Cidadania e movimentos sociais: uma relação
paradoxal Renata Gonçalves (Universidade de Campinas) regon@unicamp.br Pretendemos
abordar o paradoxo existente na relação cidadania e movimentos
sociais, procurando suscitar algumas reflexões sobre as implicações
político-ideológicas que os vários usos da noção
de cidadania trazem para os movimentos sociais. Origens Sociais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra O trabalho propõe uma reflexão sobre as origens sociais dos sem-terra, com base em uma pesquisa desenvolvida em acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado de Santa Catarina, Brasil. Consideramos o trabalhador sem-terra como um sujeito social coletivo, constituído historicamente no processo de resistência contra a concentração da propriedade que caracteriza até hoje o desenvolvimento agrário brasileiro. Buscamos compreender e explicar sua natureza e trajetória política face às transformações econômicas e políticas que priorizam o grande capital latifundiário. As temáticas abordadas são a natureza de classe dos trabalhadores sem-terra, as origens sociais e a constituição do MST. Desde a década de oitenta, os sem-terra constroem uma identidade social comum chamada MST. Por meio de inúmeras ocupações de terra, espalhadas inicialmente na região sul do país, e alastrando-se posteriormente por todo o país, por meio de diversos tipos de mobilizações (ocupação de prédios públicos, caminhadas e manifestações), os desamparados da terra do início do movimento transformam-se em um sujeito político, nacionalmente conhecido e reconhecido, os "Sem Terra", um movimento social de novo tipo que se organiza na luta incessante para sobreviver com o próprio trabalho, o que exige a confrontação política da classe proprietária e do Estado. As origens sociais do MST em Santa Catarina podem ser encontradas no processo migratório internacional, o qual exportou uma grande massa de trabalhadores descartáveis para diversos países, entre eles o Brasil. Nos acampamentos e assentamentos do MST, observamos traços e sotaques italianos e alemães, misturados aos indígenas e aos caboclos (os quais emergem no contexto da construção da estrada de ferro e do Movimento do Contestado em Santa Catarina). Os sem-terra expressam o histórico processo de exploração dos trabalhadores, os quais vagueiam pelo mundo em busca de trabalho.
Para Touraine (1991) a sociedade atual se caracteriza
por uma exclusão extrema que permeia os indivíduos por meio
de relações horizontais do tipo in/out. Estas relações
fazem parte de outros processos sociais e aciona desdobramentos relevantes
como a ausência de integração social de parcelas da
população. Estes fatores geradores contemporâneos
vão além dos mecanismos anteriores de exclusão econômica,
mas englobam as dimensões culturais e simbólicas e, por
isso, demandam transformações sociais e culturais no seu
processo de resolução. A exclusão contemporânea
invade os espaços culturais e simbólicos da realidade social
por meio de práticas de guetização cuja imagem veiculada
nas mídias reafirmam este processo. Trabalho e Consciência de classe: A história de
Dona Antônia e de Dona Maria na luta pela terra. O objetivo desse trabalho é buscar compreender a formação e o desenvolvimento da consciência de classe em Trabalhadores Rurais Sem Terra que realizaram a primeira ocupação de terras organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST no estado de Minas Gerais. Compreender a formação dos Sem Terra mineiros a partir das experiências singulares de trabalhadores e trabalhadoras, dando um enfoque específico à construção da história de vida de mulheres. Adotamos uma postura de diálogo e convivência com os Sem Terra, e estabelecemos uma relação de troca de saberes, segundo os ensinamentos de Paulo Freire e Carlos Rodrigues Brandão. Realizamos uma pesquisa de campo participativa, que levou em conta a experiência de alguns trabalhadores do Assentamento 1o de Junho, aonde participamos do cotidiano da agrovila e realizamos as entrevistas mais importantes para esse trabalho. Da mesma forma, realizamos visitas e acompanhamos os trabalhadores aos acampamentos Resistência (localizado em Jequitibá, próximo a Sete Lagoas), 6 de Julho e Terra Prometida (localizados em proximidades de Tumiritinga, às margens do Rio Doce), e em diferentes manifestações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, como: Encontros, Marchas e acampamentos urbanos. Realizamos, também, pesquisas documentais sobre a história do MST em Minas Gerais, através dos arquivos do Centro de Documentação Eloy Ferreira (CEDEFES) e os arquivos da Secretaria do MST em Governador Valadares, que conta com os registros mais antigos do Movimento no Estado. Ao enfocarmos a reconstrução de histórias de vida de Dona Maria e de Dona Atonia, ambas assentadas em 1o de Junho e participantes da 1a ocupação do MST no Estado de Minas Gerais, fazenda Aruéga, pudemos perceber toda uma trajetória de resignificação da ocupação de terras. Através desta metodologia foi possível analisar três categorias: a) cotidiano; b) memória; e c) desenvolvimento da consciência de classe. Nesse sentido pudemos destacar: a) a importância da mulher na luta pela terra; b) a interferência da maternidade na vida dessas mulheres e a sua relação direta com a luta pela terra; c) a transformação da consciência de classe a partir da ocupação de terra. A importância deste trabalho se revela quando lemos os depoimentos na íntegra e podemos perceber a riqueza da narrativa dessas mulheres, o que é expresso no seguinte trecho de Dona Maria: Eu esqueci de te contar que... Mode nós chegou lá na Aruega, que nós andou uma distançona à pé e carregando os sacos na cacunda. Esqueci! O pior peso eu larguei pra traz... Aí eu falei: ? Eu tenho que começar é por aqui! Começar aonde que a gente andou a noite toda de carro. Mas quando foi pra chegar na terra mesmo, não teve estrada não. Fechou, sabe? A partir dessa passagem, que se refere ao 1o dia de ocupação de terras organizado pelo MST em Minas Gerais, dá início uma longa narrativa que possibilita a construção de diversas análises para nós pesquisadores. Acreditamos que a possibilidade dessa pesquisa se deu, principalmente, a partir do relacionamento que estabelecemos com os Sem Terra. Talvez uma contribuição importante deste trabalho seja a possibilidade de fazer a passagem entre os conceitos de memória coletiva e consciência de classe. No nosso caso, apreendendo o significado da ocupação de terras para os Trabalhadores Sem Terra.
Movimentos sociais e experiência geracional: a vivência
da infância no Moviemtnos dos Sem Terra A recente produção sociológica
brasileira voltada para análise dos movimentos sociais contemporâneos,
tem tido como foco privilegiado o estudo do papel de novos atores, protagonistas
de tais movimentos, com suas inscrições identitárias
múltiplas, definidoras de novas estratégias de ação
social. Nessa perspectiva, vem se alargando as categorias sociológicas
de apreensão dos sujeitos, desde a ressignificação
do conceito de classe, até a incorporação de outras
categorias geradoras de identidades sociais, tais como gênero, raça,
religião, trabalhadas no seu entrecruzamento. Mais recentemente,
uma série de trabalhos tem se voltado para o estudo do protagonismo
juvenil na cena contemporânea e, com isso, conferido centralidade
a categoria geração na análise dos processos identitários. |
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