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Radiografia das metrópoles; Hip Hop, das Periferias ao Mainstream
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João Lindolfo Filho (Universidade da Cidade de São Paulo)
jlindolfo@hotmail.com
" Essa é a real. Essa é a real
" .
Com esse refrão cantado sobre uma base de rap em seu comercial,
a Coca Cola trabalha para sensibilizar o público para o consumo
de seu produto de indubitável projeção mundial. Não
obstante o Mac Donalds utiliza também o mesmo gênero musical
para a apresentação de seu Fast Food, não menos conhecido
do público.
Isso nos leva a observar que o rap, enquanto uma das formas de expressão
da cultura hip hop , têm sido cada vez mais largamente utilizado
pelos meios publicitários com vistas a conseguir maior visibilidade
para diversos produtos junto ao imaginário das massas.
A cultura hip hop vivenciada por jovens das periferias
das metrópoles do mundo notadamente tem adquirido especial importância
em meio à cultura celebrativa. Como se origina tal fenômeno,
bem como os alcances e limites desse mais recente movimento cultural de
juventude, constitue-se na questão sobre a qual nos preocupamos
em debruçar.
Para tanto pretendemos por meio da trajetória de dois rappers de
maior reconhecimento internacional; um português- General D e um
brasileiro- Thaide, que foram objeto de investigação para
nossa tese de doutoramento defendida na PUC SÃO PAULO em 2002,
traçar o desenvolvimento desse criativo fenômeno de mídia
radical, que muito embora seja de origem discriminada; negra e pobre,
tem logrado certo respeito para as periferias e servido de inspiração
para renomados artistas plásticos e estilistas, como por exemplo,
John Galiano da Maison Dior.
Conforme se sabe na diáspora escravista, espalhou-se o africano
pelo mundo na condição de escravo e, com ele sua cultura
e a música que a ela é inerente, que nunca deixou de existir
e em fusões com culturas dos países para os quais foram
levados vem transformando o panorama cultural do planeta.
Para a atualidade, a questão que se estabelece é: como surge
nas periferias das metrópoles do mundo essa cultura de caráter
contestatório que adentra aos centros urbanos, com essa força
tal que, apesar de não passar pelos cânones acadêmicos
têm, em meio às GPMs (globalizações por minuto),
garantido resgate da auto-estima dos jovens discriminados, colaborado
para a paz nas periferias preenchido lacunas deixadas pela educação
formal e demonstrado condições de confronto com o poder
estabelecido, inclusive agregando até jovens das camadas médias
das sociedades ao mesmo passo que transforma sobremaneira seus partícipes.
A gênese dos hip hoppers, suas idiosincrasias, o crescente interesse
por parte da industria cultural e a formação de um site
mundial dessa cultura, com vistas à possibilidade de inclusão
digital, (ainda estamos desenvolvendo), são a tônica central
dos esforços aos quais ora nos propomos a realizar. Prevê-se
apresentação de um curta metragem, feito em cinema sampleado
, sobre a história e atualidade da cultura hip hop.
Movimentos Sociais em Timor
Marinús Pires de Lima (ICS, Universidade de Lisboa, ISCTE, Lisboa)
Nuno Pombo Nunes (ISCTE, Lisboa)
"Quando o povo timorense estava a sofrer,
os portugueses sofreram connosco" (Xanana Gusmão)
A busca das razões por que os acontecimentos
pós-referendo em Timor despoletaram tamanha movimentação
social, constituiu a inquietude sociológica que deu origem a este
estudo.
Analisam-se os comportamentos colectivos ocorridos
quer em Timor, quer em Portugal, com atenção particular
ao período de 1999.
São sucessivamente abordados os seguintes
pontos: a situação em Timor antes do massacre de Santa Cruz;
a internacionalização do problema e o nascimento do movimento
no cenário global; a identidade e a resistência em Timor;
os movimentos sociais em Portugal - a resposta aos acontecimentos pós-referendo;
Timor, um movimento de globalização contra-hegemónica.
A acção em Portugal compreende-se
enquadrando-a no domínio nacional e internacional que se desenvolveu
contra a repressão da Indonésia. Estamos na presença
de uma acção de tipo levantamento nacional, que acontece
devido à necessidade de defender a identidade cultural do povo
timorense. Este processo foi amplificado e legitimado pelos meios de comunicação
de massa. Além da acção das ONG, estudam-se as articulações
entre a emoção e a razão, a relevância dos
prémios Nobel da Paz, a onda de solidariedade que atravessou diferentes
gerações e classes sociais, a Igreja Católica, a
acção diplomática na ONU, a importância dos
direitos humanos e da luta pela democracia, no processo de globalização.
Esta acção pode ser considerada como um movimento de globalização
contra-hegemónica. As questões orientadoras incidem sobre
os actores, os adversários e os terrenos das acções
colectivas.
