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Aprender a fazer: na construção
do projeto pedagógico nas escolas municipaios de São Gonçalo
Ruth Ramiro de Melo e Virginia Maria Muniz (Supervisão Educacional
da Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo
- RJ)
virgmuniz@hotmail.com
Inúmeras são as razões hoje
que forçam as escolas à necessidade e ao desafio de construírem
seu próprio Projeto Educativo. Diante desse cenário, gerou-se
na escola uma certa ansiedade quanto ao seu papel na sociedade, a sua
autonomia, participação, gestão democrática
e nas políticas educacionais. Repensar os rumos da educação
exige reflexão sobre a sua prática para que se estabeleçam
caminhos significativos na construção de seu Projeto Político-Pedagógico.
Ele é um processo permanente de reflexão e discussão
coletiva sobre as necessidades da escola, em busca de solução.
Por outro lado, essa prática propiciará a vivência
democrática, tão necessária a todos os membros da
comunidade escolar para o exercício da cidadania. Este trabalho
pretende relatar a experiência do Município de São
Gonçalo, quanto à implementação do Projeto
Político-Pedagógico em suas 70 unidades escolares, associada
à prática de uma gestão democrática, tendo
como fundamento as propostas dos autores Danilo Gandin, Ilma Passos, Edgar
Morin, Celso Vasconcellos, Moacir Gadotti, dentre outros. Importante destacar
o papel da equipe de Supervisores Educacionais da Rede nesse processo,
elemento indispensável na realização dos objetivos
naquele momento propostos. A Rede Municipal de Educação
de São Gonçalo ainda está neste processo. Vivenciar
e registrar experiência da construção do Projeto Político
Pedagógico é tarefa muito difícil. Sabe-se que a
memória é sempre parcial e fragmentada, porque muitas das
vezes perder-se ou omite-se a riqueza que envolve o cotidiano escolar.
Entretanto, o que se deseja com a esta experiência é estabelecer
as ações realizadas pelo coletivo, do passo a passo e do
como fazer na construção do Projeto Político Pedagógico.
Cartografia de imagens de práticas solidárias
Cleide Figueiredo Leitão (SAPÉ)
cleideleitao@yahoo.com.br
... a sucessão de tempo é também
uma sucessão de espaços
que percorremos e nos percorrem,
deixando em nós as marcas que deixamos neles.
Boaventura de Souza Santos
As fotografias e os relatos a partir dos quais
desenho uma cartografia de práticas solidárias fazem parte
do vasto material da experiência dos Coletivos de Autoformação
de Educadoras/es, dinamizada pelo SAPÉ ao longo de oito anos e
que se constituiu em um espaço de mediação de diferentes
práticas da educação de jovens e adultos e a necessidade
de refletir e teorizar sobre a ação, confirmando a importância
do cotidiano e da experiência, na criação e socialização
de saberes pelas próprias educadoras/es. Os Coletivos reuniam dois
grupos de educadores e educadoras, um no Rio de Janeiro (sudeste), outro
em Pernambuco (nordeste do Brasil).
Essa experiência de formação/autoformação
foi retomada e seu acervo ressignificado por ocasião da minha dissertação
de mestrado. Parte importante desse acervo foram as fotografias que no
decorrer do texto aparecem trançadas aos relatos oriundos das entrevistas
com algumas educadoras e a contribuição teórica e
literária sobre as questões que estão em discussão
como memória, imagens, práticas solidárias, formação/autoformação,
participação, cidadania etc.
O primeiro movimento que fizemos em direção a outros grupos
que atuavam como nós na educação de jovens e adultos
foi motivado tanto pelo desejo de compartilhar, trocar, debater, confrontar,
ações que só são possíveis no coletivo,
quanto por um sonho acalentado ao constatar a necessidade de investimento
na formação, de imaginar outras possibilidades para esse
processo, no qual pudéssemos a partir dos diferentes lugares, pertencimentos
e hoje posso dizer, redes de significações ampliar as relações
entre o que somos, sentimos, pensamos e fazemos. Fortalecendo a prática
pedagógica de cada experiência como também aprofundando
aquela que juntos tecíamos.
E o que impulsionou o movimento foi imaginar outras possibilidades para
o encontro, que foi diferenciado nos dois estados, em Pernambuco e no
Rio de Janeiro, por que cada local, cada cidade com suas paisagens, sua
gente, aromas, sons, formas e cores nos percorreu de forma diferenciada
como também nós as percorremos, sem esquecer que cada local
contém, também em pequena escala, o mundo.
