reforça o papel sindical de resistência ao poder
do Estado, objetivando reformulações pró-coletivistas;
outra de crítica à desvinculação entre o que
se diz e o que se faz, supondo uma teoria que, imersa num discurso, na
prática não se faz realidade. A primeira ocultando a posição
de manutenção e sustento ao modelo estatal intervencionista
exercido pelos sindicatos, gesta a idéia de que o coletivismo,
especialmente o socialismo - fim último do intervencionismo -,
garante liberdade e bem-estar aos trabalhadores. O equívoco é
de negligência à conspiração intervencionista
nessa luta. Mesmo não sendo defesa dessa pesquisa, constata-se
que a concepção liberal, rechaçada nos meios sindicais,
mostra-se mais próxima de construir possibilidades liberadoras
do que, no caso, o socialismo.
A segundo abordagem, mais comum, enreda-se num círculo vicioso.
Pretende ou reformular a prática sindical culturalmente enraizada
por uma positividade demonstrada, ou construir um arcabouço teórico
que ampare o fazer consolidado.
A adoção de uma política de verdade que toma o pensamento
de Michel Foucault como norte, resulta nessa pesquisa na inversão
da direção geral de análise, entendendo que sindicatos
são máquinas de poder que, para funcionarem, precisam que
as palavras tenham uma dizibilidade e as coisas, uma visibilidade outra
e que isso se repete independentemente do modelo estatal.
Entendendo poder como estratégia, o "problema" para essa
pesquisa está na ignorância de que discurso e prática
se constituem distintamente e invariavelmente operam em separado. Disso
resulta compreender que toda vez que a maquinaria sindical é posta
em funcionamento, em qualquer época, lugar, ou modelo estatal,
é a partir da mesma matriz que se monta e funciona.
Nessa compreensão, a incidência da pesquisa sobre o Estado
de Santa Catarina, sul do Brasil, torna-se metodologicamente justificada.
Transitando na contramão do consenso acadêmico brasileiro
- necessidade de reformulação do modelo estatal ou de construção
de práxis - o que se procura entender é, a partir dessa
microanálise, como discurso e prática vão inscrevendo
verdades que dão sentidos a comportamentos e atitudes, modelando
modos de subjetivação. Não a dominação
que o discurso sindical exerce e que a maquinaria pratica, mas as múltiplas
formas de sujeição que ocorrem nos sindicatos enfocados.
Tais modos de subjetivação são flagrados pela pesquisa,
mas, num reverso quase obrigatório, também as resistências
a essa mesma sujeição.
A atualidade da pesquisa é a sociedade de controle. Sindicatos
são característicos da sociedade disciplinar.
Na intenção de responder como e por que na sociedade de
controle sindicatos docentes são formas associativas majoritárias
entre professores, percebe-se, que para um grande número dos docentes
pesquisados são espaços conhecidos, onde se sabe exatamente
como agir e o que deles esperar. Para a pesquisa, essa familiaridade reporta
aos modos de subjetivação da sociedade disciplinar e se
traduzem num "lugar" de aconchego, o que constitui um nicho
de resistência às subjetividades emergentes da sociedade
de controle. Uma singularidade, pois sindicatos acreditam-se vanguarda
social.
Palavras Chave:
o sindicalismo/sindicato
o intervencionismo/coletivismo
o sociedade controle/sociedade disciplinar
o resistências
o dizibilidade/visibilidade
o modos de subjetivação
Os congressos têm um papel decisivo no moviemntos sindical
brasileiro: estudos sindical no Pará
Eleanor G. S. Palhano (Universidade Federal do Pará)
Os congressos do Sindicato dos Trabalhadores em Educação
Pública no Pará- SINTEPP têm se constituído
como espaço e instrumento de democratização das decisões
a serem tomadas por interesse dos trabalhadores.
