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O comportamento social pode
levar a doenças hepáticas
Rute Eduviges Godinho (Observatório das Actividades Culturais)
rgodinho@seade.gov.br
Cecília Polidoro Mameri (Fundação Seade, São
Paulo)
Estudos de mortalidade tem enfatizado com freqüência a importância
das causas relacionadas às doenças do aparelho circulatório,
às neoplasias malignas e às causas externas, e muito poucos
tem-se detido na análise das doenças do fígado, que
também formam um importante agrupamento de causas de morte, do
qual fazem parte aquelas relacionadas ao álcool, a cirrose e a
fibrose hepáticas.
Em muitos estudos já foi abordado o tema do alcoolismo ligado
à violência, especialmente no trânsito, que atinge
principalmente a população jovem masculina.
Este hábito de beber entre os jovens, no entanto, pode não
causar sua morte por acidentes mas pode provocar alguma deficiência
hepática levando-os a óbito com um pouco mais de idade.
Os efeitos do álcool na função do fígado são
progressivos e cumulativos, determinando com o tempo o surgimento no tecido
hepático das doenças alcoólicas do fígado,
da cirrose e insuficiência hepática.
Neste estudo se analisará os óbitos decorrentes das doenças
do fígado, com base nos dados das estatísticas vitais do
Estado de São Paulo, que mostram que entre os 35 e os 59 anos,
estas doenças representam a 2ª causa de morte entre os homens
superadas apenas pelas doenças isquêmicas do coração.
A evolução das taxas de mortalidade pelas principais causas,
entre 1980-82 e 2000-02, de homens entre 35 e 59 anos de idade, no Estado
de São Paulo acusam que as por doenças do fígado
mantém-se praticamente estáveis, em torno de 65 por 100
mil homens, por outro lado, as mortes por doenças do aparelho circulatório,
como as isquêmicas do coração e as cerebrovasculares
sofrem quedas significativas em suas taxas.
Como decorrência destas enfermidades, existem fortes evidências
de que a cirrose hepática, a de maior incidência dentro deste
grupo, é uma doença pré-maligna, pois cerca de 50%
dos pacientes com câncer no fígado são portadores
desse mal. A prevenção é possível evitando-se
consumo excessivo de álcool e através da vacina contra a
hepatite B. No caso da hepatite C, como ainda não há vacina,
a única forma de prevenção é evitar comportamentos
de risco que possibilitem o contágio através de sangue contaminado.
Como a ausência de sintomas é característica desta
hepatite, pode levar até 30 anos para se manifestar provocando
diagnóstico tardio podendo evoluir para uma cirrose ou um câncer
de fígado, por isso é a maior causa de morte por doenças
do fígado.
O presente estudo se deterá na análise da mortalidade masculina
visto que para as mulheres, as doenças do fígado são
de menor importância como causa de morte, mesmo quando se considera
o grupo etário de 35 a 59 anos que é o mais vulnerável.
Mortalidade na vida activa em Portugal: um estudo longitudinal
(1981 a 2001)
Pedro Moura Ferreira e Pedro Alcântara da Silva (ICS, Universidade
de Lisboa)
Na compreensão das desigualdades perante a saúde e a doença,
a profissão assume um papel crucial. Este papel pode ser exercido,
quer de forma directa, como acontece no caso das condições
de trabalho, quer de forma indirecta, sendo, neste caso, desempenhado
por variáveis correlacionadas, como o rendimento ou os níveis
de instrução. Em qualquer dos casos, o impacto da condição
profissional e das variáveis "estruturais" que lhe estão
associadas na morbilidade e na mortalidade da população
activa é mediado através da exposição a factores
de risco ligados quer às condições de trabalho, quer
ao estilo de vida.
