A questão agrária e o papel da mulher
na construção da PAZ no Campo em Sergipe Nos últimos vinte anos a luta pela terra
vem organizando novos espaços rurais em todo o país através
das ocupações de terra, implementados pelos movimentos sociais
e sindicais do campo. Essas ocupações têm se revestido
de verdadeiros espaços de recriações sociais, políticos,
econômicos e culturais de milhares de brasileiros e brasileiras.
No entanto, como o próprio nome já diz, estão sempre
em luta e, essa não tem sido pacífica em nenhuma região
do Brasil.
Dilemas e conquistas da cooperação agrícola
nos assentamentos rurais do MST no Brasil No ano de 2004, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST completa 20 anos de fundação. Neste período, este movimento consolida-se como a principal força de luta pela terra e pela Reforma Agrária no Brasil. Suas ações têm como finalidade pressionar os governos a assentarem famílias sem-terra e adotarem uma série de medidas para implementar um programa de Reforma Agrária no Brasil que altere a estrutura fundiária e que sirva de base para transformações profundas em toda a sociedade brasileira. Neste campo, a violência ainda é um fator bastante presente sendo que o próprio Governo Brasileiro reconhece o assassinato de 243 pessoas ligadas a disputas de terras entre 1995 e 2002. Também temos presentes as implicações da adoção, principalmente na década de 1990, de políticas neoliberais no Brasil, que, entre outras conseqüências, ocasionou aceleração da queda do número de pessoas que moram na área rural e estimulou práticas agropecuárias destinadas prioritariamente a exportação de matérias-primas básicas. Assim, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), se por um lado o número de assentamentos aumentou, não por coincidência, no mesmo período em que também aumentaram as ocupações de terra, por outro lado o abandono do campo fez com que a estrutura agrária mantivesse características coloniais, como a grande concentração de terras, como demonstra o calculo do índice de Gini. Entre as práticas desenvolvidas pelo MST está também a Cooperação Agrícola, considerada por este como a principal alternativa para a viabilidade socioeconômica das famílias assentadas. Dentro desta proposta são constituídas diversas cooperativas em todo o país. O modelo ideal defendido pelo MST são as Cooperativas de Produção Agropecuária - CPAs, que geralmente possuem as moradias organizadas em agrovilas, os meios de produção de posse coletiva e presença da especialização do trabalho entre os agricultores assentados. Mas devido a diversidade sociocultural presente na população rural, consta-se que são praticadas diversas formas de cooperação dentro e entre os assentamentos rurais além de, em algumas regiões incorporar pequenos produtores já estabelecidos. Essa população acaba por apresentar resistências ao modelo coletivo de produção, como também a sua inserção no sistema capitalista como um pequeno produtor que tem como horizonte a busca do lucro. Essa resistência apresenta como uma de suas causas, o desejo de autonomia do camponês, já que o mesmo encontra-se inserido em um meio em que relações seculares de dominação de grandes proprietários, no passado sobre os escravos e depois sobre pequenos colonos, posseiros, meeiros e arrendatários, cristalizou valores de submissão e dependência, com o qual os camponeses desejam romper. Desta forma, com base em trabalhos científicos, materiais publicados pelo próprio MST e dados divulgados sobre a estrutura fundiária, violência e Reforma Agrária, analisamos a proposta de cooperação agrícola do MST e as implicações da resistência dos camponeses ao modelo coletivo de produção e também ao racionalismo capitalista. Essa pesquisa, a qual ainda está em desenvolvimento, nos levou a algumas considerações/inquietações teóricas necessárias ao tema focalizado: Reforma Agrária como ação econômica, política e social incompleta no país; cooperação agrícola relacionada a prática social; os Dilemas e Conquistas dos Movimentos Sociais no Campo e a Prática Social atrelada à diversidade cultural.
A Participação da Trabalhadora Rural na Agricultura
Familiar Historicamente as mulheres trabalhadoras rurais têm desenvolvido relevante papel na agricultura familiar. Elas são responsáveis por parte da produção agrícola da família, criação de pequenos animais, cultivo de hortaliças e fruteiras. Apesar disso, no campo dos direitos as mulheres rurais têm colhido poucos benefícios no que se refere a políticas e programas de Reforma Agrária e a segurança agrícola que compreende o direito a titularidade da terra, acesso a crédito e às políticas de desenvolvimento. Não tem sido dada a devida atenção às demandas das mulheres rurais na elaboração de programas e projetos. O pouco acesso a terra e ao crédito agrícola, acrescido também da dificuldade de associação nas cooperativas, as agricultoras não dispõem de garantias para os empréstimos ou acesso aos implementos agrícolas. Um outro aspecto importante é a predominância de políticas voltadas para culturas comerciais para exportação e não para produção de alimentos para o consumo doméstico. O modelo de desenvolvimento agrícola centrado na agroindústria exportadora, com salários baixos e diferenciados entre homens e mulheres, acarreta para as mulheres a responsabilidade da produção familiar: horta caseira, roça, feijão, milho, fruteiras.