"Is the "g" word good?"*: Armadilhas, sentidos
e apropriações do conceito globalização
Ana Drago (FEUC)
anadrago@clix.pt
Falar de "globalização"
é trazer a jogo um termo polissémico, que traz consigo uma
pluralidade de conceptualizações teóricas e descrições
analíticas sobre mudanças em diferentes dimensões
da vida social e mundial, mas que também nos deixa perante a presença
impositiva de um senso comum que não só nos diz que o mundo
"encolheu", como acrescenta que está diferente do que
era há três décadas atrás.
O debate sobre o que "é" a globalização
afigura-se, pois, um terreno movediço. O nosso artigo propõe-se,
num primeiro momento a fazer uma leitura crítica sobre este conceito,
avaliando algumas propostas teóricas que delinearam o debate sociológico
nesta matéria, e defendemos que o uso dos conceitos globalização/processos
de globalização encerra, muitas vezes, uma armadilha teórica:
o termo "globalização" tende a ser usado como
agregador de sentido para um conjunto muito díspar de processos
sociais e reorientações políticas à escala
mundial, sobre os quais tem dificuldade em dar conta de forma cabal. Isto
é, em algumas propostas o termo globalização é
empregue como comportando valor explicativo nas alterações
no sistema interestatal, na economia mundial ou no campo da cultura/informação,
reduzindo estes processos complexos a uma mera "nova" condição
de interdependência global, limitando o conceito de globalização
a uma leitura descritiva/quantitativista de transformações
recentes. Outras teorizações apontam para o reordenamento
nos centros de poder no sistema-mundo nas últimas três décadas,
mas aqui a novidade da globalização surge-nos ensombrada
pelas evidentes continuidades com a era colonial/imperial.
Apesar destas dificuldades, argumentamos que a noção de
processos de globalização se mantém como um conceito
do qual a teoria social não deve prescindir, mas que tem saber
usar em articulação com teorizações que nos
ajudem a perceber a reordenação das práticas sociais
e das representações do(s) espaço(s) em diferentes
contextos de actuação. E, principalmente, que o seu uso
deve estar consciente da sua origem simbólica: o termo globalização
traduz uma vontade de descrever o que é novo no presente. Assim,
num segundo momento, fazemos uma leitura sobre o "triunfo" do
conceito de globalização à luz dos processos políticos
e simbólicos ocorridos desde finais dos anos 70.
Isto é, defendemos que o "sucesso" do conceito de globalização
tanto no debate académico, como nos discursos não especializados,
deve ser olhado como indicador da reconfiguração do campo
político do final de século, profundamente marcado pelo
colapso das narrativas que sustentaram a reflexão e a prática
de movimentos políticos modernos hegemónicos ou contra-hegemónicos.
Ou seja, defendemos que o termo "globalização"
traduz o sentido da época - o colapso dos códigos do conflito
político do pós-guerra: o código estatal-nacional
(a política e/ou o projecto emancipatório ligado ao marco
nacional); o código da produção (identidades pessoais
e políticas estatais assentes na centralidade da produção);
o código da modernização (mega-racionalidades padronizadas,
do Estado e das empresas, organizariam a sociedade para uma evolução
progressiva); e o código da revolução (crença
na instituição de uma nova ordem social que eliminaria a
sociedade do passado). A globalização traduz este o tempo
anunciado pela onda de contestação mundial de final dos
anos 60: tempo híbrido, pós-nacional, pós-industrial,
pós-modernização, pós-revolução.
O prefixo indica que esses códigos não morreram, mas já
não vistos como sinalizadores naturais da política, são
antes questionados.
Por fim, num terceiro momento, argumentamos que tem sido esta capacidade
de agregação descritiva dos processos sociais actuais, acoplada
ao simbolismo que indica alterações de sentido no conflito
político, que tem permitido ao termo globalização
servir de articulação de agendas políticas díspares,
protagonizadas por actores sociais com histórias diversas. Assim,
defendemos o termo globalização como organizador de sentido
de múltiplas mudanças transmutou-se num novo espaço
simbólico de conflito que tem permitido ao chamado "movimento
alterglobal" construir lógicas de equivalência entre
lutas e resistências diversas, onde a globalização
é lida como alteração na escala e/ou nas formas de
acção dos poderes, gizando uma dimensão de identidade
para o conflito partilhada, porque diferentes vivências da opressão
são entendidas como permeadas por um processo societal comum.
El caso Prestige en Galicia. Las funciones latentes de la participación
ciudadana en una democracia representativa.
José A. López Rey
GIESyT, Universidad de Extremadura
De los elementos que permiten una gobernabilidad
sostenible se pueden destacar la participación ciudadana, el acceso
a la información pública por parte de los ciudadanos y el
acceso a la Justicia si fallan los anteriores. Pero los tres funcionan
partiendo de que existe una democracia participativa.
