A percepção do tempo no deficiente
visual Neste trabalho pretendeu-se descobrir qual a percepção do tempo para um grupo de estudo constituído por dezoito (18) indivíduos de ambos os sexos, sendo treze (13) cegos e cinco (5) amblíopes. Entre todos, sete (7) tem deficiência visual congénita e onze (11) deficiência visual adquirida. As idades estão compreendidas entre os vinte e os quarenta e sete anos. O local de realização do estudo foi na Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) e decorreu no mês de Dezembro de 1999. Desta maneira, para tentarmos perceber qual o sentido do tempo para esta população, partimos dos seus testemunhos realizando entrevistas de cariz semidirectivo, sendo a metodologia utilizada para a sua descodificação a análise de conteúdo baseada em Bardin (1994). Concluímos no trabalho que percepcionam o tempo como sendo um tempo sério, considerando que existe uma forte relação do mesmo com actividades do quotidiano. Quando atribuem ao tempo um carácter menos sério, fica espelhada a noção que ele se assume como um prémio que lhes é oferecido de modo a ser utilizado segundo os seus interesses, sendo através dele que o ser humano se descobre e se revela.
Pessoas Portadoras de Deficiências: formas de organização
e políticas públicas Abordagem sobre o segmento criança e adolescente, como pessoas portadoras de deficiência, destacando fundamentos para a sua compreensão como sujeitos de direitos. Contempla dimensões organizadas em eixos complementares: as formas de organização da sociedade civil para a inclusão social e os dispositivos legais para a garantia dos direitos; a política de educação voltada o segmento, enfatizando as formas e estratégias de atendimento especializado; a política de saúde, destacando as ações de prevenção e tratamento das deficiências; e as condições sociais das famílias, evidenciando as dificuldades e os cuidados especiais nas relações sócio-familiares e a interlocução com as políticas de saúde e educação no município de São Luís - Maranhão - Brasil. Entende-se que a cultura de segregação e exclusão social, principalmente de segmentos vulnerabilizados, como as pessoas portadoras de deficiência, em um país marcado pelas desigualdades sociais, exige a construção de uma sociedade inclusiva, onde possa haver respeito às diferenças, acolhimento à diversidade humana e equidade de oportunidades. O reconhecimento das diferenças e, especialmente, nesse caso, das pessoas portadoras de deficiência no Brasil se constituem desafios para os movimentos organizados da sociedade devido a vários fatores que vão desde a situação de fome e pobreza às políticas públicas formuladas para esse segmento, à (des) responsabilização do Estado e o desmonte do já limitado sistema de proteção social, assim como a despolitização da questão social, deslocando a temática dos direitos sociais para o plano da filantropia, solidariedade e voluntariado. A realidade tem demonstrado que, apesar da legislação internacional, reconhecida oficialmente no país e regulamentada seja a nível federal, estadual e municipal os direitos humanos das pessoas portadoras de deficiência, (criança e adolescente), ainda deixam a desejar. Nessa ambivalência, o Estado brasileiro tem dedicado uma reduzida atenção às políticas sociais, o que é constatado nas políticas de Assistência Social, Saúde e Educação. Assim é que das crianças e adolescentes das famílias pesquisadas 91% não recebem o Benefício de Prestação Continuada, sendo comum às crianças tanto da rede estadual, quanto municipal. Essa realidade preocupa por estarem essas famílias em situação sócio-econômica de vulnerabilidade social. Com relação à educação especial, pode-se afirmar de acordo com os postulados da Declaração de Salamanca e os dispositivos da legislação brasileira, nas escolas pesquisadas, que a inclusão ainda se configura como uma meta a ser alcançada. A política de saúde também apresenta algumas limitações como o fato de, nas maternidades e hospitais, não existirem ações específicas voltadas para crianças e adolescentes com deficiência. O perfil das famílias de crianças e adolescentes portadores de deficiência, a partir dos dados coletados nas entrevistas realizadas, mostra que as famílias situam-se em um nível significativo de pobreza. Nas famílias das crianças e adolescentes que estudam na rede municipal 57,9% das mães que trabalham, têm renda inferior a um salário mínimo. A maioria dos pais que tem trabalho remunerado recebe menos de um e até um salário mínimo e, somando, perfazem um total de 70% dos pais. No caso da constituição e representatividade nos fóruns e conselhos das pessoas portadoras de deficiência é destacada, na pesquisa, a reduzida participação desse segmento.
