|
Estruturas políticas de base e democracia em Moçambique:
Um olhar sobre os Secretários de Bairro.
Elísio Jossias
elisioj@yahoo.com.br
Os debates sobre a articulação do Estado com as comunidades
locais sobrevalorizam as "Autoridades Tradicionais"muito por
culpa das transformações sócio-políticos que
ditaram o seu ressurgimento enquanto discurso e prática. Estes,
são apresentadas como o mecanismo ideal para a legitimação
do Estado junto das populações fruto duma constatação
empiríca da relativa "falência" do Estado.
Estes discursos são acompanhados por um
"paradigma" de entendimento que advoga a ilegitimidade da Administração
do Estado, vista como recusa das populações em ser geridas
pelas estruturas administrativas montadas logo após a independência.
Resultam também da noção do Estado apropriador de
bens públicos, isto é, o paradigma segundo o qual os detentores
dos cargos públicos apropriam-se dos bens do Estado para benefíco
próprio ou colhem benefícios à custa dos cargos que
ocupam levando muitas vezes à acumulação, processo
que é suposo verificar-se em todos os níveis da administração
Estatal.
Porque o Estado constitui-se a partir da complexidade
de relações sociais preocupa-nos perceber os mecanismos
de diferenciação interna ao nível local, discutir
a forma como este processo foi vivido pelas pessoas que ocuparam esses
cargos. Deste modo será possível chegar a um melhor entendimento
do processo histórico e do processo político local, das
práticas do Estado, da articulação com as Autoridades
Tradicionais e por fim analisar o fundamento dessa realidade social tentando
discutir a articulação histórica que se estabeleceu
entre os Secretários de Bairro e os restantes grupos sociais. É
importante também ver o impacto da lei 15/2000 (que institui as
autoridades comunitárias) no conjunto dessa articulação.
Capital social e reformas políticas: O caso dos Fóruns de
Desenvolvimento Regional Integrado de Santa Catarina
Walter Birkner - Universidade do Contestado
cienciassociais@cni.unc.br
O trabalho se propõe a apresentar os resultados
gerais de uma observação sobre a experiência dos Fóruns
de Desenvolvimento Regional Integrado de Santa Catarina. Representando
um processo de descentralização governativa e de aproximação
entre a esfera governamental e a sociedade civil, estes fóruns
emergiram com o intuito de contribuir para a reflexão e construção
de alternativas ao desenvolvimento regional, em resposta à insuficiência
estatal diante da crise fiscal e do processo de mundialização
da economia, cujos efeitos se manifestaram no Brasil a partir da década
de noventa.
Do ponto de vista investigativo, estes Fóruns representam arranjos
políticos destinados à construção de sinergias
entre governo e sociedade civil e à formação de capital
social para a promoção do desenvolvimento sustentável.
Nessa direção, o objetivo geral da investigação
foi o de analisar uma experiência concreta na tentativa de promover
capital social para a geração desse tipo de desenvolvimento.
Constituindo-se em instâncias intermediárias entre o governo
estadual e os municípios, estes fóruns surgiram por iniciativa
mista entre a sociedade civil organizada e atores político-institucionais
locais/regionais, logo associados ao próprio governo estadual.
O propósito geral dessas organizações tem sido o
de refletir os problemas do desenvolvimento regional, e formular por meio
de um processo participativo, as alternativas que possam ser inseridas
nos processos decisórios que definem as políticas de desenvolvimento
no estado catarinense. Sua incumbência consiste em reunir representantes
de vários setores da sociedade civil em cada microrregião,
para a constituição de articulações integradas
que fortaleçam a busca da solução de problemas cada
vez mais identificados como fatores comuns aos vários municípios
de uma região e, portanto, não solucionáveis por
intermédio de ações isoladas. Assim, na medida em
que esses fóruns se incumbem de promover a busca integrada de soluções
ao desenvolvimento, reunindo vários segmentos da sociedade regional,
configuram-se, por extensão, em novos arranjos políticos
de fortalecimento da democracia e de fomento ao capital social.
Recentes trabalhos nas ciências sociais tem permitido a associação
temática do desenvolvimento às formas de organização
de cada sociedade, compreendida a complexidade das relações
sociais, suas formas de estruturação e os costumes daí
oriundos, formando seus complexos culturais e institucionais. Estas formas
passaram a ser consideradas fatores eventualmente explicativos do desenvolvimento
econômico como também do desempenho político-institucional,
subsidiando uma interpretação mais sociológica do
que propriamente econômica sobre o desenvolvimento. Por conseqüência
disso, a explicação sociológica acabou por proporcionar
uma importante relação de causa e conseqüência
entre democracia e desenvolvimento que, não sendo nova como mostrou
Tocqueville em Democracia na América, foi subjugada, quando não
invertida, nas últimas décadas.
Nesse sentido, é importante reconhecer a contribuição
do cientista político Robert Putnam [1996] que, com a publicação
de Comunidade e Democracia: a experiência na Itália moderna,
desencadeou uma série de trabalhos empenhados em refletir sobre
as suas conclusões. Utilizando a idéia-força de capital
social, entendido como um conjunto de fatores sócio-culturais propiciadores
do desenvolvimento, o autor sugere 1] que o capital social, produto do
longo tempo histórico, ajuda a compreender porque algumas sociedades
tem maior facilidade que outras na promoção do desenvolvimento
e na resposta a crises econômicas; e 2] que o capital social pode
ser alcançado, numa definição de tempo que varia
para cada sociedade, por meio de reformas políticas eficientes.
