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A Lei 9840 - O combate à Corrupção Eleitoral nas
CEB's - Comunidades Eclesiais de Base, no Nordeste Brasileiro
Jorge Carvalhais (OMAS/LBN)
Esta comunicação tem por título
"A Lei 9840" e como subtítulo "O Combate à
Corrupção Eleitoral nas CEB's - Comunidades Eclesiais de
Base, no Nordeste Brasileiro".
Trata-se do relato de uma experiência - realizada nos anos eleitorais
de 2000 e 2002 numa região do Estado do maranhão, Nordeste
Brasileiro - de tentativa de implementação e fiscalização
da Lei 9840 que visa o combate à corrupção eleitoral.
A Organização Não Governamental para o desenvolvimento
OMAS/LBN, de origem portuguesa, trabalhou, entre Fevereiro de 2000 e Setembro
de 2002, na área de Chapadinha, pequeno município de 60.000
habitantes, situado a nordeste do Estado do Maranhão, bem próximo
da divisa com o Estado do Piauí.
O trabalho da referida ONGD desenvolveu-se em vários campos de
actividade: formação pedagógica, educação
popular geral e para os Direitos Humanos, actividades para a juventude
(âmbito cultural e pastoral). E foi no âmbito da educação
popular para os Direitos Humanos que teve origem a experiência retratada
nesta comunicação.
O Nordeste Brasileiro, em especial a região do Baixo Parnaíba
onde se centra o município de Chapadinha, é, desde tempos
imemoriais uma região de grande latifúndio. Todo os Estado
do Maranhão (numa extensão de 340.000 km2) é dominado
pelos grandes poderes oligárquicos de algumas famílias que,
influentes em diversas áreas desse extenso território, dominam
as instituições civis e militares locais. A figura do "fazendeiro"
continua a ser equivalente à figura do "senhor feudal"
que, por ter os papéis que lhe dão a posse da terra, se
torna "dono" dos "cabocos" (pequenos lavradores sem-terra)
que aí vivem. É o mesmo "fazendeiro", ou pelo
menos os elementos ligados à sua família, que "ditam
as regras" nessas regiões remotas do nordeste.
Chapadinha fica situada a cerca de 250 km da capital estadual - São
Luís do Maranhão - e mais de 2000 km de Brasília
ou a mais de 3000 do Rio e São Paulo. Daí a razão
pela qual as famílias Bacelar, Lira, ou Pessoa ainda mantêm
grande influencia sobre os poderes executivo (Prefeitura), legislativo
(Câmara de vereadores) e judicial (tribunais da 1ª e 2ª
varas). É necessário ainda acrescentar as excelentes relações
mantidas entre as referidas famílias e as duas corporações
de polícia - Militar e Civil.
Fica fácil supor o quão complicado se torna fazer com que
os processos eleitorais sejam justos e livres. Foi por isso que a OMAS/LBN
tentou contribuir para que em Chapadinha se implementasse e se fiscalizasse
a Lei 9840 cujo historial começou com o lançamento do Projeto
"Combatendo a corrupção eleitoral", em Fevereiro
de 1997, pela Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP,
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Esse Projecto
deu continuidade à Campanha da Fraternidade de 1996, da CNBB, cujo
tema foi "Fraternidade e Política" e teve como grande
decisão uma proposta de lei de Iniciativa Popular que contemplasse
o combate ao flagelo da corrupção eleitoral. Foram dois
os grandes momentos dessa caminhada:
o Num primeiro momento foram reunidas as assinaturas de mais de um milhão
de eleitores, para apresentar ao Congresso Nacional do Brasil para que
este fosse forçado a discutir o projecto de lei;
o Em segundo lugar o Congresso deliberou sobre esse Projecto em prazo
recorde fazendo da Lei 9840 o primeiro Projecto de Lei de Iniciativa Popular
aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro.
Restava então tentar implementar a referida lei no meio de uma
situação tão adversa e difícil. Foi o que
a OMAS/LBN tentou fazer nas pequenas Comunidades Eclesiais de Base de
Chapdinha.
A presente comunicação é o relato, na primeira pessoa,
dessa caminhada de cidadania, repleta de sucessos e fracassos, durante
a campanha eleitoral para o Município (2000) e a campanha eleitoral
para Presidente (2002).
O papel das ONG's na política de atendimento à
criança e ao aodlescente na cidade do Rio de Janeiro: da mobilização
dos anos 80 à intervenção dos anos 90
Elaine Monteiro (Universidade Federal Fluminense)
Este trabalho é resultado de uma pesquisa
de tese de doutorado, realizada na Escola de Serviço Social da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. A pesquisa procurou identificar
as transformações ocorridas no papel das organizações
não-governamentais que trabalham com crianças e adolescentes
na cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 80 e 90. Procurou-se
também analisar as implicações de tais transformações
na política de atendimento a esta camada da população
e no trabalho interventivo hoje realizado junto à mesma pelas ongs
em nossa sociedade.
