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O desenvolvimento/subdesenvolvimento
e o bem-estar/pobreza na Áfiica Subsaariana: alternativas de metodologias
de medida e de avaliação- o caso de Bissau, GuinéBissau,
Carlos Eduardo Machado Sangreman Proença (Universidade de
Aveiro)
O conceito de "bem-estar" tem uma relação com
o conceito de "desenvolvimento" em especial com o de "desenvolvimento
humano". Há uma evolução do conceito de desenvolvimento
nwna maior consideração pelas possibilidades de opções
individuais, ou seja da possibilidade de definir preferências sobre
um conjunto de bens e serviços de características económicas
mas também sociais e simbólicas.
É nessa evolução que nos parece haver uma aproximação
no espaço de definição colectivo e individual dos
dois conceitos: desenvolvimento e bem estar. O desenvolvimento evoluí
para uma noção dinàmica, de um processo, um movimento
social. O bem estar tende a descrever uma situação de satisfação
individual mas também colectiva resultante desse mesmo processo
de desenvolvimento.
O desenvolvimento é o movimento, a dinâuúca., enquanto
o bem estar é o momento, a situação estática.
Partindo dessa hipótese de aproximação dos dois conceitos
procurou-se uma aplicação empírica num pais africano
- definir o padrão de bem-estar e desenvolvimento da sua população
ao nivel familiar, e ensaiar uma metodologia de avaliação
da evolução temporal dos níveis de bem estar considerando
dois tipos de indicadores: um mais próximo dos índices de
Foster com a variável consumo como variável de síntese,
e outro, um indicador composto inspirado no Índice de Desenvolvimento
Humano do PNUD, mas modificado de forma a poder ser calculado ao nível
da família. Na comparação dos resultados procura-se
uma complementaridade de análise da evolução das
famílias no seu contexto social, económico e cultural com
uma metodologia transferível para outros países e situações
sociais.
Considerações sobre a importância do conceito
de "qualidade de vida" para a construção e uso
de indicadores sociais de desenvolvimento na formulação
e análise de políticas públicas
Eliane Maria Monteiro da Fonte (Universidade Federal de Pernambuco.
Recife - PE
elianefonte@yahoo.com.br
Este artigo tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o uso de
indicadores sociais de desenvolvimento no campo da formulação
e avaliação de políticas públicas. Se para
a pesquisa acadêmica o indicador social é o elo entre os
modelos explicativos da teoria social e a evidencia empírica dos
fenômenos sociais observados, em uma perspectiva pragmática,
o indicador social é um instrumento operacional para monitoramento
da realidade social, para fins de formulação e reformulação
de políticas públicas. Neste caso os indicadores sociais
tanto podem servir como informação básica para a
construção de diagnósticos sobre a realidade social,
dirigindo o desenho das políticas e programas, quanto como instrumento
de medida da eficiência, eficácia e impactos das políticas
públicas.
O conhecimento do significado, dos limites e potencialidades dos indicadores
sociais pode ser de grande utilidade para os diversos agentes e instituições
envolvidas na definição das prioridades sociais e na alocação
de recursos do orçamento público. Os indicadores podem enriquecer
a interpretação empírica da realidade social e orientar
de forma mais competente a análise, formulação e
implementação de políticas sociais. Entretanto, algumas
práticas recorrentes parecem indicar que a sofisticação
da técnica e a busca por sintetização de medidas
de conceitos abstratos complexos, como desenvolvimento humano, condições
de vida e qualidade de vida, parecem estar colocando em segundo plano
a profundidade do diagnóstico da realidade social e do processo
de formulação de políticas públicas. Embora
definidos de forma abrangente, os conceitos são operacionalmente
banalizados, como se os indicadores e índices criados fossem a
expressão exata, mais válida ou ideal dos conceitos indicados.
Assim, a avaliação da melhoria das condições
de vida ou desenvolvimento humano em países, regiões ou
municípios reduz-se a uma apreciação da variação
do indicador construído. A reificação da medida em
detrimento do conceito reforça a tendência de encará-la
como isenta de valores ideológicos e políticos.
A qualidade de vida é o tema - dentro do debate sobre indicadores
sociais - sobre o qual mais se tem publicado recentemente. Tomando como
fonte o Ìndice de Desenvolvimento Humano (IDH), produzido e divulgado
sob os auspícios da Organização das Nações
Unidas (ONU), proliferam na mídia resultados de pesquisas em que
se estabelecem rankings, diferenciando países, estados e municípios.