Assim, a análise dos referidos Fóruns se inscreve na perspectiva
de identificar nessa experiência a tentativa de construir ou mesmo
fomentar ambientes de capital social através de arranjos políticos
para a promoção do desenvolvimento regional.
Orçamento Participativo Estadual: Perfil Social e Político
de seus Participantes
Benedito Tadeu César (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
btcesar@portoweb.com.br
O Orçamento Participativo - procedimento
democrático-participativo instaurado em Porto Alegre, no primeiro
governo do Partido dos Trabalhadores - foi transplantado para o âmbito
estadual tão logo o mesmo partido político foi eleito para
administrar o estado do Rio Grande do Sul, no final da década de
1990. Fórmula vitoriosa em nível municipal, renovada nas
sucessivas administrações petistas da capital gaúcha
e rapidamente disseminada, com variações na fórmula
utilizada, por mais de uma centena de outras administrações
de mesmo nível no Brasil (Avritzer, 2003), dirigidas por diferentes
partidos políticos, seu teste de nível estadual limitou-se,
até aqui, a uma única e localizada experiência.
Implantado em um estado com longa tradição popular-organizativa
e com um elevado padrão de polarização ideológica,
o Orçamento Participativo Estadual (OPE) teve seu ineditismo antecipado
por, no mínimo, duas outras experiências participativas de
abrangência semelhante à sua no Rio Grande do Sul: os Conselhos
Regionais de Desenvolvimento (COREDE) e a Consulta Popular, ambos transcorridos
após a implementação do OP de nível municipal
em Porto Alegre.
Tal qual as duas experiências participativas que lhe antecederam,
as quais não sobreviveram aos governos dos partidos que as implementaram,
o OPE foi sucedido, após a derrota petista nas eleições
para o governo do estado, por um novo instrumento de consulta social,
denominado Processo de Participação Popular (PPP), implantado
pela administração peemedebista, no exercício de
novo mandato de nível estadual.
Intensamente estudado em sua fórmula municipal (Santos, 2003 e
Avritzer e Navarro, 2003) devido à precedência, permanência
e disseminação, o modo participativo de construção
do orçamento estadual, mesmo tendo se transformado em importante
instrumento de disputa político-eleitoral, além de sua importância
como mecanismo de ampliação democrática e de sua
eventual eficácia na distribuição dos recursos públicos,
tem sido objeto de um número ainda bastante restrito de investigações
e análises acadêmicas (Farias, 2003).
Centrado no estudo do OPE, a comunicação tem como objetivo
traçar o perfil sócio-econômico e político
de seus participantes, investigar os segmentos sociais que o compõem,
sua identidade política e, finalmente, sua avaliação
do OP/RS como instrumento de participação democrático
popular.
Contando com financiamento de pesquisa concedido pela FAPERGS, em parceria
com o Gabinete de Relações Comunitárias (GRC) do
Governo do Estado do RS, foi possível acompanhar a experiência
de implantação do OP/RS durante o período de 2000
a 2002, ou seja, durante o segundo, terceiro e quarto ano de sua existência.
Para este acompanhamento foi aplicado um total de 3039 questionários
auto-respondidos entre os integrantes dos três níveis cruciais
de deliberação interna do OP/RS: os presentes às
Assembléias Públicas Municipais (APM), os delegados nelas
eleitos e os conselheiros, eleitos pelos delegados.
Acompanhou-se, assim, desde o nível de maior afluência popular,
através da aplicação de 1465 questionários
auto-respondidos entre os presentes às APM ocorridas durante o
ano de 2001, nas quais, pelo voto individual e direto de cada cidadão
presente, foram definidas as demandas de investimentos públicos
estaduais de cada localidade, até os níveis mais elevados
de negociação técnico-política e de decisão
interna ao próprio OP/RS, através da aplicação
de 1574 questionários, durante o ano de 2002, entre os Delegado
e conselheiros , responsáveis por concluir a proposta orçamentária.
A aplicação de questionários durante as APM permitiu
que se colhessem dados em 56 diferentes municípios, distribuídos
por todas as regiões do estado, garantindo-se a abrangência
da amostra e sua diversidade. A aplicação de questionários
entre os delegado e conselheiros permitiu, por sua vez, que se colhessem
dados sobre as diferenciações sociais e políticas
por ventura existentes entre os integrantes das diferentes instâncias
de participação no OP/RS.
Participação popular nas políticas públicas:
a trajetória dos conselhos de saúde do Sistema Único
de Saúde no Brasil.
Ilse Gomes Silva (Universidade Federal do Maranhão)
ilse@elo.com.br
No Brasil, o final da década de 1970 se
constituiu em marco histórico para os estudos sobre a democracia
e a participação popular. Nesse período, surgiram
uma série de movimentos sociais ou, nas palavras de Sader (1988),
"novos personagens entraram em cena", questionando as formas
tradicionais de organização e prática política,
as estruturas sociais e o regime político do país.
Os movimentos populares dessa época foram identificados como os
"novos movimentos socais" por romperem com a forma de organização
e prática política dos movimentos do período populista
de 1945. Apresentavam como novidade a politização do cotidiano,
num processo de recriação dos espaços públicos.
Eram heterogêneos na base social dos sujeitos envolvidos, bem como
nas respectivas concepções políticas. Havia uma diversidade
nas manifestações de luta e nas formas de organização
de base. Se desenvolveram por fora da institucionalidade, reivindicando
direitos sociais e a democratização do Estado. Responsabilizavam
o Estado autoritário pela situação de precariedade
em que viviam, exigindo a participação direta nas decisões
que lhes afetavam.
|
|