Como verificamos, em todos os congressos do SINTEPP questões como
educação, política econômica, política
sindical, soberania nacional e formação, entre outros, foram
teses e temas presentes. O plano de lutas sempre deu a direção
necessária à organização do movimento e dos
congressos, durante a década de 90. Se pensarmos de forma processual,
fazendo um balanço dos últimos 20 anos, posso afirmar que
a categoria acumulou vitórias consideráveis. Conseguiu aprovar
estatutos em todos os municípios - em muitos sua representação
se encontra nos conselhos municipais -, fez-se presente na elaboração
da Constituição Estadual e influenciou inúmeras leis
orgânicas pelos municípios paraenses (...). Considero que
as últimas denúncias de má utilização
dos recursos do FUNDEF demonstram que muita coisa ainda precisa ser feita,
mas mesmo estas denúncias mostram a força fiscalizadora
da categoria. Em governos populares, como o de Belém, a categoria
tem discutido outras questões importantes, tais como extinção
da retenção dos alunos, projeto político-pedagógico
.
Como se vê, as lideranças, atuais e passadas, confirmam o
papel destacado deste sindicato. Porém, é importante assinalar
que a maioria desses acontecimentos - vitórias, programas de lutas
- é registrada e idealizada no interior do espaço coletivo
que é o congresso, órgão máximo de deliberação
da organização sindical. Neles se trava o confronto ideológico
que exige armas intelectuais: conhecimento, informações,
domínio da teoria (...). O duelo ideológico efetua-se numa
arena momentaneamente isolada do resto do mundo e tendo como referência
apenas as fronteiras do próprio congresso.
Dessa forma, tendo esses elementos como marco de compreensão do
sentido dos congressos é que estamos apresentando alguns pontos
para analisarmos no universo da luta do SINTEPP.
Em 9 de outubro de 1989, iniciou o VII Congresso do Sindicato dos Trabalhadores
da Educação Pública do Pará, com um debate
cujo tema era "Eleições Presidenciais e a Amazônia".
Nesse congresso foram debatidos assuntos relacionados: a nova LDB - Lei
de Diretrizes e Bases; A Conjuntura Econômica e Política
Nacional; A Unificação dos Trabalhadores em Educação
e, finalmente, o Plano de Lutas. O centro do debate ficou no campo da
conjuntura política, uma vez que 1989 era um ano de eleição
presidencial e, assim, a militância pedia à direção
do sindicato uma definição político-partidária.
Ou seja, o sindicato teria de especificar para o conjunto de seus membros,
o caminho a ser seguido em relação a essas eleições.
Para equacionar algumas questões internas do congresso, foram definidos
alguns pontos: o SINTEPP não deveria excluir-se do processo eleitoral,
mas participar ativamente dele, possibilitando à categoria esclarecimentos
sobre os interesses, compromissos e acordos que se colocavam nas candidaturas.
Entendiam os delegados presentes que caberia ao SINTEPP oferecer os elementos
necessários para que a categoria tivesse condições
de apoiar uma candidatura progressista e comprometida com mudanças
para a sociedade brasileira. O SINTEPP deu apoio irrestrito à chapa
que tinha como candidatos Luís Inácio Lula da Silva para
presidente e José Paulo Bisol para vice-presidente. Cabe ressaltar
que este Congresso foi importante, na medida em que possibilitou uma discussão
ampla sobre as questões políticas do País. Este Congresso
possibilitou aos participantes construírem relações
políticas mais sólidas com os problemas da Amazônia.
No IX congresso de 1991, os debates centraram-se no tema "Os Desafios
da Educação Brasileira para os Trabalhadores", foram
apresentadas modificações ao regimento, considerando que
o movimento sindical dos professores paraenses já completara oito
anos de criação.
Transição ao trabalho de diplomados do Ensino Superior:
a dicotomia Universidades Politécnicos
Luís Nuno Figueiredo e Sousa (Escola Superior de Educação
de Viseu)
A problemática da Transição ao Trabalho, por parte
dos diplomados do Ensino Superior, tem ganho visibilidade crescente. As
questões do desemprego que atinge agora também os jovens
diplomados, um grupo que até à bem pouco tempo era considerado
imune a este movimento, ganham visibilidade, justificando uma reflexão
cada vez mais efectiva deste fenómeno agora multifacetado e abrangente.
A dicotomia ensino universitário/politécnico, eleva esta
questão a um nível mais profundo, no que respeita às
estruturas e conteúdos destes dois sub-sistemas, o que enquadrado
contemporaneamente na perspectiva de uma Política Educativa Europeia
materializada na. Declaração de Bolonha, briga a uma reflexão
urgente.