A identificação das transformações
ocorridas foi realizada por análise documental e, sobretudo, pela
análise das entrevistas realizadas com profissionais que desempenharam
importante papel de mobilização e articulação
da sociedade civil, na década de 80, pela mudança paradigmática
no tratamento dado pela sociedade às crianças e aos adolescentes
brasileiros e que, posteriormente, durante a década de 90, envolveram-se
no trabalho interventivo junto a esse grupo, procurando garantir os direitos
conquistados no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A partir da identificação do perfil
de atuação das ongs na área da criança e do
adolescente nas duas décadas, procurou-se analisar o papel dessas
organizações no cenário atual e as questões
a elas relacionadas, como a sua relação com o Estado, principalmente
no que tange às parcerias realizadas entre governos e ongs para
o desenvolvimento de ações que conformam políticas
sociais, o desafio da construção de uma esfera pública
na sociedade brasileira, e a efetiva garantia de direitos a crianças
e adolescentes que vivem uma situação de exclusão
social por meio de ações interventivas.
O estudo realizado pretende ainda, a partir das
ongs que atuam na área da criança e do adolescente, contribuir
para uma maior compreensão do papel dessas organizações
em nossa sociedade ou, melhor dizendo, dos papéis, uma vez que,
como os tempos em que vivemos, a partir das opções ético-políticas
que se faz frente à sociedade, eles podem ser muitos, além
de serem certamente complexos e bastante diferenciados uns dos outros.
O fato de se ter tentado reconstruir a trajetória dessas organizações
por dentro, isto é, a partir dos profissionais que as fizeram,
da mobilização da década de 80 à intervenção
da década de 90, pode contribuir também para elucidar as
dificuldades existentes no desenvolvimento de ações interventivas
junto a crianças e adolescentes que vivem uma situação
limite em nossa sociedade, os chamados meninos e meninas de rua.
Explicitar o significado e os impasses das ações
desenvolvidas na situação limite vivida por essas crianças
e por esses adolescentes pode, na concepção deste estudo,
contribuir também para a atuação junto à infância
e adolescência de forma mais ampla em nosso país, uma vez
que mais do que de rua, estamos falando de meninos e meninas pobres e
das implicações da pobreza e da exclusão social nas
vidas de seres humanos que se encontram em processo de desenvolvimento.
ONGs uma investigação sobre sua natureza
Sandra Faleiros Lima (Universidade de Brasília)
Nos cenários da globalização
da economia, o desenvolvimento de uma esfera pública globalizável
e a construção de uma sociedade civil planetária
levam a pensar em novos enfoques de análise de movimentos sociais
e de práticas sociais realizadas pelos tradicionais atores estatais
e por numerosos e variados atores não-estatais, supranacionais,
transnacionais, incluindo os próprios indivíduos. Para a
articulação dessas novas práticas sociais em várias
escalas, das mais locais às mais globais, as ONGs têm-se
revelado como atores sociais importantes. Este trabalho tem como objetivo
principal compreender o universo das ONGs, também seu imaginário,
buscando saber o que de fato são, o papel que ocupam na sociedade,
se elas realmente têm contribuído para a construção
de identidades e ativismo nas sociedades contemporâneas, o conjunto
de relações e articulações que estabelecem
com outros setores da sociedade organizada, procurando apontar os interesses
que as envolvem.
A maior parte dos autores, que tratam do tema, apontam que é quase
impossível dar uma única definição para estas
entidades tão diversas em suas características e atuações.
Denominam-se ONGs não só instituições que,
efetivamente, dedicam-se a questões sociais de direitos humanos,
ecológicas, como também aquelas que articulam poderosíssimos
interesses econômicos, como as fundações mantenedoras
de instituições de ensino superior privado no Brasil ou
até empresas. Pela complexidade ou, quem sabe, pela necessidade
de se manter a indiferenciação, todas vem sendo englobadas
numa única categoria, terceiro setor.
Por idealismo, mas também porque as práticas jurídico-militantes
se tornaram, hoje, vias mais efetivas para entrar em uma carreira profissional,
quer seja dentro das grandes instituições internacionais
ou nas firmas de wall street, as fronteiras entre o militantismo e as
competências gestionárias atenuam-se nesse campo. As grandes
ONGs vêm buscando seu pessoal nessas últimas. Essas ONGs
possuem uma lógica de empresa imposta pela mídia - elas
estão em concorrência pela atenção das mídias,
bem como pela obtenção de financiamentos das grandes instituições
filantrópicas, das quais depende sua sobrevivência.