Assistência e inclusão social das pessoas portadoras
de deficiência: a complexidade da questão De acordo com estimativas da Organização das nações Unidas (ONU), 10% da população do globo é composta por pessoas portadoras de deficiência. Segundo o Censo de 2000, o percentual correspondente ao Brasil supera esta estimativa: 14,5% da população brasileira portam algum tipo de deficiência. A Paraíba lidera o ranking dos Estados brasileiros com maior número de pessoas portadoras de deficiência, são 18,76% de sua população. Entretanto, uma ínfima parcela deste total, em torno de 3%, consegue acessar e/ou permanecer nos serviços institucionais especializados. Se por um lado, grande parcela não tem poder de consumo para usufruir dos bens e serviços sociais privados, por outro, encontram diversos fatores que intervém no seu acesso e/ou permanência nos serviços institucionais da esfera pública governamental. Face a essa questão, formulou-se o objeto desta pesquisa: identificar e analisar os fatores presentes na realidade cotidiana das pessoas portadoras de deficiência, que interferem no acesso/permanência dos serviços institucionais e habilitação/reabilitação da rede pública. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa. Desenvolveu-se junto a uma amostra representativa das famílias das pessoas portadoras de deficiência usuárias da Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (FUNAD), instituição da esfera governamental localizada na cidade de João Pessoa/PB. Na fase de coleta e análise dos dados empíricos, recorreu-se à formulários, questionários, entrevistas, observações, tabelas, gráficos, análises de conteúdo e teórica. Conforme os resultados finais, 81,3% dos entrevistados apontaram dificuldades para manter o familiar usuário nos serviços institucionais de habilitação/reabilitação: destes, 56,3% atribuíram a falta de condições econômicas para custear o deslocamento até a instituição. Diante das dificuldades enfrentadas na vida cotidiana dessas famílias, 12,5% quase desistiram e 12,5% chegaram a desistir desses serviços. A aquisição da gratuidade nos transportes públicos constitui um direito previsto em lei, que assiste às pessoas portadoras de deficiência, contudo, esse direito encontra uma série de restrições e entraves burocráticos para a sua efetivação. Isto se comprova no fato de 37,5% dos usuários não terem acesso ao passe livre. Indubitavelmente, os fatores intervenientes no acesso e/ou permanência das pessoas portadoras de deficiência nos serviços institucionais, quando não levam a desistência, interferem na freqüência. Isto representa um entrave para o lento, complexo e contínuo processo de habilitação/reabilitação, que requer o máximo de estímulo e assiduidade e, por conseguinte, para a inclusão social e para o resgate da cidadania da pessoa portadora de deficiência, reforçando o traço histórico da exclusão desse segmento social.
As transformações societárias contemporâneas marcadas pela crescente desordem econômica e social em escala global, enquanto processo de reorganização do capital forjado pela reestruturação produtiva (as transformações no mundo do trabalho e suas conseqüências nas relações de sociabilidade) e pela reforma do Estado provocam o agudizamento cada vez mais gradativo das expressões da questão social. No Brasil, tais expressões revelam-se pela gritante desigualdade social, em que 54 milhões de pessoas, isto é, 32% da população (IPEA, 2001) é excluída dos bens e serviços socialmente produzidos. Deste modo, toda e qualquer perspectiva de vida digna para os brasileiros, passa, inexoravelmente, pelo enfrentamento da exclusão social, ou melhor, pela construção de mecanismos que garantam uma sociedade inclusiva para todos. No contexto dos segmentos excluídos, inserem-se as pessoas portadoras de deficiência. Durante toda história da humanidade estas pessoas têm sido levadas à condição de exclusão. Tão somente no século XX, principalmente nas três últimas décadas, vêm consolidando um período de grandes avanços e de novas perspectivas para estas pessoas que segundo dados do Censo 2000/IBGE representam 14,5% da população brasileira. Assim, este estudo objetivou avaliar o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR) segundo as pessoas portadoras de deficiência, usuárias dos Cursos de qualificação profissional. A pesquisa teve como locus a CORPU (Coordenadoria de Treinamento, Produção e Apoio Profissionalizante), pertencente à instituição governamental FUNAD (Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência), localizada em João Pessoa, capital do estado da Paraíba. Portanto, constituem sujeitos desta pesquisa as pessoas portadoras de deficiência, usuárias dessa instituição. Optou-se pelo tipo de amostragem por acessibilidade em torno de 22% (vinte e dois por cento) de um universo de 135 (cento e trinta e cinco), o que correspondeu a 30 (trinta) pessoas portadoras de deficiência qualificadas no ano 2000. Adotou-se o Sistema de Indicadores de Avaliação de Programas Sociais (SIAPS), enquanto instrumental metodológico.Trata-se de um conjunto de indicadores que avaliam os programas sociais à luz da acessibilidade, qualidade e efetividade, como mecanismos de aferição a partir da ótica dos cidadãos usuários de tais programas. A utilização do SIAPS envolveu metodologias quantitativas e qualitativas. Na fase da coleta dos dados utilizou-se: a observação assistemática, o diário de campo, o questionário e a entrevista. Na análise e interpretação dos dados, utilizou-se de instrumentos e técnicas também numa perspectiva quali-quantitativa, como o tratamento de dados estatísticos através do uso da tabulação, quadros e gráficos, e, a análise de conteúdo. Dos resultados analisados, apontam-se duas conclusões principais: a primeira indica que os entrevistados apresentam determinadas condições de inserção na sociedade o que lhe confere elegibilidade para se tornarem usuários dos Cursos do PLANFOR; e a segunda revela que os Cursos do PLANFOR ao destinar a Qualificação Profissional aos setores da sociedade propensos à marginalização sócio-econômica - no caso desta pesquisa, as pessoas portadoras de deficiência - reservou para elas uma formação de caráter residual à medida que a qualificação recebida não atende aos interesses da formação do cidadão.Tais constatações confirmam a hipótese desta pesquisa, qual seja: a de que os cursos profissionalizantes promovidos pelo PLANFOR não têm dado respostas suficientemente efetivas no sentido de inserir as pessoas portadoras de deficiência em direção ao processo de inclusão social.