Os Quadros na Banca Portuguesa: diagnóstico organizacional,
modelos de liderança e enquadramento sindical - resultados provisórios
de uma investigação
Marinús Pires de Lima - Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa; ISCTE
marinus.pires.lima@isc.ul.pt
Marta Sofia Lino - Instituto de Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa
Marina Kolarova - Instituto de Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa
Ana Guerreiro - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa
Esta comunicação constitui uma síntese provisória
de um estudo encomendado pelo Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos
Bancários (SNQTB) a uma equipa de sociólogos do Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e apresenta algumas
das principais tendências de fundo que têm vindo a marcar
a evolução da actividade bancária e financeira nas
últimas décadas em Portugal.
Essas tendências reflectem-se de forma diferenciada nos sistemas
organizacionais e tecnológicos, nos processos e formas de trabalho,
nos modos de gestão de recursos humanos, no diálogo e participação
social e obrigam à reformulação de estratégias
de desenvolvimento e à redefinição de objectivos
das instituições bancárias.
O presente trabalho contempla quatro dimensões de análise:
o perfil sociográfico dos quadros e técnicos bancários
em Portugal, as representações e as práticas de liderança
no sector financeiro, a atractividade dos serviços prestados pelos
sindicatos e a insegurança profissional.
Neste sentido, os objectivos da investigação são
os seguintes, cada um correspondendo a uma série de variáveis:
a) Caracterização sociográfica do universo de associados:
sexo, idade, habilitações, funções actuais,
categoria profissional de acordo com a convenção colectiva
de trabalho, instituição bancária onde trabalha,
vínculo contratual, tipo de contrato que regula as funções
desempenhadas, número médio de horas de trabalho, frequência
de formação profissional; competências e sua evolução;
reorganização dos postos de trabalho.
b) Caracterização das práticas de liderança
do universo, quer face a superiores, quer face a subordinados hierárquicos:
como é adoptada a decisão, há quanto tempo tem subordinados,
quantos tem; está geograficamente afastado da sua hierarquia -
aqui fazer a distinção entre modelo de liderança
institucionalizado e modelo de liderança de génese individual;
participação na construção do modelo de liderança
institucional.
c) Avaliação pelo universo das práticas gestionárias
actuais dos bancos onde se integra: vantagens e inconvenientes de trabalhar
na banca e naquele banco em particular, objectivos traçados pelo
Banco e meios conferidos para os realizar, apoio da hierarquia, competitividade
entre empresas, choque inter-geracional, despedimentos, facilitação
dos créditos, remuneração, etc.
d) Percepção pelo próprio do "status" que
lhe é conferido na instituição, enquanto meio de
satisfação pessoal e enquanto condicionante da eficácia
organizacional, etc.
e) Papel actual dos sindicatos nas vertentes:
- percepção existente sobre a evolução do
sindicalismo, práticas sindicais e sindicatos por referência
a padrões de concepção sindical assentes na prestação
de serviços e na participação no capital de empresas
e entidades na área social;
- avaliação dos serviços prestados pelo sindicato:
filiação sindical, razões para a mudança eventual
de sindicato, serviços do sindicato mais utilizados, serviços
potencialmente mais úteis
f) Levantamento das expectativas do universo perante os serviços
do sindicato face ao emergir de um novo modelo de protecção
social, assente no partenariado (co-responsabilização) e
na complementaridade, num contexto instrumental de modernidade despido
quase totalmente de constrangimentos ideológicos.
Desta forma, pretendemos apresentar uma sinopse da evolução
da relação com o cliente do banco, discutir a questão
da industrialização e da terciarização. Problematizamos
também a tendência relativa à questão da estruturação
da banca enquanto "indústria de massa", a questão
da introdução de novas tecnologias na banca, e abordar alguns
dos efeitos da nova realidade tecnológica na reformulação
de estratégias e na redefinição de objectivos dos
bancos. Concluí-se com a problemática da gestão flexível
da mão de obra e dos perfis profissionais.
A metodologia utilizada baseia-se nos seguintes elementos: análise
documental, estatísticas, entrevistas semi-directivas a informantes
privilegiados e um inquérito por questionário aos quadros
e técnicos bancários.