Muitas vezes, elas acabam sendo responsabilizadas por tantos aspectos
da intervenção social que nem sempre correspondem ao que
efetivamente fazem ou são capazes de fazer. Em alguns momentos,
são valorizadas, em outros discriminadas. A verdade é que
pouco ainda se conhece sobre os limites e a potencialidade das ONGs. O
que se sabe é que elas não devem ser confundidas com as
formas tradicionais de participação ou de organização
política em torno de um foco coletivo de interesse.
As instituições públicas perderam força, capacidade
de regulação e integração e vem ocorrendo
uma desativação da participação no espaço
público, um crescimento dos espaços da vida privada e das
organizações voluntárias. O espaço das instituições
públicas passou a ser ocupado pelas organizações
financeiras internacionais e pela mídia. As ONGs aparecem mesmo
neste contexto como atores políticos mundiais, bem como as rede
de comunicação. As ONGs tem a face do momento atual, tem
a face do mercado, não se constituindo necessariamente em processos
de participação, elas são um mercado de virtudes
políticas e cívicas, um banco de mercado, de afazeres simbólicos.
É importante que elas assumam seu papel de construtoras de cidadania,
sua representação junto à sociedade civil, a partir
de um equilíbrio que possibilite a seus membros se dedicarem aos
projetos de modo mais competente, mas sem abandonar seus princípios
e objetivos participativos e ideológicos. Que as propostas de práticas
participativas indicadas ou mesmo exigidas por agencias financiadoras,
ou que se fazem presentes freqüentemente nos programas e projetos
de trabalho das ONGs não sejam somente retórica, ou seu
único fim, ou seja, que busquem maneiras de se autogerir e a seus
trabalhadores, ou seja, tornem-se grupos que governem a si mesmos.
A Participação Sociopolítica e a construção
da Política de Assistência Social
Zelimar Soares Bidarra ( Universidade estadual do Oeste do Paraná)
jbidarra@certto.com.br
O trabalho versa sobre as disputas de projetos
políticos na construção de Políticas Municipais
de Assistência Social. A pesquisa resgata situações
objetivas em que têm se dado alguns dos processos de implementação
da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei 8.742/93
(Brasil), a qual previu o funcionamento do Assistência Social mediante
a introdução dos conselhos gestores de políticas
públicas nos três níveis de governo. O objetivo da
investigação foi o de evidenciar os caminhos e analisar
as contribuições dadas pelos Conselhos Municipais de Assistência
Social (CMAS's), de Cascavel e de Toledo (Paraná-Brasil), para
que se efetivasse uma nova forma de concepção, de estruturação
e de gestão das Políticas de Assistência Social.
É importante assinalar que com a promulgação da LOAS
a Assistência Social passou a integrar o tripé da Seguridade
Social e, com isso, passou-se a ter a impressão de que a sua condição
de política de natureza pública estava imediatamente assegurada.
Contudo, o contexto favorável à ampla difusão das
premissas do projeto neoliberal repercutiu nos debates e nas orientações
que instituíram os procedimentos para a organização
nacional dessa Política. Em virtude disso, pelo menos, duas alternativas
colocaram-se no cenário nacional e destacaram-se como caminhos
a serem seguidos pelos estados e municípios para a construção
descentralizada da Política de Assistência Social. A primeira
alternativa deriva da proposta de Reforma do Estado e se adensou no projeto
conservador e preconiza uma forma "minimalista" de o poder público
atuar na implementação das políticas sociais. A segunda
alternativa representa o defende o projeto democrático, isto é,
a sua aposta política nas atuações dos conselhos
gestores para que estes funcionem como mecanismos de ampliação
da participação popular.
Todavia, os conselhos gestores podem ser, ao mesmo tempo, arenas para
a representação e disputas entre propostas totalmente diferenciadas
mas, também, podem ser foros para a preservação do
tipo de gestão das políticas sociais que melhor correspondam
aos interesses dos setores governantes e/ou dos dominantes.
Porém, para que as ações assistenciais que decorrem
das Políticas Municipais de Assistência Social correspondam
às formas de satisfação dos direitos sociais pressupostos
pelas LOAS e, para que esses direitos cheguem aos seus destinatários,
é necessário investir-se em um efetivo funcionamento dessas
Políticas. Para isso a investigação centrou-se na
análise das experiências empreendidas pelo CMAS-Cascavel
e pelo CMAS-Toledo que, por meio de alternativas políticas diferenciadas,
buscaram direcionar suas respectivas Políticas Municipais em conformidade
com as expectativas de uma construção mais plural e democrática
das ações relativas a essa área.