O IDH foi criado com a intenção de deslocar o debate sobre
o desenvolvimento dos aspectos puramente econômicos (nível
de renda, produto interno bruto, nível de emprego, etc.) para aspectos
de natureza social, aqui entendido principalmente qualidade de vida.
O problema que se coloca para o IDH, diz respeito à possibilidade
de se estabelecerem padrões mínimos universais de qualidade
de vida, válidos para todos os países e culturas. Para estabelecer
o conteúdo da idéia de qualidade de vida, o IDH baseia-se
na noção de capacidades, ou seja, tudo aquilo que uma pessoa
está apta a realizar ou fazer. O desenvolvimento humano teria como
significado mais amplo, não apenas a expansão da riqueza,
mas da capacidade das pessoas serem responsáveis por atividades
e estados mais valiosos e valorizados. Além da renda, o IDH incorpora,
como medida de desenvolvimento, os níveis de saúde e educação,
por considerar que tratá-se de estados ou habilidades que permitem
uma expansão das capacidades. Ou, inversamente, que a limitação
da saúde e da educação colocam-se como obstáculos
à plena realização das potencialidades humanas.
Todavia, se questiona a relevância destes indicadores para aferir
qualidade de vida, considerando-se as diferenças culturais, pois
revelam um viés etnocêntrico que toma padrões ocidentais
modernos como modelos a serem atingidos por todas as nações.
Em sociedades de baixo grau de institucionalização das relações
mercantis, a renda é um critério pouco efetivo para avaliar
a produção e a circulação de bens e mercadorias.
Assim como existem sociedades em que o acesso ao conhecimento se dá
a partir de meios ligados à tradição ou a transmissão
oral, mais eficazes para lidar com as realidades locais do que a alfabetização.
A qualidade de vida é um conceito que também pode ser discutido
a partir da percepção que os sujeitos constroem do seu viver
cotidiano no meio no qual estão inseridos. Tomando como ponto de
partida a discussão do conceito de "qualidade de vida",
procura-se neste artigo oferecer alguns subsídios para a definição
de um marco teórico-metodológico para a construção
e utilização de indicadores sociais de desenvolvimento na
formulação e avaliação de políticas
públicas.
Dimensão subjectiva de pobreza na cidade de Luanda
Paulo de Carvalho - Universidade Agostinho Neto
Depois de apresentar elementos a respeito da forma de cálculo
de índices de pobreza em Angola e de apresentar dados relacionados
com a dimensão objectiva de pobreza, o autor tratará de
apresentar os resultados da pesquisa quantitativa que realizou na cidade
de Luanda, em Novembro de 2003, a respeito da percepção
subjectiva de pobreza. Foram a este respeito inquiridos 600 habitantes
da cidade de Luanda, com idade a partir dos 15 anos.
A dimensão subjectiva de pobreza diz-nos que pobres são
aquelas pessoas que se consideram pobres. Trata-se de uma dimensão
de pobreza que raramente é objecto de análise quantitativa.
A principal intenção do autor foi verificar se existe discrepância
entre os valores de pobreza nas dimensões objectiva e subjectiva.
Os dados objectivos de pobreza relativa (de 1995) apontam para 59,5% de
pobres na cidade de Luanda (9,5% dos quais, em situação
de pobreza extrema), enquanto os dados obtidos nesta pesquisa indicam
que somente 38,9% dos habitantes adultos de Luanda se consideram pobres
(9,7% dos quais, extremamente pobres).
A comunicação apresenta os factores que determinam o enquadramento
subjectivo no grupo de pobres. Por outro lado, apresenta a correlação
existente entre a pobreza individual e aquilo que os respondentes consideram
ser a dimensão objectiva de pobreza no próprio agregado
familiar, concluindo haver a tendência para os dados que se pretendem
objectivos apontarem para índices de pobreza superiores à
percepção subjectiva. O autor explica esta tendência
a partir da pauperização das classes médias, em curso
em Angola desde há duas décadas.
Uma outra conclusão a que o estudo permite chegar dá conta
de que quanto mais pobre a pessoa se considera, maior é a probabilidade
de admitir que a maioria dos angolanos vive abaixo da linha de pobreza.
Finalmente, o autor descreve os grupos que os habitantes de Luanda consideram
mais vulneráveis à pobreza em Angola (as crianças
de rua, deficientes físicos, deslocados de guerra e desempregados)
e apresenta a percepção acerca da forma como se considera
que os pobres são tratados, na cidade de Luanda.