Mulheres pioneiras na luta pela terra: das ligas camponesas ao
sindicalismo rural na Paraíba. Esta comunicação analisa as "Práticas
Educativas de Lideranças Femininas na Luta pela Terra/PB (1960-
1990)", enfatizando a ação de três lideranças:
Margarida Maria Alves; Elizabeth Teixeira e Maria da Penha Nascimento.
Busca-se recuperar a memória individual e coletiva das atividades
educativas específicas (discursos pedagógicos, militantes,
familiares) que fazem parte das tarefas, de formação política
de tais lideranças, e sua relação com os movimentos
sociais, a exemplo das mobilizações contra o latifúndio
que são de natureza e de caráter educativo. Tendo como objetivo
geral analisar o percurso cotidiano das lideranças para identificar
aproximações e distanciamentos de uma prática educativa,
bem como, os parâmetros de construção dos seus saberes.
E como específicos, Identificar e interpretar o conjunto de ações
educativas, de mulheres protagonistas na luta pela terra, a partir de
uma maior compreensão sobre os mecanismos das memórias individuais
e coletivas/sociais, para que sejam recompostas as suas contribuições
à educação e aos movimentos sociais, além
de Identificar as falas e escritas destas mulheres, e o seu grau de apreensão
da problemática fundiária e do significado da sua exclusão
de classe e de gênero, na aferição de respostas as
complexidades, em que estejam inseridas. Este trabalho faz parte da nossa
dissertação no programa de Pós-Graduação
da UFPB, estado da Paraíba, no nordeste brasileiro, que têm
como metodologia adotada as seguintes etapas: A Pesquisa bibliográfica,
tendo como referência teórico-metodológica à
Nova História Cultural (Roger Chartier; Michelle Perror, entre
outros). A pesquisa documental que busca cotejar o conhecimento histórico
com o conhecimento no campo da Educação Popular. A análise
de discurso que será constituída, a partir das leituras
das escritas das lideranças Elizabeth Teixeira, Margarida Maria
Aves e Maria da Penha Nascimento, presentes em documentos, a exemplo dos
relatórios dos sindicatos (onde atuaram); artigos e livros elaborados
pelas lideranças e/ou em parcerias; relatórios de Comissões
Parlamentares de Inquérito, em que estas prestaram depoimentos
sobre a violência no campo, entre outros. E a Pesquisa Participante
que trata da inquirição de trabalhadores (as) rurais; familiares;
sindicalistas; religiosos e feministas sobre como foi incorporado o conjunto
de ações educativas e pedagógicas das referidas lideranças
no seio destes movimentos. O corte cronológico (1960-1990) do presente
projeto, consiste em marco de transição, que vai da conjuntura
do país, no contexto da ditadura militar, com fortes repressões
aos movimentos organizados do campo e da cidade, até à "reabertura
democrática", possibilitando às eclosões dos
movimentos de massa, em especial, do movimento de organização
dos trabalhadores (as) do campo, em que, além das Ligas Camponesas
e sindicatos rurais, entra em cena, a CPT (Comissão Pastoral da
Terra) e o MST(Movimento dos trabalhadores Sem Terras), embora, na Paraíba,
neste período, a maior atuação tenha passado pelas
Ligas Camponesas, a CPT e os sindicatos rurais. Assim, a temática
abordada trata de recuperar uma memória viva de mulheres pioneiras
nos movimentos sociais que se constitui enquanto paradigmas de lutas na
história das mulheres e na luta das trabalhadoras (es) rurais.
Enfim, o resultado de tais ações revelam uma prática
educativa cotidiana que tem como pilares, bases de um espaço público,
o ser liderança, e o espaço privado, o ser mulher.
