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O desemprego prolongado ou permanente
dos jovens adultos
Maria Teresa Vasconcelos e Sá
Faculdade de Arquitectura da UTL
Esta comunicação propõe-se ser uma breve introdução
à análise da questão do trabalho precário/desemprego
dos jovens adultos, enquadrando-a naquilo a que poderíamos chamar
a questão social do século XX, bem como, até nova
ordem, do início do novo século.
Seguindo o pensamento de Robert Castel, hoje em dia há uma nova
questão social marcada pelas situações geralmente
consideradas de exclusão, ainda que o próprio Robert Castel
se mostre crítico desta terminologia. Esta questão passa
pelo estatuto do salariato que actualmente estrutura a nossa formação
social, criando uma nova identidade, em detrimento da pertença
familiar, da inscrição numa comunidade, numa religião,
etc. O que se passa, é que a centralidade do trabalho existente
hoje, é violentamente posta em questão. Para Castel, "o
nó da questão social de hoje, será então,
de novo, a existência de "inúteis no mundo", de
supranumerários, e à volta deles de uma nebulosa de situações
marcadas pela precaridade e a incerteza dos amanhãs que atestam
o regresso em força de uma vunerabilidade de massa" (Les Métamorphoses
de la question sociale). Esta posição leva-nos à
hipótese - hoje apresentada por alguns cientistas sociais - da
dualização da sociedade: de um lado os trabalhadores assalariados,
e do outro os trabalhadores temporários. Como afirmava Hannah Arendt,
temos hoje uma sociedade de trabalhadores sem trabalho, o que, na sua
perspectiva, era o pior dos cenários possíveis.
Vamos centrar-nos na situação dos "jovens adultos no
desemprego prolongado ou premanente", procurando conhecer a maneira
como esses jovens a vivem. Para tal recorreremos às investigações
realizadas no Canadá por Paul Grell e Anne Wery. Os autores partem
do princípio de que o indivíduo sem trabalho está
hoje numa situação diferente da do operário dos anos
60, que lutava por obter um salário melhor; ou do trabalhador dos
anos 70, que procurava melhores condições de trabalho. P.
Greel e A. Wery referem que: "À medida que o trabalho assalariado
vai perdendo o seu valor enquanto fonte de identidade e de satisfação,
o indivíduo é levado a assumir por sua própria conta
as diferentes figuras do espaço e do tempo instituídas pelo
trabalho assalariado" (Héros obscurs de la précarité).
A preocupação dos autores leva-os a analisar as transformações
ocorridas nas "maneiras de viver" cuja causa são as grandes
mudanças económicas ocorridas na sociedade. É como
se, segundo nos diz Ledrut, por entre as grandes mudanças e as
grandes rupturas que têm lugar na sociedade, se produzissem transformações
menos aparentes, mas que nem por isso nos dizem menos directa e profundamente
respeito.
A grande questão abordada pelos autores à volta do problema
do "desemprego prolongado ou permanente dos jovens adultos",
é a de saber, como se pode viver quando deixa de ser possível
ter-se por base da existência um trabalho assalariado estável?
Na sua análise deste objecto, os autores decidem utilizar a "abordagem
das Histórias de Vida".
Este tema levanta uma série de problemas quanto à organização
da sociedade, que passam por perguntas como as seguintes: o que são,
hoje, o "direito" ao trabalho, o "direito" à
segurança social, a relação entre trabalho e sociedade,
a relação entre a economia e os modos de vida, a noção
de indivíduo...? É uma primeira discussão da multiplicidade
de questões que se contêm nestas perguntas que tentaremos
introduzir nesta comunicação.
Desemprego e Crise Social em Luanda: um esboço sobre alguns aspectos referentes a população e o mercado de trabalho
João Baptista LUKOMBO Nzatuzola? (universidade Agostinha Neto Luanda)
Desde a sua independência Angola atravessou uma longa situação
de guerra e as consequências nesta fase de transição
para a consolidação da paz são dramáticas.
Perda de muitas vidas humanas, mutilados (as) famílias separadas,
desaparecidas viúvos (as) crianças abandonadas. Infra-estruturas
danificadas, pontes, estradas, equipamentos e edifícios destruídos.
Lavras , caminhos e outras vias de comunicação minados.
A esta longa lista de prejuízos e perdas deve se acrescentar o
fluxo e a concentração das populações para
a capital e os principais centros urbanos do país; à procura
de segurança, melhor abrigo e meios de sobrevivência. Surgem
assim grandes preocupações quanto a existência de
meios para acolher e acudir estas populacões e responder às
suas necessidades. A maioria sendo jovem e de origem rural, muitos sem
formação ou qualificação profissional requerida.
A presença desta população deslocada nas cidades
levanta sérios problemas de inserção social quanto
ao mercado do emprego. A procura sendo cada vez maior em relação
a oferta de postos de trabalho disponível. O desemprego afecta
assim uma larga faixa etária da população activa
de jovens rapazes e principalmente as mulheres.
