Conflitos Ambientais e Lutas Simbólicas Sonia Maria M. C. de Oliveira (IBGE) smo@ibge.gov.br A noção de conflito ambiental vem
sendo pensada, no interior do processo de construção do
campo ambiental, sob uma perspectiva que a identifica a lutas sociais
travadas em torno a elementos que constituem uma mesma base territorial
e seus recursos. Para a literatura especializada e para os sujeitos políticos
constituídos no processo de luta, o ambiental estará geralmente
relacionado às diferentes formas de apropriação,
uso e significação (conferida por sujeitos diversos) de
elementos do mundo material, referidos a tudo o que diga respeito à
terra, água, ar, flora e fauna. Por muito tempo, a preocupação
com o uso desses recursos e o eventual risco de sua degradação
e/ou potencial de extinção ficou restrito aos estudiosos
da biologia. Há algumas décadas, no entanto, movimentos
sociais vêm-se constituindo, seja na defesa do que vêm chamando
de sustentabilidade ambiental, seja reivindicando uma sociedade "ambientalmente"
mais justa, (neste caso, incluindo no debate a questão distributiva)
seja, por sua vez, na construção de uma visão alternativa
de sociedade que conjugue simultaneamente o "ecologicamente sustentável"
com o socialmente justo. Em todo o mundo autores vem discutindo a questão
de diversos ângulos, focalizando-a através de inúmeros
estudos de casos, em alguns dos quais fica clara a politização
crescente da relação do homem com o meio ambiente, em outros,
a forte tendência à tecnificação e cientifização
da política . Muitas análises convergem para a conclusão
de que problemas ambientais são, na verdade, o mote para a explosão
de conflitos cuja questão central tem a ver com o uso desigual
dos recursos disponíveis, a idéia de conflito ambiental
aparecendo associada, portanto, à questão dos direitos sociais
e da apropriação desigual do território e de seus
recursos. Participação Política e Organização
Social na Gestão das Águas Brasileiras
O campo da cultura, assim como outros campos, tem passado nos anos recentes por grandes transformações. No Brasil a Lei Rouanet e a criação da figura jurídica das Organizações Sociais são marcos importantes desta transformação que implicam em novos modos de ação e, notadamente, novos modos de captação de recursos e gestão das organizações. No centro dessas transformações parece estar a inserção da lógica de mercado nas atividades culturais. Fundamentadas nestas percepções, oriundas de estudos realizados no grupo de pesquisa do qual participamos, realizamos um estudo etnográfico em uma rede de organizações não-governamentais denominada Rede Arte e Cidadania, que aglutina aproximadamente 30 ONGs que utilizam a arte em suas diversas manifestações para a construção ou recuperação da cidadania de grupos em situação de risco, notadamente crianças de classes desfavorecidas. Nosso estudo busca suas informações através da observação participante em todas as reuniões e atividades da Rede Arte e Cidadania desde a sua primeira reunião em agosto de 2003, bem como através da participação no grupo de comunicações via web, na coleta de documentos sobre a Rede e as organizações que dela participam. Ao longo de todos os encontros da Rede pode-se perceber a preocupação com a elaboração de projetos com o objetivo de captação de recursos. As principais atividades desenvolvidas têm este como objetivo principal aliado às discussões sobre arte. A discussão a respeito da cidadania é praticamente ausente das atividades desenvolvidas até o momento. Nesse artigo nosso foco se volta para a análise das atividades de formação de gestores, notadamente através das atividades de capacitação dos responsáveis das ONGs para o planejamento e elaboração de projetos sociais. Duas atividades centrais são analisadas neste estudo, um workshop de apresentação de projetos e o "Curso de capacitação em planejamento e roteiro de elaboração em projetos sociais". Nossa análise fundamenta-se nos estudos de Bourdieu sobre poder, definido pelo autor como o reconhecimento, por parte dos atores sociais, da posse desse recurso, ou capital, e pelo valor que estes dão a esse capital específico (BOURDIEU, 2000, p. 15). Nos interessamos, em especial, pelo conceito de poder simbólico, pela força que pode representar para explicar as relações no campo da cultura com a introdução da lógica de mercado. Segundo Bourdieu (2000, p.15) "o poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada das outras formas de poder". De acordo com Silva e Carvalho (2003, p.4) é o poder de fazer ver o que não é visto, de consagração do existente, ou mesmo de criação, com o poder do discurso legitimado por outros atores. Assim supomos que para a compreensão das relações de poder que se estabelecem no campo das organizações culturais é importante considerar o capital econômico, mas também o capital cultural e social que constituem fontes de poder importantes para a determinação e reprodução das relações sociais (CARVALHO, 2003, p. 13). Os resultados de nossa análise identificam uma forte inserção da lógica de mercado na formação de gestores de ONGs pertencentes à Rede, através da discussão concentrada em elaboração de projetos com uma visão predominantemente empresarial, baseada em aspectos quantitativos e, por vezes, em interpretações errôneas. Destacamos a concentração do domínio deste conhecimento nas mãos de um dos parceiros que dão suporte à Rede e o papel que os critérios utilizados pelas fontes de financiamento podem representar na difusão da lógica empresarial.
Cidadania e Autonomia O assumir da nossa cidadania é à partida termos a correcta e completa noção dos nossos deveres e dos nossos direitos enquanto cidadãos. Em seguida, pugnarmos pela defesa desses nossos inalienáveis direitos, nunca esquecendo no entanto, também, os nossos inquestionáveis deveres de solidariedade activa para com os outros, a Sociedade Humana e a Terra. Para que uma Sociedade Humana seja equilibrada, sustentada e harmoniosa é fundamental que se apoie em três pilares-força igualmente essenciais: O Estado, o Mercado e a Sociedade Civil. É no respeito e na conjugação de esforços, quanto baste, que haja a tentação de nenhum deles silenciar ou controlar os outros, que poderemos todos avançar em tranquilidade, estabilidade e segurança na construção da sociedade e do Mundo que todos desejamos. O conceito de cidadania, que quanto a mim só pode existir e sobreviver se associado sempre ao binómio deveres-direitos, tem que estar sempre presente na mente das pessoas que actuam no seio dos três pilares-força atrás referidos; assim teremos, e não é nenhum eufemismo simplista nem nenhuma "palissade" (coitado do inocente General "de la Palice"), políticos-cidadãos, magistrados-cidadãos, polícias-cidadãos, funcionários-cidadãos, jornalistas-cidadãos, empresários-cidadãos..., e nós "simples" cidadãos, pugnando sem nunca fraquejar por uma Sociedade Civil livre, autónoma, responsável, activa e interveniente, essencial ao progresso e à Democracia. Assim actuando conseguiremos todos um dia construir a Sociedade Humana sempre sonhada mas ainda não alcançada, a saber: ter no vértice da pirâmide representando a sua evolução, o Social como preocupação prioritária e objectivo final, e na base o Estado e o Mercado como sustentáculos contribuindo para que se atinja tão nobre fim. Para que as Sociedades Civis organizadas, constituídas por cidadãos livres e positivamente críticos, possam verdadeiramente ser actuantes e "consciências vivas", é absolutamente indispensável, quanto a mim, atingir uma autonomia, nomeadamente política e financeira, sem as quais mais não seriam quantidades sub-contratadas e manipuláveis, e investir fortemente, e cada vez mais, no voluntariado no actual contexto globalizante. |
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