O estado da arte em S. Tomé
e Príncipe: À independência de S. Tomé e Príncipe sucedeu-se
a imediata desmontagem do saber colonial. Todavia, a este saber, ao tempo
considerado ideologizado e instrumental, sucedeu-se um outro igualmente
redutor e vincadamente ideologizado. No tocante à produção
de são-tomenses, só recentemente se tornou mais frequente
o aparecimento de dissertações onde é patente um
certo distanciamento relativamente a mitos do ideário anti-colonial.
Educação/Formação/Investigação
em São Tomé e Príncipe. Será uma aposta do
país no caminho para o desenvolvimento? A Educação/formação são hoje elementos
integrantes e condicionantes dos processo de desenvolvimento. Mas o sistema
educativo de São Tomé e Príncipe durante todo o período
da II República não esteve vocacionado para esses novos
desafios que o mundo globalizado enfrenta. Apesar do primeiro (Educação Geral) apresentar como componentes
essenciais os ensinos pré-escolar, primário, secundário
básico, o ensino pré-universitário e o ensino vocacional,
o investimento efectivo foi reduzido. Na prática, um conjunto de
condicionantes, nomeadamente a assinatura do Programa de Ajustamento Estrutural,
não permitiriam imprimir ao sistema a dinamização
e a qualidade necessárias. Neste aspecto, a análise do sub-sistema
seguinte, permite determinar a grande incongruência da política
de ensino. O encerramento, em 1989/90, da escola de formação
de professores do ensino básico (Escola de Formação
e Superação de Quadros Docentes) fez entrar o país
numa década de completo vazio na área de formação
de professores daquele nível.
Existe um consenso geral, mesmo assim polêmico, de que com inicio
do colonialismo europeu no século XV, se começa não
só a experiência de organização colonial do
mundo como - simultaneamente - a tentativa de constituição
colonial dos saberes, das linguagens, das memórias e do imaginário.
Dá-se inicio ao grande processo que culminará nos séculos
XVIII e XIX na qual, pela primeira vez, se organiza a totalidade do espaço
e tempo - todas as culturas, povos e territórios do planeta, presentes
e passados - referencialmente numa grande narrativa universal. Nesta a
Europa é - ou foi sempre - simultaneamente o centro geográfico
e o culminar do movimento temporal.
Navegando pela lógica do pensar através do recurso
pedagógico da problematização Este estudo fundamenta-se no entendimento de que ao professor cabe não apenas informação acerca do saber já sistematizado pela humanidade, mas, sobretudo, a tarefa de discutir esse conhecimento com o aluno; de assessorá-lo na identificação da lógica de pensamento presente nos diversos pensadores e autores estudados; de, conseqüentemente, fortalecê-lo no processo de construção de sua própria autonomia. E a partir do entendimento da importância do professor reconhecer que é necessário elidir, de seu universo, a pretensão de ser professor da verdade, o estudo sobre o uso do recurso pedagógico da problematização na discussão epistemológica tornou-se um desafio, no sentido de ajudar os alunos na construção de caminhos em busca do conhecimento, onde verdade é conceito sempre testado no movimento da realidade. Fundamentando-se na consideração do potencial do aluno no processo de conhecimento, esse recurso nem por isso dispensa o saber já sistematizado pela humanidade, como ponto de partida, nem confunde autonomia do aluno com negação da necessidade do professor. Pelo contrário, entende o trabalho do professor com um constante enfrentamento de desafios, uma eterna superação de limites. Nessa concepção de ensino, o professor poderá ser assessorado pela técnica, mas, sem dúvida, nunca substituído pela técnica. Assim, o recurso pedagógico da problematização foi utilizado por esta pesquisadora, em experiência singular, para introduzir alunos, de diferentes áreas do conhecimento, no tema epistemologia, em cursos de graduação, especialização e mestrado. A partir do desafio para "falarem" sobre objetos diversos que lhes foram submetidos, os alunos trouxeram questões relacionadas à problematização da realidade, à influência da visão de mundo nesse processo, à influência das experiências de vida do cientista-cidadão na motivação científica, à relação conhecimento científico-senso comum, à relação entre verdade absoluta e verdade relativa, aos procedimentos de descrição, explicação, interpretação, compreensão na leitura da realidade. Também às possibilidades de um objeto ser abordado pelo pesquisador quanto a sua estrutura física, sua funcionalidade, seu simbolismo, estando cada tipo de abordagem em parte condicionado pelo significado que o objeto possa ter para o sujeito cognoscente; à distinção entre aparência e essência, à diferença entre considerar o empírico e restringir-se ao empirismo; à relação entre ciência e tecnologia, entre produção/comunicação do conhecimento e os sujeitos consumidores do mesmo; à concepção de conhecimento como processo; à relatividade e à historicidade dos conceitos; à relação entre real e virtual; à importância das trocas intersubjetivas e da interdisciplinaridade no processo de conhecer. Além disso, identificou-se que o uso oportuno e apropriado de uma técnica pode resgatar (ou despertar, ou melhorar) a auto-estima no estudioso e propiciar-lhe oportunidade de desvelamento de sua própria potencialidade, bem como a importância de: o aluno despertar para a existência de multiplicidade de perspectivas frente a um mesmo objeto; aprender a dar-se conta do arsenal de conhecimentos científicos que ele vai naturalmente incorporando e que aciona ou pode acionar espontaneamente ao defrontar-se com o estudo da realidade. Também de entender-se a diferença entre reconhecer a existência da diversidade de olhares sobre um mesmo objeto e a preocupação com os determinantes dessas diferenças; de o professor libertar-se de parâmetros rígidos para análise da qualidade do desempenho do aluno.A problematização é, sem dúvida, válida como recurso pedagógico, mas seu uso é muito mais do que valer-se de uma técnica de ensino; requer uma visão de mundo compatível com seus fundamentos. A potencialidade maior do emprego do recurso para tratamento do tema epistemologia está na amplitude das decodificações possíveis para a expressão "fala", que pode conter, basicamente, procedimentos de "descrição", "compreensão", "explicação", bem como possibilita que o sujeito aborde o objeto sob perspectivas as mais diversas.