Os saberes presentes no espaço dos Coletivos eram os mais diferenciados,
compondo um leque variado que ia desde aqueles explicitados a partir dos
sujeitos e de suas diferentes práticas, e que escolhíamos
discutir nos seminários, até aqueles que não tratávamos
especificamente como temas para discussão, mas que estavam presentes
o tempo todo e se insinuavam continuamente nas muitas conversas, nos intervalos,
nas saídas noturnas, na hora do cafezinho e que também faziam
parte do nosso processo de formação, tecendo as relações
de afetos e de práticas solidárias no grupo.
Essa comunicação pretende trazer para o debate a partir
das imagens dessa experiência a necessidade de aprender a ver a
beleza daquilo que ainda não existe; aventurar-se a buscar no invisível
o que é necessário para compreendermos o que vemos; aprender
a ver a complexidade que se expressa rebeldemente no cotidiano; a ver
e rever aquilo que foi ocultado por uma visão única, o que
as práticas sociais produzem. Aprender a ver, a sentir, tocar,
ouvir as alternativas que são cunhadas nos caminhos da solidariedade,
da ética e da estética, são possibilidades de uma
nova epistemologia da visão ou sociologia das ausências.
(Santos, 2000)
Movimentos Sociais e Institucionalização Democrática:
O Caso dos Profissionais da Educação Pública de Minas
Gerais
Carlos Alberto de Vasconcelos Rocha
PUC-Minas, Brasil
carocha@pucminas.br
O trabalho tem como objetivo geral discutir a relação
entre a presença de "capital social" numa dada sociedade
e os seus desdobramentos para a constituição de instituições
democráticas. O argumento sustentado é que há uma
tensão entre participação e institucionalização.
A lógica da ação social na sociedade difere da lógica
da ação em contextos institucionalizados. Tal afirmação
não é nova, mas justifica-se por ajudar a situar o debate
atual sobre o papel das instituições e da participação
social na construção da democracia. O caso abordado é
o movimento pela democratização da educação
pública no estado brasileiro de Minas Gerais, no contexto da luta
contra o regime autoritário brasileiro, ao longo da década
de 1980. No período, houve uma notável mobilização
dos profissionais da educação pública visando a democratização
das escolas, no sentido de estabelecer espaços de participação
para os pais, alunos e profissionais do ensino, e de privilegiar princípios
pedagógicos comprometidos com valores como cidadania e igualdade
social. Por cerca de uma década, os profissionais da educação
demonstraram grande capacidade de mobilização na defesa
de seus interesses. Em 1983, um grupo ligado a esses movimentos passa
a dirigir a Secretaria Estadual de Educação. Buscando estabelecer
um planejamento participativo para a política educacional, a Secretaria
organiza o I Congresso Mineiro de Educação, que abre espaço
para representantes de diversos setores sociais, em especial os profissionais
da educação, no sentido de definirem os objetivos da política
educacional estadual. O I Congresso contou com a participação
de cerca de cinco mil pessoas, representando diversos setores da sociedade
de todas as regiões do estado. Foi um marco da participação
social na definição de uma política pública.
Porém, no momento em que pessoas oriundas do movimento social passam
a ocupar os cargos de direção da Secretaria de Educação,
instaura-se uma tensão entre a lógica do movimento social
e a das instituições estatais. Mesmo de maneira tensa e
contraditória, no entanto, institucionalizam-se espaços
de participação da sociedade na gestão das escolas
públicas. Só que o vigor inicial da participação
se arrefece e esses espaços passam a ser caracterizados pela baixa
participação, burocratização das decisões,
que acabam por reproduzir a perspectiva da burocracia pública.
Ou seja, o funcionamento dos mecanismos participativos fica aquém
do que se podia prever pela capacidade de ação demonstrada
pelo movimento dos profissionais de ensino. O que o caso demonstra é
que a mobilização social é cíclica: quando
os objetivos são alcançados e a participação
social institucionalizada há um refluxo na participação.
Em parte isso se explica também pelo fato das lideranças
desses movimentos passarem a ocupar a direção de instituições
estatais. O poder no interior do Estado requer uma lógica que conflita
com a participação na sociedade. Ou seja, o sucesso do movimento
implica a sua própria decadência. No entanto, legam como
resultado a democratização das instituições
estatais.
Questões paradigmáticas da educação
do campo no Brasil: experiências emancipatórias em construção
Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus (Universidade Federal do Sergipe)
seano@infonet.com.br
A realidade agrária brasileira traz uma
série de questionamentos sobre as relações econômicas,
políticas e culturais no modo de organização da sociedade
capitalista que exclui inúmeros trabalhadores e trabalhadoras dos
direitos sociais básicos. Somente uma análise multidimensional
das relações que compõem o campo brasileiro poderá
ampliar as nossas interpretações sobre possíveis
alternativas de garantia dos direitos e da justiça social no campo.
