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As reformas no setor da saúde e a gestão da municipalização
e da qualidade do atendimento no nordeste brasileiro
Profª.Patrícia Barreto Cavalcanti (Universidade Federal da
Paraíba)
Simone Fernandes da Rocha (Universidade Federal da Paraíba)
Denise de Oliveira (Universidade Federal da Paraíba)
Siomary Cíntia dos S. Benevides (Universidade Federal da Paraíba)
O estudo ora apresentado é resultado de
uma investigação realizada em 2002 no âmbito do SEPSASS
- UFPB, constituindo-se num sub.projeto de um projeto integrado que vem
objetivando desde 2001 delinear como o tripé "Gestão,
Qualidade e Controle Social" vem se configurando no município
de João Pessoa.
Desenvolvimento:
O avanço do modelo Neo-liberal de Estado tem provocado a nível
mundial, inúmeras transformações nos mais variados
setores da sociedade. Dentre essas várias transformações
sobrepõe-se as mudanças ocorridas no mundo do trabalho com
a globalização da economia e seus processos de terceirização
uma nova configuração geo-política, e principalmente
o papel que o Estado tem assumido frente as questões sociais geradas
por tais mudanças. Dentre os pressupostos da proposta neoliberal,
é no redimensionamento do papel do Estado, que se concentra uma
das maiores preocupações do Serviço Social.
O padrão neo-liberal além de reduzir o papel do Estado (Estado
Mínimo) no trato das questões sociais via políticas
sociais, vem modificando as relações inter-classes, e com
efeito, impondo novas situações, novos atores sociais, buscando
situá-los nessa configuração societária por
demais heterogênea. Sua ascensão como citamos anteriormente,
é marcada pela crise mundial em fins da década de 70, desenrolando-se
por toda a década de 80 (a chamada década perdida), e com
ele, emerge também uma nova parcela de intelectuais, empresários
e políticos, denominados de a "NOVA DIREITA", a qual
em conjunto com os oligopólios internacionais, se coloca com um
peso político-ideológico considerável. Daí
também seu crescimento enquanto projeto hegemônico. O Neoliberalismo
insurge assim, finalmente, enquanto opção a crise, e sua
crítica mais contundente recaí sobre a intervenção
estatal, precisamente na sua função social
Dependência e Welfare State
Maria Aparecida Ramos de Meneses (Universidade Federal da Paraíba)
maparame@uol.com.br
A comunicação pretende fornecer,
topicamente e em plano de primeira visada de estudos gerais, alguns elementos
teóricos e históricos de sustentação da seguinte
assertiva: a experiência histórica do Welfare State, ocorrida
na Europa Ocidental e nos países escandinavos depois da Segunda
GUERRA Mundial corresponde ao estatuto da particularidade (Luckács,
1978), não se tratando, portanto, de um projeto político-social
mecanicamente reproduzível em outras formações históricas.Neste
sentido, formular hipóteses de trabalho visando o estudo comparado
dos diferentes modelos de proteção social nas diversas formações
sociais no capitalismo contemporâneo é tarefa acadêmica
da maior atualidade.
Autores como Esping-Andersen (1990), Flora&hHeidenheimer(1992) e Skocpol&Weir(1985)
têm efetuado estudos comparativos sobre a economia política
dos modelos de proteção social envolvendo os países
escandinavos, a Europa Ocidental e os Estados Unidos. O problema é
o modelo brasileiro não corresponder precisamente a nenhum desses,sendo
mais uma mescla e uma adaptação original entre o modelo
corporativo da Europa Ocidental e o liberal norte-americano- um outro
mundo-, havendo uma lacuna de estudos comparativos sobre este outro mundo
de proteção social. Desmesurado observar que o desenvolvimento
deste estudo pretende escapar de um viés formalista-tão
somente comparar as diversas estruturas de bem-estar social, mas, enlaçá-las
como componente da complexa trama social e política dos diversos
países.
Factores políticos: determinantes de uma tipologia de
países e do desenvolvimento económico e humano
Ana Margarida Brochado - Universidade Portucalense, Porto
abrochado@mail.uportu.pt
Francisco Vitorino Martins - Univ. do Porto- Faculdade de Economia
vmartins@fep.up.pt
A democracia pode ser definida como um sistema
de procedimentos institucionalizados para a participação
política aberta e concorrencial, a eleição dos principais
dirigentes governamentais e limites substanciais aos poderes dos dirigentes
(PNUD 2002). Mas a palavra democracia, em grego, significa 'regime do
povo', resumindo uma abordagem de governação orientada para
o desenvolvimento humano, exprimindo a ideia de que as pessoas estão
em primeiro lugar. Não obstante, na literatura permanecem ainda
muitas interrogações sobre a relação e potenciais
trade-offs entre democracia e desenvolvimento (Claugue et al. 1996, Haggard
1997). Paralelamente surgem vários estudos empíricos que
relacionam estas duas variáveis (Borner, Brunetti e Weder 1995,
Barro 1996, Tavares e Waczairg 2001, Przeworski et al. 2000).