A licenciatura de Ciências Sociais não tem sido objeto de
muita reflexão pelos sociólogos, nem tão pouco a
educação e suas variadas e densas dimensões sociais,
manifestas especialmente na escola, na intensidade que esta demanda social
exige. Por outro lado, as Ciências Sociais pode de deve contribuir
para o enfrentamento desse problema social, não só porque
apresenta uma trajetória teórica que lhe permite uma análise
sociológica da questão, mas principalmente porque a sua
presença no cotidiano escolar pode, de fato, contribuir para a
superação de muitos entraves. Porém essa problemática
não se desvincula da atual conjuntura internacional da educação.
Um dos grandes desafios da educação é a formação
do educador. Essa questão se apresenta não só em
nível da formação inicial dos educadores, mas também
na sua formação continuada. A política de formação
implementada pelo governo brasileiro pauta-se, atualmente, no aligeiramento
e na desqualificação da formação dos professores,
em consonância com as diretrizes gerais de organismos internacionais
como Banco Mundial, ALCA, OMC, que visam ao sucateamento e privatização
dos serviços públicos, em especial, a educação.
Na contramão dessa política existe uma experiência
educacional na UNESP conhecida como Núcleo de Ensino. Criados a
partir de 1987, os Núcleos de Ensino buscaram construir uma nova
relação Universidade/Sociedade, por meio de estratégia
de ação junto à comunidade local ou regional, onde
houvesse câmpus da UNESP. Essa ação se concretizou
mediante assessorias aos municípios e trabalho sistemático
junto à Rede Pública Estadual de Ensino. Docentes e alunos
da UNESP, juntamente com docentes e especialistas da Rede Pública
de Ensino, trabalham em parceria de projetos. O Núcleo de Ensino
tem aglutinado, no mesmo espaço, os professores em seus diversos
níveis de formação: os graduandos (em formação
inicial), os professores da Rede (formação continuada) e
os professores universitários (formadores dos futuros professores).
Esse encontro propiciou mudanças significativas na prática
social desses agentes sociais, pois a base do trabalho concentra-se na
articulação entre o ensino, pesquisa e extensão.
A oportunidade de confrontar o cotidiano escolar - expresso pelos professores
da Rede - com as teorias - trabalhadas pelos professores e alunos da UNESP
- deu origem a uma reflexão de qualidade diferenciada. Partia-se
da prática pedagógica do docente da Rede e, a partir de
sua problematização, buscavam-se possíveis respostas,
através de processo investigativo conduzido, coletivamente, pelo
Núcleo de Ensino. Esse trabalho já apresenta resultados
expressivos: produção de pesquisa educacional decorrente
de projetos do Núcleo de Ensino realizada por seus participantes
- estudantes e professores da UNESP, professores da Rede pública,
que ingressaram na pós-graduação estimulados pela
experiência -; melhor articulação das disciplinas
pedagógicas e do estágio supervisionado, especialmente Didática
e Prática de Ensino, com a realidade escolar e, conseqüentemente,
uma formação mais consistente do futuro professor; produção
de material pedagógico de apoio nas diversas áreas do conhecimento;
formação continuada de qualidade dos professores da Rede,
alguns deles ingressantes ao quadro docente da UNESP. Assim, a licenciatura
de Ciências Sociais, em parceria com o Núcleo de Ensino da
UNESP vem investigando problemáticas na escola que extrapolam a
prática pedagógica, entre elas, a crise de identidade da
escola. Diante desse contexto, os licenciados de Ciências Sociais
têm desenvolvido uma formação que atenta para o papel
fundamental das as ciências humanas no resgate da identidade da
instituição escolar, passando por um amplo processo de reflexão
e transformação de seus agentes, isto é, alunos,
professores, funcionários e a comunidade local. Isso implica uma
nova perspectiva de atuação da universidade, trazendo para
si a necessidade de redefinir o seu trabalho acadêmico, principalmente
no que se refere à formação de professores e pesquisa
educacional. |
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