Um dos elementos que será tomado como referência para pensar
sobre essas possibilidades é a Educação do Campo,
porque ela comporta essa multidimensionalidade e, se esta não muda
sozinha a realidade, é um meio estratégico para a construção
de um novo modelo de racionalidade do campo brasileiro com base em princípios
como a solidariedade e a participação dos movimentos sociais
e sindicais de trabalhadores rurais como sujeitos portadores/produtores
de cultura do campo que comporta as diferentes formas de viver e organizar
o tempo e o espaço do campo e da floresta.
A abordagem da Educação do Campo neste trabalho é
organizada como uma construção paradigmática emancipatória
em contraposição aos paradigmas educacionais integracionistas
de base neoliberal que tem como objetivo integrar os sujeitos a um modelo
de desenvolvimento econômico pautado pelo mercado. Este mesmo modelo
tem sido proposto para os demais países da América Latina
e da África. Discutir criticamente este modelo e as diferentes
formas de construção de uma Educação como
uma política pública que contribui para diminui a distorção
da inclusão entre gerações, etnias e cor, é
uma dos objetivos desta comunicação. Ao mesmo, tempo, esta
crítica comportará uma análise teórica sobre
o confronto de situações paradigmáticas hegemônicas
e contra hegemônicas em desenvolvimento e, como estas experiências
sinalizam uma outra possibilidade de reconstrução do presente
e do futuro de diferentes populações rurais que vivem no
campo e na floresta. Esta crítica está sendo desenvolvida
por meio de um recorte metodológico que prioriza três aspectos:
a relação entre campo e cidade, a relação
entre sujeito e objeto do conhecimento e a relação entre
conhecimentos e saberes da tradição e o conhecimento científico.
Todos esses elementos comportam uma reflexão cuidadosa porque eles
têm uma relação direta com as questões fundiárias;
de gênero, geração e etnia, os problemas da violência
no campo, concepção de desenvolvimento sustentável
com base na sociobiodiversidade e a construção de cadeias
produtivas do campo e da floresta, entre outros.
Espera-se que o resultado final das análises possa dar condições
para captar as inovações educacionais que possam vir subsidiar
políticas públicas de educação entendidas
como meio para a reconstrução da identidade dos sujeitos
e a reorganização do próprio espaço em que
vivem; o desenvolvimento de propostas curriculares em Educação
do Campo de acordo com as potencialidades de cada povo e com a realidade
cultural e socioambiental; Avaliar o alcance das metas e dos projetos,
bem como as conseqüências das orientações oriundas
dos países centrais e financiadas pelo Banco Mundial; analisar
a elaboração e a implementação de projetos
de Educação para os trabalhadores do Campo em âmbito
nacional e internacional com a participação dos movimentos
sociais e sindicais de trabalhadores rurais e, ampliar a rede de pesquisadores
em Educação do Campo com a participação de
movimentos sociais e sindicais de trabalhadores rurais, ong's, pastorais
e demais instituições públicas.
Movimentos sociais e educação: construindo novas
sociabilidades e cidadania
Maria do Socorro Xavier Batista
Universidade Federal da Paraíba
sxavier@terra.com.br; socorroxavier@ce.ufpb.br
Este ensaio resulta das discussões e estudos
que realizamos no projeto de pesquisa Educação e movimentos
sociais: a cidadania em construção, da Linha de Pesquisa
do Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), do Centro de Educação da Universidade Federal da
Paraíba que aglutina e integra as diversas temáticas dos
pesquisadores professores e estudantes dessa da temática. Busca-se
refletir sobre os movimentos sociais no contexto atual e a importância
desses movimentos como instituintes de práticas educativas de novas
sociabilidades, de busca e de afirmação da cidadania para
os setores excluídos da sociedade capitalista no Brasil.