Neste trabalho propõe-se a definição de uma tipologia
de um conjunto de 54 países com recurso a um conjunto de dez variáveis
reveladoras das políticas estruturantes - democratização,
participação dos cidadãos e transparência,
eficácia governativa e legislação.
Para o efeito utiliza-se o método fuzzy k-means (Dunn 1974) que
permite a classificação sobreposta (um país pode
pertencer a mais que um grupo).
Numa segunda etapa pretende-se averiguar se, para a estrutura de classificação
definida, os países que integram cada um dos quatro grupos identificados
(denominados de 'Vanguarda Politica, 'Desenvolvimento Democrático',
'Eficácia Política' e 'Politicamente Desenvolvidos').
estão associados a diferentes níveis dos indicadores de
desempenho económico (PIB per capita) e de desenvolvimento e bem
estar (IDH), recorrendo-se aos modelos de regressão linear múltipla
(na versão análise da variância).
Por fim, efectua-se uma análise comparativa dos resultados obtidos
para a relação entre democracia e desenvolvimento, com os
divulgados na literatura, e identificam-se linhas de investigação
futura.
Opções de desenvolvimento: soberania ou servidão
Silvano José da Silva (UFRJ)
silvano@alternex.com.br
Nenhum país tem soberania sem projeto nacional.
Num sistema global finito, como é o caso terrestre, a falta de
um projeto nacional auto-referido é ocupada inexoravelmente por
algum outro projeto nacional assumido alhures. Embora seja difícil
caracterizar projeto nacional, é relativamente fácil perceber
a sua inexistência. Basta observar que alguns requisitos percebidos
ou reclamados como essenciais por países que se afirmam no cenário
internacional e que exercem influência ativa no contexto da globalização,
são negligenciados ou postulados de modo diametralmente oposto
por países influenciados nesse cenário. Uns são globais
por terem projeto nacional e outros também o são, mas precisamente
pela sua carência. Há uma complementaridade nisso e há
também uma tendência com respeito ao aprofundamento disso.
A reserva de esperança subsiste diante da convicção
de que essa complementaridade é dinâmica e de que tendência
não é destino. Muitos fatores influem nessa dinâmica,
sendo que a conjugação de apenas alguns deles costuma ser
decisiva para alterar a configuração do sistema global.
E tendência não é destino porque para um futuro previsivelmente
desanimador, a realidade está sempre a acudir com o fortuito. É
o que ainda anima participar de seminários.
No âmbito interno de países importantes sem projeto nacional,
mas não sem vontade de tê-lo (um dos principais fatores em
jogo), é latente o pulsar de uma luta em torno dessa questão.
É o caso do Brasil onde há posições divergentes
quanto à própria inexistência de um projeto. Aqui
não está em causa a sinceridade de tais posições,
mas sim o desastre nacional brasileiro antevisto diante da desgraçada
possibilidade de elas prevalecerem.
Para caracterizar isso tome-se a visão de elites nacionais brasileiras
e européias quanto à questão demográfica,
que diz respeito ao potencial de realização de um país
ou continente. Em termos sociais a noção de desenvolvimento
é incompatível com o vazio humano. Desenvolvimento é
feito por pessoas e para elas mesmas. Esta é a visão evoluída
e, não por acaso, influente no sistema globalizado. Neste caso
o exemplo vem de uma instituição sob forma organizacional,
o Institut Français de Rélations Internationales - IFRI,
que faz estudos para a Comunidade Européia (CE). O IFRI lastima
o "inverno demográfico" (aspas do original) por que vem
passando o continente europeu (mesmo ampliado para trinta países)
e, para superá-lo, reclama políticas de adensamento rápido
da região, de modo a manter a CE a altura do bloco norte-americano
e do asiático, por volta do ano 2050. O prognóstico é
tão apocalíptico que convém não interpretar
e abrir as aspas de rigor:
"o avanço da globalização reserva para a Europa
a saída da história, fazendo-a retroceder para o seu lugar
de antes da Revolução Industrial do século XIX."