Dinâmica de Rendimentos e Persistência da Pobreza
em Portugal
Leonor Vasconcelos Ferreira
Faculdade de Economia da Universidade do Porto e CEMAPRE/ISEG
leonorvf@fep.up.pt
Este trabalho pretende investigar os principais aspectos da dinâmica
de rendimentos e da persistência de situações de pobreza
em Portugal. Através da análise da distribuição
de rendimentos num painel representativo de famílias portuguesas
procura-se compreender o padrão de mobilidade prevalecente em Portugal
bem como qualificar e quantificar a dimensão de persistência
da pobreza. Seguidamente tentamos identificar os principais factores subjacentes
às dinâmicas de rendimentos, da desigualdade e da pobreza
e, em particular, os factores específicos associados à persistência
de baixos rendimentos e respectivas implicações para a condução
de algumas políticas sociais.
O estudo utiliza primariamente a informação microeconómica
do Painel dos Agregados
Familiares da União Europeia (ECHP) respeitante a Portugal, no
período de 1994 a 1997, complementando a análise com recurso
a fontes secundárias de informação referentes a Portugal
e aos demais países da UE de modo a contextualizar a situação
portuguesa no panorama europeu. O texto desenvolve e aplica diversas medidas
de mobilidade e inércia da distribuição de rendimentos
que se espera estender, em breve, às vagas mais recentes do Painel.
O desafio da equidade perante o projeto neoliberal
Patrícia Barreto Cavalcanti (Universidade Federal da Paraíba)
Ana Virgínia Bezerra da Costa (Universidade Federal da Paraíba)
virginia-bezerra@bol.com.br
Moises Diogo de Lima (Universidade Federal da Paraíba)
moses@openline.com.br
Elisângela Rodrigues Tavares (Universidade Federal da Paraíba):
A saúde no Brasil sempre foi um tema polêmico para ser abordado
em função de sua complexidade e significância no seio
da sociedade. Associa-se a estes fatores o fato de possuirmos dimensões
continentais e uma das maiores populações do globo, nitidamente
heterogêneas em seus constituintes. A empolgante transformação
social, econômica , política e cultural que assolou o país
entre a década de 80 - 90 , submetendo-o a uma abertura política,
fez renascer os anseios de democracia, onde, debates, propostas e discussões,
permitiram a construção de novos projetos éticos
e políticos. Entre eles a saúde assume importância
capital. Foi no passo de movimentos sociais de grande repercussão,
fundamentalmente nascidos das representações populares,
que profundas reflexões surgiram, e , chocaram-se frontalmente
contra as , também emergentes, políticas de reforma do Estado,
de caráter claramente neo-liberal. Vale assinalar que este contra-ponto,
que em poucos momentos da historiografia brasileira pôde ser visto
como uma autêntica manifestação dos segmentos da sociedade,
onde, movimentos sociais populares e uma seleta casta de técnicos
em saúde, conduziram a assistência médica nacional
a um plano de aprofundamento filosófico e aplicação
prática, com reformas profundas que culminaram com o surgimento
de uma agenda social que se sobrepôs aos interesses das elites liberais.
O Sistema Único de Saúde ( SUS ). E este, então,
pode ser considerado como um modelo de revolução e amadurecimento
político. Pela sua complexidade nos deteremos ao plano da equidade.
De como poderemos atingir, senão por completo o mais próximo
disto, a igualdade de oportunidades no setor saúde. Busca-se conhecer
se há a existência de uma efetiva articulação
entre os direitos constitucionais, adquiridos na Constituição
de 1988 , e os entraves proporcionados pelas restrições
à seguridade social no Brasil. E , se de fato, os avanços
em equidade dentro do SUS estão postos à população.
Os objetivos a serem alcançados, neste presente estudo"são
o de reconhecer como, a partir de uma formulação lógica,
pode-se atingir a universalidade e inter-setorialidade das ações
em saúde na óptica da equidade. Estabelecendo de forma concreta
critérios para entender, imersos na
assistência médica hoje disposta, seja no plano da atenção
básica, secundária ou terciária , em quê buscamos
igualdade? e para quem a buscamos? Se a teremos a partir de uma política
universal. o quê para alguns estudiosos parece impossível,
ou se chegaremos a ela através de políticas focalizadas
em cima de categorias como de gênero ou etnia , por exemplo.
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