A investigação sobre as experiências de construção
das Políticas de Assistência Social de Cascavel e de Toledo
permite afirmar que as disputas para se imprimir um formato e um direcionamento
para essas Políticas foram baseadas em uma mescla, com a interpenetração
de alguns elementos do projeto conservador e do projeto democrático,
principalmente, com relação ao princípio da gestão
descentralizada que era um ponto de referência comum nos dois projetos.
Se os projetos políticos para a Assistência Social representam
intenções, eles também trazem acoplados os seus modelos
de gestão - as formas concretas de implementar tais projetos. Portanto,
pode-se dizer que, a defesa da participação e da democratização
dos processos decisórios é o ponto de contato crucial que
influi nas condições em que se estabelecem as relações
entre alguns dos representantes de segmentos da sociedade civil e do poder
estatal, dentro desses conselhos gestores, nos processos de construção
das políticas sociais.
Uma Nova Forma de Coordenar Políticas Sociais: o caso
da favela da Mangueira, Brasil, Rio de Janeiro
Maria Alice Nunes Costa (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional / Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Este trabalho tem como objetivo apresentar a análise
realizada sobre o programa de política social implantado na favela
da Mangueira, Rio de Janeiro, nas últimas duas décadas.
Com base nos conceitos de "capital social" e "governança"
estudamos o Programa Social da Mangueira como um caso de gestão
descentralizada de política social, realizado por meio de redes
sociais estabelecidas entre a comunidade, o poder público e algumas
empresas que vêm financiando inúmeros projetos culturais
na favela da Mangueira. Da sinergia entre essas três forças
vimos surgir, nesse contexto, um programa de desenvolvimento local e de
enfrentamento da exclusão social, promovido pela Escola de Samba
Estação Primeira da Mangueira e que nos parece novo na realidade
carioca.
Ao longo dos quinze anos de atuação social, o Programa passou
a ter o número de 30 projetos sociais voltados aos moradores da
favela e de comunidades adjacentes. Atualmente, ele envolve um grande
número de empresas privadas que atuam em projetos de saúde,
educação, cultura, lazer, esporte e formação
profissional. Além disso, constrói parcerias com a Prefeitura
Municipal do Rio de Janeiro, os governos estadual e federal e associações
comunitárias.
Como pudemos observar, foi nos anos 1980 que o Programa Social da Mangueira
foi elaborado. O cenário político da época trazia
em seu bojo o processo de redemocratização do país
e o prenúncio da promulgação da nova Constituição
Federal. Novos mecanismos legais e institucionais - como a descentralização
administrativa e a participação cidadã - foram canalizados
pelo aparelho estatal para o desenvolvimento de políticas sociais
em nível local. Foi nessa época que o governo federal cedeu
à comunidade um terreno da Rede Ferroviária Federal e o
governo do estado ficou responsável pela construção
de toda a infra-estrutura da Vila Olímpica, juntamente com o apoio
do governo municipal. Desta maneira, a partir dos anos 90 estava delineado
o Programa Social da Mangueira
As sucessivas crises econômicas, a abertura política e econômica
e a mobilização da sociedade influenciaram no modelo de
intervenção centralizadora do Estado nas atividades econômicas
e, sobretudo, em relação às funções
sociais por ele desempenhadas. Assim, a afirmação do Estado
como ator central e exclusivo na implementação de programas
sociais passou a ser questionada pela sociedade. Novos mecanismos institucionais
- como a descentralização administrativa e a participação
cidadã - foram canalizados pelo aparelho estatal para o desenvolvimento
de políticas sociais em nível local.
Por outro lado, a reestruturação industrial levou muitas
organizações empresariais, principalmente as de grande porte,
a adotar um nov discurso calcado na ética e na responsabilidade
social. Baseadas no senso de "responsabilidade social", tais
empresas passaram a ter a expectativa de que a implantação
de ações sociais, além das previstas na legislação
brasileira, e de uma gestão participativa podem aumentar a produtividade
de seus empregados e torná-los mais comprometidos com o trabalho;
da mesma forma, podem obter o reconhecimento da sociedade em relação
aos projetos sociais das empresas preocupadas com a questão ambiental,
a saúde, a educação, a cultura etc., que assumem,
assim, parcelas da dívida social.
Constatou-se que, no Programa Social da Mangueira, a parceria entre empresas,
poder público e comunidade tem facilitado a implementação
e o desenvolvimento das ações sociais comunitárias.
Os três atores têm atuado na seguinte direção:
a Escola de Samba, fornecendo o capital social, e as empresas e o poder
público fornecendo o capital financeiro e as diretrizes técnicas.
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