Os efeitos cumulativos que as condições e a organização
de trabalho exercem sobre a saúde do indivíduo têm
sido essencialmente analisados a partir de duas perspectivas: a primeira,
ligada sobretudo à epidemiologia e à medicina do trabalho,
procura analisar as consequências negativas das condições
objectivas do exercício de determinadas actividades profissionais,
em particular na área industrial, privilegiando o estudo dos problemas
infra-patológicos, como a dor, o stress, a fadiga ou a exposição
a factores de risco específicos, que, embora aqui ainda não
sejam considerados como fazendo parte da doença, acabam por condicionar,
pelo seu carácter cumulativo, um envelhecimento desigual dos indivíduos
e até mesmo constituir um prenúncio de patologias graves;
a segunda perspectiva tem incidido na relação psicossocial
entre o estado de saúde e as condições relativas
à organização e ao desempenho no trabalho ou a inserção
profissional (desemprego, pobreza, etc.) (Volkoff e Thébaud-Mony,
2000; Locker, 1997).
Drogas, sociedade e prevenção
José Marcos da Silva Costa (ISCTE, Lisboa)
Ana Raquel da Silva Costa (Universidade Federal da Paraíba )
Resumo: O presente trabalho pretende situar o leitor em relação
a alguns conceitos necessários a compreensão das discussões
e refletir sobre as drogas na sociedade. A percepção da
problemática das drogas incluída nos diversos segmentos
da sociedade e afetando, cada vez mais cedo, a vida de jovens, adolescentes
e crianças.
As repercussões na vida social, econômica e política
são abrangentes e vem exigindo a mobilização de amplos
setores da sociedade para um verdadeiro "combate" ao "mal
do século". Historicamente, tem-se uma trajetória que
vai, a depender do momento que se pretende analisar, desde a tolerância
das diversas drogas à sua total repressão.
Por sua vez, a repressão representou um dos primeiros mecanismos
utilizados para conter o avanço do uso/abuso de drogas na sociedade.
Com a falta de resultados satisfatórios neste modelo, buscou-se
novas estratégias para a abordagem da problemática e, desse
modo, as medidas preventivas de caráter educativo começam
a tomar forma. Contudo, muitas ações vêm contribuindo
para que a prevenção pela educação tenha visibilidade,
sobretudo quando relacionada à criança e o adolescente.
Cabe destacar, enfim, que somente através de medidas amplas e contínuas,
será possível formar uma juventude com maior autonomia para
não usar as drogas e, se usar, ser capaz de buscar ajuda quando
for preciso.
Lazer e sociabilidade entre os jovens usuários de drogas
na periferia de João Pessoa
Clara Maria P. C. Carneiro da Cunha (Universidade Federal do Paraíba)
Maria do Socorro de Souza Vieira (Universidade Federal do Paraíba)
Sabe-se que na contemporaneidade, são vários os motivos
pelos quais o ser humano busca a droga, seja para contactar-se com o mundo
interno ou externo, onde pensa-se e vive-se de acordo com as respostas
exigidas e impostas pela sociedade. Tais exigências suscitam respostas
que possibilitam sensações de impotência e de incapacidade,
principalmente nos adolescentes, que em pleno desenvolvimento vivenciam
a ambivalência, baixa auto-estima, desconhecimento de si; são
facilmente influenciáveis e buscam através de vivencias
em grupos, uma racionalidade, onde a fuga ao enfrentamento da realidade
ocorre através de motivações diversas. O risco se
faz presente pois dentre as características mencionadas anteriormente,
a onipotência aparece como desafio aos seus limites. Nesse espaço
de carências sociais e ausência de perspectivas para o futuro,
a droga entra como parceira das práticas de lazer na busca de alívio
da angústia social e na procura de sentido de existir. Questionamentos
surgem: Quais as diversões que possibilitam prazer para este seguimento
jovem, envolvido com uso de drogas? Qual a associação entre
o lazer e os drogas? Qual a importância da associação
entre droga e lazer na contemporaneidade? Por que todas essas situações
de risco não impedem que tais jovens se desvinculem do uso de drogas