A escassez de possibilidade de absorção no mercado de trabalho
formal traduz se pela grande dinâmica que se constata no sector
informal e as suas consequências. Entre estas manifestações
observamos, jovens comerciantes ambulantes, senhoras zungueiras a deambularem
com os produtos de vários tipos ao longo de dia nas ruas. Numerosos
locais, nas esquinas, nas estradas, nos prédios até órgãos
de soberania, mesmo instituições de Estado se transformam
em mercados para venda de qualquer género de bens sem mínimas
condições de higiene nem de saneamento. O comercio retalhista
floresce com uma presença em destaque de boutiques, cantinas, e
armazéns convertidas em lojas. Como estas actividades e as camadas
populacionais nelas afectas são enquadradas no mercado de trabalho?
A que lógica esta actividade obedece quanto ao fenómeno
do desemprego que se vive e de que modo pode ser encarada de alternativa
? Quais são pontos de convergência e de divergência?
Catadores de lixo: uma experiência da modernidade no oeste
paranaense (toledo,1980/1999)
Eugênia Cesconeto - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
cesconeto@unioeste.br / eugeniacesconeto@uol.com.br
Este trabalho pretende detalhar alguns elementos que contribuíram
para o agravamento do problema social, em específico o desemprego
no município de Toledo - Paraná, bem como, as experiências
de reinvenção das formas de trabalho, que de certa forma
coloca nas mãos dos trabalhadores a responsabilidade de sua própria
sobrevivência. Alternativas e soluções até
pouco tempo não reconhecidas ou negadas pelo mercado, hoje qualificadas
como trabalho informal.
Essas alternativas dão seqüência ao trabalho por conta
própria, recriando modos de vida comunitários e estratégias
inovadoras de sobrevivência, essas relações contemporâneas
de trabalho podem estar traduzindo processos sociais recriados e atualizados
que demarcam a exclusão social. A noção de exclusão
social estudada á luz de padrões de reprodução
social, explicita as singularidades do processo de desenvolvimento capitalista
brasileiro.
A experiência dos catadores de material reciclável será
o foco deste trabalho, principalmente, por explicitar códigos normativos
que efetivam a discriminação social na catação
e estabelecem regras de higienização do espaço e
da vida humana.
Ao examinar, em um enfoque histórico-cultural, algumas idéias,
práticas e estratégias de sobrevivência dos catadores
de material reciclável da cidade de Toledo - Paraná, na
história do tempo presente, abrangidos pelo Programa Lixo Útil
/Câmbio Verde.
A experiência em curso do Programa Câmbio Verde, implantado
em 1994, coordenado pela Secretaria Municipal de Ação Social
e Cidadania, tendo por objetivo trocar lixo reciclável por alimentos
(hortifrutigranjeiros), revela que os muitos caminhos pelos quais se tem
feito a modernização no campo incluem também a constituição
do espaço de exclusão social.
Pretende-se assim, desvendar processos sociais pouco conhecidos, revelando
um pouco que seja sobre os modos pelos quais essas pessoas têm sobrevivido,
as hierarquias sociais, o funcionamento das trocas comerciais, o que é
produzido na esfera privada,, os valores que organizam a sociedade local
e a naturalização da pobreza. São todas elas questões
relevantes.
Esse trabalho se ocupa da exclusão social. Muitas das situações
descritas no caso em foco, como de exclusão, representam porém,
as mais variadas formas e sentidos advindos da relação inclusão/exclusão.
Sob esse rótulo estão contidos inúmeros processos
e categorias, uma série de manifestações que aparecem
como fraturas e rupturas (termos utilizados por Castel, 1998) do vinculo
social (pessoas idosas, deficientes, desadaptados, minorias étnicas
ou de cor, desempregados de longa duração, jovens impossibilitados
de acender ao mercado de trabalho, etc.).
No caso dos catadores de material reciclável, estabeleceu-se uma
vinculação direta com o próprio lixo, com o que não
serve mais, com o insalubre, com o sujo, com as epidemias e com a contaminação,
aspectos que ultrapassam os limites espaciais e atingem toda a sociedade.
As diferenças entre pessoas e grupos sociais vão aos poucos
sendo demarcados pelo ideário de higiene. Estão expressas
nos códigos normativos da limpeza, da ordenação e
da classificação dos sujeitos e do espaço no qual
estão inseridos.
A pobreza e miséria se confundem com transvio e marginalidade,
flagelos contra os quais desenvolveu-se um sistema de defesa contra os
pobres, gente à-toa, ociosos e ladrões, todos misturados
numa mesma penumbra. É a existência de desvios múltiplos
com relação à regra que permite a história
trabalhar sobre os deslocamentos, sintomas privilegiados dos movimentos
profundos da sociedade.