O processo de inclusão e os deficientes visuais: um estudo
nas escolas de ensino regular em João Pessoa, Paraíba Abordar a inclusão de indivíduos
com necessidades especiais na escola regular, exige a
Os serviços públicos de saúde
do Brasil, pela insuficiência do número de especialistas
e equipamentos que possam realizar diagnóstico e avaliação
audiológica, têm dificultado o acesso, por parte dos alunos
surdos, ao ensino regular. Dados apresentados por Jannuzzi & Jannuzzi,
(1998) demonstram que a maioria das crianças surdas encontra-se
nas faixas da população que possui menor renda familiar.
Esse dado explica porque a maior parte dos alunos surdos que chegam às
escolas públicas sem que tenham adquirido língua de sinais
ou língua oral. Estudos como os de Soares (1990, 2002, 2003) apontam
que, anteriormente à política de inclusão, as crianças
surdas, pertencentes às camadas mais favorecidas, usufruíam
dos serviços privados de saúde e educação
e ingressavam no ensino regular já com alguma possibilidade de
comunicação por meio da língua falada. Esse fato,
juntamente com os serviços de acompanhamento, disponibilizados
pelas clínicas que freqüentavam, contribuíam para que
esses alunos concluíssem seus estudos no ensino regular. O problema
da inclusão dos alunos surdos, nas escolas públicas, apresentado
pela maioria dos estudiosos, é a ausência de uma língua
comum entre aluno e professor e o desconhecimento, por parte deste, das
especificidades à relação dialógica. Baseada
nesse contexto foi estabelecido como objetivo principal desse trabalho
oferecer serviço de apoio junto à professora de uma classe
de alfabetização, numa escola pública, que conta
com a presença de uma aluna surda. A aluna, atualmente com oito
anos de idade, com surdez bilateral contraída como seqüela
de meningite, com um ano e meio de idade aproximadamente, é proveniente
das camadas populares e mora num dos morros da Zona Norte da cidade do
Rio de Janeiro. Não tem pai, mora com a mãe e outros familiares,
tias e primos. Assim como a maioria das crianças surdas, pertencentes
às camadas mais pobres da população, ingressou na
escola sem ter adquirido língua oral e/ou língua de sinais.
Entretanto, interage com colegas, professores e funcionários da
escola, por meio de uma linguagem construída aleatoriamente pelas
necessidades comunicativas. O trabalho é realizado em duas instâncias:
1) atuação junto à aluna surda no sentido de verificar
as possibilidades de letramento tendo como fio condutor os estudos de
Vygotsky (1989) que verificou que a escrita e a fala possuem funções
distintas e para aprender a escrever as crianças deveriam se desprender
dos sons da fala e o de Geraldi (1997) que considera que as crianças
surdas, filhas de pais ouvintes, não adquirem a língua de
sinais, mas constroem a língua materna, por meio de processos interativos,
de acordo com as necessidades comunicativas dos familiares; 2) atuação
junto à professora a fim de verificar as possibilidades de construção
de práticas diversificadas no sentido de corresponder a uma pedagogia
inclusiva. Os resultados foram verificados pelos diferentes usos da escrita,
por parte da aluna, apoiando-se no conceito de letramento na perspectiva
da dimensão social, como apresenta Soares (2002), pela possibilidade
de compreender os enunciados das atividades propostas em sala de aula,
junto aos colegas ouvintes e pelas mudanças de atuação
do professor no que diz respeito à produção das práticas
diversificadas que permitam a aluna surda executar as atividades junto
aos demais colegas ouvintes. |
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