Conseqüências Humanas da Mobilidade na Reestruturação
Produtiva do Trabalho em uma instituição bancária
brasileira - 1990-2003
Carmem Ligia Iochins Grisci (PPGA/EA/UFRGS; CNPq)
João Luiz Becker (PPGA/EA/UFRGS; CNPq)
Gilles Chemale Cigerza (EA/UFRGS; IC/CNPq)
Pedro Mendes Hofmeister (EA/UFRGS; IC/FAPERGS)
O trabalho tem-se constituído em inesgotável fonte de estudos.
Atravessado pelas transformações econômicas, sociais
e políticas e suas implicações, experimentou uma
série de reestruturações consolidada na década
de 1990 que, aliada à financeirização da economia,
colaborou para aumentar o número de desempregados e afetou os modos
de trabalhar e de ser dos trabalhadores que permaneceram inseridos no
mercado de trabalho. O trabalho bancário, paradigmático
em relação à reestruturação produtiva,
passou a experimentar mudanças significativas, cada vez mais intensas.
No Brasil, a reestruturação bancária se evidenciou
em duas etapas. A primeira, ocorrida na década de 1980, caracterizou-se
pela redução de custos operacionais, automação,
desenvolvimento e incentivo ao auto-atendimento, entre outros. Das ações
empreendidas pelo governo federal visando ao ajuste da economia, na década
de 1990, resultou a queda da inflação e dos investimentos
financeiros, que foi um dos principais elementos desencadeadores da segunda
etapa da reestruturação bancária ocorrida a partir
da metade da década de 1990. Essa segunda etapa caracterizou-se
pelo desenvolvimento de novos produtos e serviços, segmentação
da clientela conforme o perfil de renda e potencial de consumo dos serviços
e produtos financeiros. Com a intensificação do uso da tecnologia
da informação e de novos modos de gestão da produção
e do trabalho, os bancos empreenderam mudanças que geraram desemprego
e afetaram os trabalhadores em seus modos de trabalhar e de ser. Em uma
centenária instituição bancária pública
brasileira de âmbito nacional, essas mudanças se evidenciaram
na implementação de Programas de Apoio à Demissão
Voluntária e na mobilidade - transferência de lugar e/ou
de cargo - de bancários. Tomando-se esse cenário como ilustrativo
das transformações desencadeadas no mundo do trabalho, realizou-se,
nessa empresa, um estudo de caso de caráter longitudinal. A pesquisa
objetivou mapear e analisar a mobilidade de bancários ocorrida
no período 1990-2003, bem como investigar as conseqüências
humanas dessa reestruturação a partir da visão dos
bancários. Os dados relativos à mobilidade de 44 bancários
foram coletados através de documentos da empresa e de informações
disponibilizadas por dois analistas de recursos humanos. Os dados relativos
à visão dos bancários acerca das conseqüências
humanas foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas
realizadas com alguns desses bancários em dois momentos distintos
da vida institucional, em 1998 quando a reestruturação se
mostrava com maior intensidade na empresa, e em 2003. Os dados quantitativos
foram submetidos a tratamento estatístico com auxílio do
software SPSS 11.5. Os dados qualitativos foram submetidos à análise
de conteúdo à luz do referencial teórico que contou,
em especial, com autores como Bauman e Sennett. Os resultados da pesquisa
indicam que a reestruturação produtiva do trabalho bancário
acarretou intensa mobilidade entre os bancários, sendo que os efeitos
mais perversos recaíram sobre os mais velhos e com mais tempo de
serviço, uma vez que estes descenderam na estrutura hierárquica
da empresa. Na visão desses trabalhadores, os vínculos de
amizade, confiança e solidariedade se fragilizaram com a imposição
e intensificação da mobilidade. A perda de controle sobre
o tempo e o trabalho, mais a aceitação da mobilidade freqüente
para sobreviver dentro da nova lógica de instabilidade organizacional,
levaram também à instabilidade nas relações
pessoais e familiares. Além disso, tornou-se corriqueiro e natural
a automedicação e a indicação de antidepressivos
entre os colegas como auxílio ao enfrentamento das pressões
e do sofrimento no cotidiano do trabalho. Como principais conseqüências
humanas da mobilidade intensificada pela reestruturação
produtiva do trabalho bancário, tem-se a instabilidade na estabilidade
do emprego, o nomadismo involuntário, os relacionamentos de curto
prazo, a ruptura dos laços de confiança e o sofrimento psíquico.
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