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A ditadura desavergonhada: os desdobramentos do
golpe militar de 1964 no Estado do Acre (Brasil)
Francisco Bento da Silva (Universidade Federal do Acre)
chicobento.ac@bol.com.br
A proposta é fazer uma reflexão
sobre o golpe militar de 1964 no Brasil e suas peculiaridades relacionadas
ao Estado do Acre. O Acre que menos de dois anos antes tinha deixado a
condição de Território federado da república
brasileira, com o golpe militar volta a ter mais uma vez governantes nomeados
pelo governo central e de forma indireta.
É necessário apontar também para o fato de haver
em âmbito nacional um conjunto de fatores que provocaram uma série
de instabilidades políticas nos fins dos anos 50 e inicio da década
de 60. O próprio suicídio de Getúlio Vargas (1954)
e a renúncia do presidente Jânio Quadros, são emblemáticos
para o agravamento das crises enfrentadas pelo Estado nacional naquele
período.
Ao se acomodarem momentaneamente as turbulências nacionais, no Acre,
está em curso o embate em torno da chamada "Questão
Autonomista", advinda do projeto apresentado pelo deputado federal
José Guiomard Santos (PSD), que visava dar o status de Estado federado
ao Acre. Ao ser aprovado, o Decreto determinava que as eleições
para governador e cargos legislativos do novo Estado deveriam acontecer
em um prazo máximo de três meses.
As eleições gerais para o executivo e o legislativo ocorrem
no dia 07 de outubro de 1962. Foi eleito pela coligação
partidária União Social Trabalhista (PTB/UDN/PSP/PP), para
ocupar o executivo por um período de 04 anos, o petebista José
Augusto de Araújo, cujo slogan durante a campanha era "o Acre
para os acreanos".
Nas plagas acreanas, como nas demais unidades federativas brasileiras,
os reflexos do golpe militar foram simultâneos ao golpe implementado
contra o governo do presidente João Goulart. José Augusto
de Araújo - primeiro governador eleito de forma direta em 1962
e empossado em 1963 -, após uma breve e conturbada administração,
foi deposto em maio de 64 por um golpe implementado pela 4ª Companhia
do Exército, tendo a frente capitão Edgard Pedreira de Cerqueira
Filho.
Depois da única sua experiência eletiva para governador e
da fugaz administração de José Augusto, o Acre se
vê novamente diante de um chefe executivo que trazia outra vez o
signo militar, que tanto marcou as administrações da época
territorial, só que agora indisfarçável e às
claras.
As cassações logo são implementadas e atingiram ainda
uma gama de deputados federais e estaduais, vários membros da equipe
de governo de José Augusto e pessoas ligadas aos movimentos sociais
campesinos e urbanos. Os direitos democráticos de liberdade de
imprensa e de opinião, de partidos de esquerda e de associações
sindicais foram proscritos e, suas lideranças presas ou colocadas
sob vigilância contínua pelos aparelhos repressivos.
É dentro deste panorama mais abrangente, que se inserem os acontecimentos
acreanos. No caso acreano, o golpe militar veio antecipar, de forma prematura,
aquilo que as forças oposicionistas, principalmente ligadas ao
PSD, não tinham conseguido: abreviar o governo de José Augusto.
Por isso, estas forças são desde o primeiro momento entusiastas
do regime de exceção instalado no país e no Acre
em 1964.
O golpe militar serviu ainda um catalisador, que abreviou uma disputa
entre duas frentes que se mostravam extremamente fragilizadas no arcabouço
institucional implementado pelo Projeto autonomista (PSD e PTB). Somente
o surgimento de um terceiro elemento - externo e militar-, conseguiu estabelecer
o diferencial e conformar novamente os interesses contrariados dos setores
conservadores da política acreana. Instaurou-se um cenário
de açodamento exacerbado, onde todos perderam, inclusive a infante
democracia representativa que tardiamente tentava se implantar no Acre.
Se houve alguma vitória, foi de Pirro.
Os símbolos presentes na (re)construção
de uma nação: análise do "espírito"
da transição brasileira à democracia
Lara Andréa Crivelaro Bezzon (CEPACCC/ METROCAMP)
laracri@terra.com.br
A partir da idéia desenvolvida por Huntington,
estamos vivendo hoje a "terceira onda" de democracia no mundo.
Um dos caminhos mais freqüentes para se chegar à democracia
nesta terceira onda é o das "transições pactadas"
ou "negociadas". Neste tipo de transição, regime
brando e oposição moderada planejam e harmonizam a retirada
do autoritarismo do poder. A elite autoritária, que necessita de
suporte popular e externo para se manter no poder, vai declinando e é
particularmente motivada a comprometer-se com este tipo de transição
democrática. A idéia principal é que pactando com
a oposição, algumas decisões mínimas de interesse
dessa elite autoritária podem ser protegidas.