Desde as décadas de 1970 e 1980 os movimentos sociais se evidenciam
como importantes atores na cena política brasileira, como conseqüência
da organização, das mobilizações dos setores
excluídos, das conquistas que lograram. A partir da década
de 1990 esses movimentos, apesar de vivenciarem uma crise, em conseqüência
da conjuntura instaurada pela nova ordem mundial cada vez mais mundializada,
dos desdobramentos políticos, sociais, éticos, culturais,
diante das relações de exploração e de poder,
os sujeitos sociais que compõem os segmentos mais atingidos pelos
efeitos nefastos desse capitalismo predatório engendram novas formas
de resistência constituindo uma rede de movimentos sociais que vem
desenvolvendo diversas ações coletivas de protestos, de
organizações que oferecem alternativas e propostas para
uma nova sociedade, formando um verdadeiro movimento que questiona esse
capitalismo globalizado. Tal movimento se manifesta contra os constantes
ataques do capital contra os direitos sociais, o avanço da miséria
e das desigualdades que vêm crescendo desde os anos 1980, contra
as repercussões desse modelo nos países ricos da Europa
e Estados Unidos, mas que se manifesta de forma mais dramática
na África e na América Latina, onde os problemas globais
tomam dimensão catastrófica especialmente no que diz respeito
às questões ambientais, de direitos humanos, democráticos
e trabalhistas, da produção cultural, da violência,
as drogas e a contravenção. Segundo Leite (2001, p.2), "generaliza-se
a percepção de que qualquer combate ao sistema que pretenda
eficácia tem que se articular internacionalmente".
As estratégias utilizadas pelos movimentos sociais combinam ações
de resistência e de enfrentamento como protestos, passeatas, onde
se aglutinam os diversos segmentos ou categorias de classe, que contam
com o apoio e a solidariedade de amplos setores, até a vivência
e a troca de variadas experiências concretas, pulverizadas, de alternativas
ao modelo capitalista de produzir e de viver, que são realizadas
nos mais variados locais. Destacam-se a criação do Fórum
Social Mundial e o Fórum Mundial de Educação como
momentos ímpares de encontro de pessoas dos mais diversos movimentos,
que propiciam trocas e intercâmbios de experiências e conhecimentos
dos diversos setores populares que formam uma ampla rede mundial.
Nesses movimentos e nas lutas por eles empreendidas são vivenciadas
experiências e propostas de educação popular, destacando-se
as experiências de escolas comunitárias, as milhares de experiências
e programas de educação popular em ONGs, associações
comunitárias, práticas de economia solidária, e as
propostas e programas de Educação dos Movimentos sociais,
especialmente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Quanto à dimensão educativa dos movimentos sociais destacam-se
as várias experiências sócio-educativas, a dimensão
pedagógica do movimento,as práticas educativas, a educação
popular, a educação não formal, expressões
utilizados para falar das experiências vividas no cotidiano dos
movimentos sociais e das aprendizagens que a participação
nos movimentos propicia com suas múltiplas dimensões: políticas,
culturais, subjetivas, simbólicas, afetivas, que trazem novas matrizes
discursivas para a educação.
Educação e cidadania: uma análise da participação
dos estudantes em movimentos de protesto
Ana Maria Seixas - Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Coimbra; Centro de Estudos Sociais da Universidade
de Coimbra
Numa época em que se enfatiza o afastamento
dos cidadãos e sobretudo dos jovens das questões políticas,
e em que muitos comentadores e analistas avançam epítetos
negativos sobre as acções e as atitudes das juventudes estudantis,
pretendo nesta comunicação apresentar alguns resultados
de uma pesquisa em curso que permitem apreender as lógicas de mobilização
e de liderança dos movimentos estudantis do ensino não superior,
os valores invocados e o complexo jogo identitário que deriva dessas
acções, contribuindo para uma melhor compreensão
dos movimentos estudantis enquanto movimentos sociais.
Como sublinha Borredon, nos movimentos de protesto os estudantes "praticam
e reivindicam um estatuto de actor quer na esfera política quer
na esfera educativa" (1996:36), construindo e expressando uma forma
de identidade colectiva. Acusados de pouco interesse, envolvimento e participação
na esfera política, os estudantes revelam capacidade de forte mobilização
em momentos precisos. Contudo, cabe realçar que os movimentos estudantis
actuais não se podem comparar com os movimentos estudantis dos
anos 60 e 70, dada a diferença de contextos sociais das duas épocas.
Esta comunicação tem por base empírica uma análise
de imprensa e, fundamentalmente, entrevistas feitas a estudantes do ensino
secundário, sendo alguns dirigentes associativos dinamizadores
do Movimento das Associações de Estudantes do Ensino Secundário
de Coimbra (MAEESC). Analisa-se a forma como os estudantes interpretam
as suas acções de protesto, salientando os principais motivos
e lógicas de justificação evocados quer para uma
participação activa quer para a sua não participação.
Relativamente aos primeiros procura-se, também, compreender a sua
percepção quantos aos recursos e estratégias de mobilização
que accionam. Abordo, ainda, a maneira como vêem o papel da escola,
numa época onde a educação para a cidadania que visa
a formação de cidadãos conscientes e participativos,
é por demais salientada.
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