As expressões da crise de um sindicalismo em transição
Maria Aparecida da Cruz Bridi
bridi@b.com.br
O conjunto das transformações no mundo do trabalho e as
exigências instauradas pelo paradigma de produção
enxuta correspondem a um novo paradigma de emprego: flexível, precário
e desregulamentado. A metamorfose na esfera do trabalho vem causando múltiplas
crises aos trabalhadores e aos seus sindicatos. Essas crises se evidenciam
de várias maneiras, tanto no plano internacional, quanto no nacional;
de suas expressões, destacam-se: (A) as crises de representatividade
e fragmentação, que decorrem das novas formatações
das indústrias, que desconcentram o trabalhador no espaço
produtivo, tornando mais heterogêneas as condições
no processo de trabalho (embora tais condições nunca tenham
sido realmente homogêneas). Tais crises também são
efeitos da diversificação das formas contratuais (por tempo
determinado, parcial, subcontratado ou terceirizado) em um mesmo espaço
de produção, trazendo dificuldade aos sindicatos para representar
o conjunto dos trabalhadores, já que, originariamente, aqueles
constituíram-se como representantes tão somente dos formalmente
contratados. Dessa forma, os trabalhadores instáveis, informais
e desempregados são mantidos à margem da atuação
sindical. A segmentação e a instabilidade produzida pelo
processo da acumulação flexível parecem fragilizar
a ação coletiva, ao mesmo tempo em que o aparecimento de
um neocorporativismo fragmenta a perspectiva de classe. Além disso,
os sindicatos ficam cada vez mais distanciados da prática dos trabalhadores
no chão de fábrica; (B) uma crise de identidade gerada pela
pulverização da classe trabalhadora. A polivalência,
ou multifuncionalidade, no contexto da reestruturação das
empresas, resulta no esvaimento do sentimento de pertença a uma
categoria; a heterogeneidade dos contratos de trabalho atinge a construção
de identidade dos trabalhadores, pois estes vivem um processo de descontinuidade
permanente; (C) crises de identidade institucional e de legitimação:
a "nova" configuração do mercado de trabalho e
da classe trabalhadora torna ultrapassados objetivos tradicionais dos
sindicatos. Exige-se, assim, o redimensionamento de práticas e
ações frente às mudanças estruturais no interior
do trabalho. Por outro lado, os sindicatos perdem força na confrontação
com um Estado mais hostil à organização classista,
(Estado Neoliberal), que tende para o desmonte do quadro regulatório
que apara os trabalhadores no plano institucional/legal; (D) por fim,
pode-se falar de uma crise da relação salarial; as transformações
da relação salarial em curso ameaçam desintegrar
os vínculos sociais que possibilitam a reprodução
social. Os suportes que permitem integração social - forjada
historicamente pela luta da classe trabalhadora e seus sindicatos - vêm
sendo corroídos pela políticas de flexibilização,
leia-se "desregulamentação" do mundo do trabalho.
A crise da relação salarial passa pela desmontagem do princípio
do direito do trabalho, que reduziu a disparidade entre capital e trabalho
no mercado. Esse conjunto de elementos expostos tem como efeito o enfraquecimento
do sindicato, seja pela queda do militantismo, seja pela redução
de suas bases ou pela dificuldade de mobilização, ou ainda
pela debilidade política de reação efetiva contra
o desmonte da sociedade salarial e às ofensivas do novo regime
de acumulação flexível. Ao abordar a situação
do sindicalismo no presente, como crise (e não declínio
ou fim) implica a compreensão de que o sindicalismo se encontra
em processo de mudança nas suas formas de ação. Ele
está diante de múltiplos caminhos que já começou
a trilhar. Porém, o caráter próprio das alterações
no momento impossibilita a realização de generalizações
definitivas. O desafio consiste na tentativa de captar a dinâmica
da transição de um todo ainda indeterminado. Essas alterações
não parecem ter a mesma extensão, forma, conteúdo
e significado nos vários espaços: global, nacional ou local.
A crise na instituição sindicato encontra suas causas na
crise do trabalho, nas transformações econômicas,
políticas e tecnológicas, que também expressam múltiplas
crises no interior da sociedade capitalista, cujo resultado mais palpável
se verifica na atual insegurança sócio-econômica da
classe trabalhadora.
Trabalho digno e democracia
Florival Lança (CGTP-Intersindical)
Horário de Trabalho
· Instrumento estrutural dos mecanismos de exploração
do capital face ao trabalho
· Factor potenciador de cidadania a diversos níveis
· Um tempo de trabalho mais reduzido e equilibrado permite um
aumento do lazer e a conciliação entre vida de trabalho
e vida familiar
Salário justo
· Trabalho digno e devidamente remunerado como um direito universal
· Instrumento essencial para melhorar o nível de vida dos
trabalhadores e suas famílias
· Elemento essencial de uma maior e mais justa repartição
do rendimento entre trabalho e capital
· Factor de integração e progresso social
Greve
· Seu exercício como factor de equilíbrio na relação
de forças na empresa e na sociedade
· O papel dos Serviços Mínimos na sua descaracterização
Responsabilidade Social das Empresas: obrigações, vontades
e diálogos
· Trabalhadores, consumidores, fornecedores, comunidades locais
e ambiente
· A negociação colectiva
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