O Brasil foi um exemplos de "transição pactada à
democracia", podemos afirmar que foi um pacto entre as forças
políticas, não na vitória de uma delas. Porém,
o resultado de democracia a que se chegou no Brasil durante os primeiros
anos de democracia, não foi exatamente o que o povo brasileiro
esperava por "democracia".
A proposta desse estudo é analisar o caso histórico da transição
brasileira - não somente em termos de dimensões políticas
e econômicas, mas em termos dos "espíritos" presentes
durante a transição. Argumentamos que no Brasil, faltou
um sistema simbólico realmente significativo e capaz de unir todos
os brasileiros naquele momento. Nesse trabalho tentamos identificar se
o Brasil chegou a criar seu próprio sistema simbólico, ou
não, e em que medida a presença ou falta desse sistema simbólico
influenciou a transição democrática brasileira e
o resultado de democracia a que se chegou.
Pretendemos que esta seja uma contribuição à compreensão
de nossos processos históricos, na tentativa de se resgatar o "espírito"
que, supomos, tenha sido deixado de lado no momento crucial da transição.
Nossa hipótese é de que quando analisamos a transição
democrática brasileira, não conseguimos notar a presença
de um "espírito de consenso" entre os principais atores
ou dentro da própria sociedade civil. Não notamos a presença
de um símbolo forte o suficiente para unir as mais diferentes pessoas
ou grupos na construção da democracia brasileira.
Isto não significa dizer que não exista, em nenhum momento
no Brasil, este "espírito" que une as mais diferentes
pessoas ou grupos, porém, o que tentaremos mostrar nesse trabalho
é que o que realmente faltou no caso brasileiro foi à construção
de uma nova moral (no sentido durkheimiano), que respaldasse o pacto da
democracia. Argumentamos que a possibilidade de uma nova nação
vir a existir e portanto a consolidação de um "espírito
consensual", foi superada, pois faltou uma narrativa hegemônica
única que transcendesse a política e os interesses particulares
das frações das elites em luta.
Em momentos de fragilidade notamos a presença de um espírito
de nação no Brasil. Mas é um espírito momentâneo,
ou melhor dizendo, temporário; ele na verdade não está
presente no coração e na mente dos brasileiros a não
ser em circunstâncias específicas, por exemplo em época
de copa do mundo e no momento da morte do quase presidente Tancredo Neves.
O que pretendemos analisar nesse trabalho é se a construção
dessa nova nação foi possível ou não naquele
momento e em que medida, podemos notar a presença do "espírito
de consenso" da sociedade civil brasileira respaldando o pacto da
democracia a que se chegou.
Influência dos modelos da Europa do Leste na actuação
do Partido-Estado na Guiné-Bissau
Daniel Perdigão (Centro Cultural Português em Bissau)
- O partido de inspiração leninista bolchevista, a independência
nas colónias portuguesas e a herança do "poder"
colonial.
- Evolução convergente do totalitarismo nos países
da Europa do Leste após a 2ªGuerra Mundial e em África
após a independência das colónias portuguesas.
- A Gestão da transição das sociedades tradicionais
para as sociedades modernas sobre o controle do Partido-Estado de ideologia
totalitária.
- Uma comparação dos conflitos internos e da luta pelo poder
entre o Partido Comunista da Roménia e o PAIGC. Ceausescu versos
Nino Vieira.
- Os Conflitos pós-totalitários subsequentes á liberalização
do mercado no processo de transição para a democracia representativa
imposta do exterior.
- O monopólio das competências políticas - os quadros
formados pelo Partido- Estado face ao processo democrático.
- Destino dos antigos aparelhos da propaganda e de repressão face
à imposição da democracia e do respeito pelos direitos
humanos.
- Os militares e a democracia na Europa de Leste e em África.
Angola Democracia em Questão - Sonho ou Realidade
Mfuca António Fuacaca Muzemba (Movimento de Estudantes Angolanos)
mfuca33@hotmail.com
A Construção democrática em
Angola, pressupôe um regime pluralista e participativo que reclama
organizações sociais que constituam, ao mesmo tempo, uma
escola de aprendizagem Democrática e uma base de defesa dos direitos
de liberdade e de afirmação de cidadania.
Trata-se a meu ver, de uma exigência imposta pelos nossos próprios
défices de cultura Democrática.
Apesar da Angola estar a viver neste tempo um momento de Paz, não
posso conceber a Paz sem criação de um quadro de solidariedade
social e de coabitação política regulador dos conflitos
que originaram a guerra e criadora de uma dinâmica de reconciliação
de toda a nação para consigo próprio e de convivência
pacífica.
"Paz sem Democracia é Fantasia"
A Paz não é a ausência da guerra, mas a possibilidade
de todos participarem na reconstrução de uma sociedade Democrática,
livre, com justiça, tolerância e igualdade.
Um Estado Democrático de Direito constrói-se com participação
efectiva do Povo na definição dos destinos e escolha daqueles
que devem representar os seus interesses nos centros de decisão
política.
Na democracia política, por conseguinte o povo na luta apenas pela
simples substituição de um governo por outro, mas também
para realizar profundas mudanças políticas.
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