Mulheres sem terra (Brasil) e mulheres da Serra do Caldeirão
(Portugal): lutas, solidariedades e diálogos possíveis Este artigo é baseado numa intensa e prolongada
vivência de dois trabalhos de campo realizados em Portugal e no
Brasil. O primeiro foi realizado na Serra do Caldeirão, região
rural do Algarve, Sul de Portugal e o segundo no Sertão de Sergipe,
Nordeste do Brasil no Assentamento Jacaré-Curituba; ambos ocorreram
no âmbito de um estudo comparativo Brasil-Portugal do Programa de
Doutoramento em Sociologia da Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra. Nesta perspectiva, o trabalho de campo como um todo buscou conhecer
e reflectir sobre o conjunto de acções implementadas pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Associação
In Loco em prol do desenvolvimento local e da inclusão social.
Foi buscando uma abordagem mais ampla sobre estes dois temas que a questão
das mulheres emergiu na perspectiva dos reconhecimentos, do trabalho e
da democracia.
No contexto em que os indicadores numéricos da Reforma Agrária têm sido objeto de polêmica, especialmente entre os movimentos dos trabalhadores rurais e o Ministério do Desenvolvimento Agrário, esse último toma a iniciativa de realizar o Censo da Reforma Agrária 2002, dividido no Módulo Projeto e Beneficiário, com a finalidade de identificar e caracterizar a situação socioeconômica das famílias assentadas em projetos de assentamentos da Reforma Agrária em todo o Brasil. Nossa proposta é apresentar uma análise dos dados obtidos a partir do levantamento censitário realizado em 30% dos assentamentos da Reforma Agrária do Estado de Minas Gerais com as finalidades tanto de caracterizar os assentados mineiros quanto à faixa-etária, sexo, etc. como de apresentar sua opinião sobre a concessão de créditos, origem da renda monetária e condições de vida a partir da posse da terra. A abordagem metodológica utilizada incluiu visitas aos lotes para aplicação de questionários Do total de 1.899 lotes visitados, foram entrevistados 1.852 beneficiários. O trabalho de campo foi efetivamente realizado nos meses de novembro e dezembro de 2002. A maior parte da população assentada no estado é formada por jovens do sexo masculino. Os dados revelam que 70% dos assentados tinham sua origem ligada ao trabalho na terra. Entre os assentados a atividade econômica que mais se destacou foi a pecuária. Foram identificados 1.762 participantes em organizações sociais que funcionam dentro dos projetos de assentamentos onde se localizam os lotes. Com relação à posse da terra, podemos verificar que 92,98% dos assentados estão satisfeitos com suas atuais condições de vida. Com relação às condições de produção/comercialização, 62,85% dos entrevistados disseram ter melhorado com o acesso à terra propiciado pela reforma agrária. Do total de 1852 trabalhadores rurais questionados sobre se a educação representaria um dos fatores relevantes para a melhoria de suas condições de vida, 56,75% dos beneficiários disseram ter ocorrido melhora em sua situação em relação a sua vida antes de se tornar beneficiário. Considerando que no seu caráter finalístico a Reforma Agrária se constitui em um instrumento de democratização, não só através de políticas de redistribuição de terra como, também, de outros meios de produção, além da ampliação do acesso aos benefícios relativos aos poderes político, econômico e social que visam permitir a todos os cidadãos a realização plena de seus direitos fundamentais, se pode afirmar, com base nos dados, que o caso mineiro é representativo de outras tantas realidades rurais, ou melhor, reflete o quanto o Programa de reforma agrária e a sua promessa de tornar seguro o acesso a um dos recursos de produção primários constitui, ainda, uma parte importante de qualquer agenda progressista. A reforma agrária que está sendo implementada no Estado de Minas Gerais, embora caminhe na direção certa, avança de forma lenta e desorganizada. Ações que deveriam ser seqüenciais acontecem de modo assimétrico e descontínuo, especialmente devido à baixa capacidade operacional do INCRA mineiro, resultante da restrita disponibilidade de recursos e relevante morosidade nos processos de desapropriação junto à justiça. Sugerimos que se articulem espaços de socialização e cruzamentos de dados coletados nos demais espaços incluídos na amostra da pesquisa no âmbito nacional, uma vez que estudos comparativos viabilizariam a localização de recorrências e descontinuidades entre as diversas realidades, dadas as especificidades dos processos sociais, culturais, políticos e econômicos de constituição dos projetos de assentamentos, condição que, sem dúvida, contribuiria de forma determinante para ampliar a compreensão sobre os fenômenos caracterizados bem como para a definição de alternativas com vistas à aquisição de melhores resultados do Programa. |
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