Si no existe esa democracia participativa sino una democracia representativa,
puede ocurrir que la participación ciudadana deba manifestarse
de manera informal y fuera de los canales de representación ordinarios
(pero dentro de los límites establecidos por el orden constitucional).
En este trabajo se analiza una plataforma ciudadana que se constituyó
precisamente por la inexistencia de una democracia participativa y por
la ocultación de información pública a raíz
de la mayor catástrofe ecológica ocurrida en Europa por
un vertido de crudo. Se estudian los elementos que coadyuvan para que
la ciudadanía tome postura y se movilice en una acción colectiva.
Este aspecto tiene más relevancia en el caso que nos ocupa, puesto
que Galicia es una de las comunidades españolas con menor nivel
de asociacionismo y desarrollo comunitario, por lo que la plataforma "Nunca
Máis" adquiere mayor trascendencia como expresión de
la sociedad gallega en el campo de la participación.
Se comienza con una breve descripción de los hechos que propiciaron
la movilización social, así como algunos momentos importantes
en la historia de la plataforma. Después se atiende a la configuración
del movimiento social explicándose desde la teoría sociológica
pertinente.
Se pretenden conocer los mecanismos por los cuales la acción colectiva
es posible, pero sobre todo, y junto a llamar la atención sobre
los peligros derivados de entender la democracia como únicamente
representativa, las funciones latentes que la participación ciudadana
tiene en materia cultural y de cara al futuro.
O Discurso do MST na Internet
Maria Neblina Orrico Rocha (Universidade de Brasília)
O objetivo deste trabalho é analisar como
e porque a Internet se tornou uma ferramenta importante para alguns movimentos
sociais na atualidade, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)
no Brasil. Segundo Maria da Glória Gohn , os recursos tecnológicos
são as grandes armas estratégicas utilizadas na organização
e mobilização dos movimentos sociais.
Com a ajuda de autores como Thompson , Castells e Foucault , analisaremos
o discurso do MST na Internet, como prática social que não
só se expressa nos atos da fala, mas em múltiplos suportes
de linguagem. Queremos entender como o MST constrói seu discurso,
sua identidade e suas estratégias de luta a partir da identificação
de seus valores, suas características e suas interações
nas práticas cotidianas e falas divulgadas na Internet.
As categorias da tipologia clássica de Alain Touraine, que define
movimento social de acordo com três princípios: a identidade
do movimento, o adversário do movimento e a visão ou modelo
social do movimento nortearão parte de trabalho que deve basear-se
empiricamente no site dos sem-terra, imagens e símbolos que são
utilizados para disseminar idéias, dar visibilidade à luta,
fortalecer a organização, divulgar ideais e formar opinião.
Mas porque analisar o discurso do MST? Apesar de possuir uma agenda de
reivindicações bastante específica e complexa de
acordo com o contexto sócio-econômico-político-cultural
em que se insere, o interesse reside precisamente no discurso que o MST
tem na Internet onde fica clara a defesa da reforma agrária, da
justiça social e da liberdade para excluídos da sociedade.
Outro aspecto que deve ser ressaltado é a visibilidade que o MST
tem dentro do Brasil e fora dele.
Para Castells, a Internet é um meio essencial de expressão
e organização para os movimentos sociais da atualidade .
"E como encontraram nela (na Internet) meio apropriado de organização,
esses movimentos abriram e desenvolveram novas avenidas de troca social,
que, por sua vez, aumentaram o papel da Internet como mídia privilegiada",
ressalta o autor.
Considerando que a Internet funciona como um meio de comunicação
autônomo para os movimentos sociais, podemos listar uma série
de vantagens para quem a utiliza: uma maior flexibilidade em termos de
organização, acesso a informações estratégicas,
interação com simpatizantes e a sociedade civil, além
de ser uma alternativa para os meios de regulação tradicional
que um Estado poderia tomar em relação a uma mobilização
tradicional.
No decorrer do trabalho, tentaremos responder a várias questões:
Qual é a importância da Internet para que esses movimentos
sociais ganhem legitimidade perante a sociedade? Quais são as semelhanças
e as diferenças no discurso desses movimentos? Como usam a Internet
para divulgar ideais, formarem opinião e defenderem seus interesses?
Quem são os "heróis" e os "inimigos"
desses dois grupos? Como eles descrevem a si mesmos em seus sites? Como
constroem sua identidade e a de seus inimigos? Quais seriam as vantagens
de movimentos sociais que utilizam a Internet como ferramenta de luta?
Outro aspecto que será analisado no trabalho é a simbologia
utilizada pelo MST que tem se ancorado principalmente em imagens para
se mostrar ao mundo: do boné ao facão, da bandeira às
imagens de crianças e velhos para criar e difundir sua identidade.
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