Visão bem oposta é a daqueles para quem desenvolvimento
é um bom produto per capita, independentemente de como essa conta
seja feita. Esta é a visão retraída e, também
não por acaso, influenciada no sistema globalizado. Neste caso
o exemplo vem de outra instituição, desta vez sob forma
personalizada, com depoimento público de um ilustríssimo
ex-presidente da república. Para a ênfase dada à questão
demográfica são reproduzidas as aspas do original: "Para
se ter uma noção do Brasil, é preciso olhar o país
no tempo, sob o ponto de vista demográfico." Seu projeto nacional
para a continuação de uma obra que parece considerar inacabada,
prevê a melhoria da renda média nacional pela redução
dos participantes de sua produção nos próximos vinte
anos. A falácia deste tipo de projeto nacional é demonstrada
pelo simples cotejo, em tabela, das posições relativas de
vinte importantes países, inclusive Brasil, tomados dos quatro
principais continentes do planeta.
A globalização da pobreza: os impactos das políticas
sociais do Estado Neoliberal nas democracias dos países latino-americanos.
Maria José Galleno de Souza Oliveira (Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo)
jgalleno@usp.br
Frente ao novo milênio, é oportuno
revisitar conceitos e noções que ainda integram, e continuarão
a integrar, a agenda política, ideológica, social e econômica
dos governos que, hoje, regem os destinos das nações.
Dentro dessa reestruturação do Estado, cabe propor reflexões
sobre o fenômeno da globalização e seus desdobramentos
no processo de desenvolvimento dos Estados nacionais.
A globalização muito mais consiste em um processo ideológico
de expansão do capitalismo, do que em um mero processo econômico
e financeiro de abertura dos mercados. É, portanto, fundamentalmente
um fenômeno político.
Após duas décadas do processo de globalização,
há necessidade de repensar o mundo globalizado. Uma questão
os cientistas sociais têm concordado: a globalização
tem, a rigor, agravado velhas contradições sociais e engendrado
outras novas, em todos os níveis, nos quatro cantos do mundo. Inexoravelmente
a globalização leva a concentração de riquezas,
disseminação de pobreza no mundo (principalmente aos países
latino-americanos), reorientação e redução
da capacidade decisória dos governos nacionais, e causado uma crise
aguda no Estado-nação, devido aos excessos de injunções
exercidas por entidades internacionais não somente sobre a economia,
mas também sobre a saúde, meio ambiente, educação,
transporte e habitação.
Quando analisada na perspectiva das relações internacionais,
a globalização não deve ser desvinculada de outras
transformações de natureza estrutural que marcam a evolução
do sistema internacional contemporâneo. Deve, portanto, ser compreendida
à luz de suas relações com outros condicionamentos
e processos políticos e em perspectiva histórica, o que
permite uma compreensão mais ampla sobre a articulação
com o sistema de Estados-nação que também se "globalizou",
constituindo ambos, elementos centrais do atual panorama das relações
internacionais e componentes de um mesmo sentido civilizatório
em nossos dias.
As modificações ocorridas mundialmente a partir dos anos
80, com a reforma do Estado, através de um processo de reformas
e de liberação de atividades controladas pelo Poder Público,
são respostas ao modelo que fundamentou o Estado do Bem-Estar Social
(Welfare State) e ao socialismo que falhou em instituir uma sociedade
justa e sem desigualdades.
A queda do muro de Berlim foi um duro golpe para todos aqueles que acreditavam
no socialismo, e serviu para impulsionar o capitalismo baseado na supremacia
da prosperidade econômica geral impulsionada pelos mercados livres
e por amplos ganhos de produtividade, estimulando a competição
global, a circulação de pessoas e mercadorias, e a idéia
de que o mercado se constituiria em instrumento de harmonia e paz mundial.
As empresas antes multinacionais passam a se apresentarem como transnacionais,
com menores compromissos com os países que sediam suas atividades,
produzindo uma produção dispersa entre as suas várias
filiais, obtendo um produto final global, visando a elevação
das aspirações de consumo de grande parte da sociedade mundial.
Apesar da pujança de seus sujeitos principais - os países
desenvolvidos e as empresas transnacionais, o modelo vitorioso do capitalismo
global, com o passar dos anos mostrou possuir elementos estruturais que
contêm uma perversa realidade: aumento da pobreza, com exclusão
crescente das sociedades em países de periferia capitalista com
dificuldades para implantar uma democracia real.
No Estado brasileiro, o processo de globalização levou às
privatizações e a reorganização dos serviços
públicos. Ampliou-se a área de atuação das
empresas privadas, principalmente transnacionais, e um enxugamento da
estrutura administrativa estatal.
O redirecionamento da finalidade do Estado, ocorrido após a ampliação
da teoria da globalização e da internacionalização
do capital, deve ser trazido à reflexão, pois não
pode o Estado deixar de visar à proteção da sociedade,
em prol de uma ditadura do capitalismo global, sob pena de destruição
do Estado de Direito e seus princípios democráticos.
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