associado ao lazer? Onde estão localizados esses espaços
de lazer e como se dão esses encontros? A pesquisa a ser realizada,
será em bairros periféricos da capital de João Pessoa
na Paraíba/Brasil. O objetivo deste estudo é investigar
quais as formas de lazer, encontradas por jovens usuários de drogas
da periferia de João Pessoa/Paraíba/Brasil, enfocando a
sociabilidade do mesmo e sua relação com o risco. O estudo
se fundamenta no pensamento de autores de diversas áreas das ciências
sociais e da psicologia, tais como Freud, Le Breton, Edgar Morin, Birman,
Bucher, Dejours, Giddens, Gilberto Velho e Zalua, que analisam e conceituam,
juventude, risco, uso de drogas e lazer. A possibilidade de que esta pesquisa
venha mostrar as várias formas de diversão de jovens cujo
poder aquisitivo não lhes facilita prazeres próximos a jovens
bem mais equipados socialmente, se faz importante. Um dos motivos, é
o conhecimento de nossa realidade, que demosnstra uma grande inscidência
desta população, a fim de possibilitar a profissionais que
se interessam e trabalham com esta temática, a formularem políticas
sociais mais realistas voltadas para o lazer, quase inexistentes para
esta camada social. Isto pressupõe a idéia de que se existissem
mais espaços de diversão, onde os jovens pudessem sentir-se
úteis desde o seu planejamento até a sua utilização,
a quantidade de situações e comportamentos de risco aos
quais eles estão sempre buscando, poderiam diminuir e tal contexto
poderia ser revertido em prol de um desenvolvimento juvenil menos estigmatizado,
mais saudável, propiciando quem sabe, a criatividade e expansão
de uma cultura própria, cujo fortalecimento far-se-ia através
do desejo e impulso de vida e não de morte, tão observado
na atualidade em função do desencantamento do mundo e do
mal estar da civilização, como já foi dito por Max
Weber e Sigmund Freud.
Discurso das campanhas anti-droga e as desigualdades entre a
maioria "straight" e as minorias consumidoras"
Maria Zara Coelho (Universidade do Minho)
Nesta comunicação evidencio a forma como o discurso das
campanhas públicas anti-droga actua, expressa e pode contribuir
para re-produzir as assimetrias e as desigualdades entre a maioria "straight"
e as minorias consumidoras, em particular, o grupo mais estigmatizado
de todos, as mulheres consumidoras. Irei mostrar por um lado, o papel
deste tipo de discurso como um recurso de poder, destacando o poder que
está por detrás desse discurso, e por outro, o seu papel
enquanto meio de exercício do poder, mostrando a forma como o poder
é exercido no próprio discurso. Para responder à
primeira preocupação centro-me na questão do acesso
ao discurso das campanhas públicas, ou melhor, na forma como o
acesso às mesmas é controlado. O segundo conjunto de estratégias
pertence às estruturas do texto e fala em si mesmas que materializam
essas campanhas. Nestas estruturas realço o papel das escolhas
dos tópicos, das explicações, e as várias
formas como os mesmos são discursivamente realizados, nomeadamente
ao nível do estilo e da retórica.
Parto de um conjunto de exemplos de campanhas nacionais por mim estudadas
no quadro de uma investigação mais aprofundada sobre as
relações entre este tipo de discurso e ideologia. Esse projecto
integrou também uma análise das conversas informais como
parte de uma prática social complexa de comunicação
de estereótipos e de preconceitos sobre minorias consumidoras.
Como base teórica e metodológica, uso as teorias e instrumentos
fornecidos pela Análise Crítica do Discurso (e.g. van Dijk,
2001), uma forma de análise de discurso que se distingue, entre
outras coisas, pela seu carácter multidisciplinar e pelo seu empenho
político na construção de uma forma de conhecimento
que funciona como princípio de solidariedade. Considero que urge
pôr lado tabus e suspeições, e tratar os indivíduos
com estilos de vida com drogas como mais um grupo discriminado e oprimido,
a quem urge dar voz.
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