Um caminho positivo: o efeito
da solidariedade Este paper pretende discutir uma experiência de pesquisa baseada
na história oral centrada na caracterização da representação
social da Aids, tendo como foco o indivíduo soropositivo para o
HIV/Aids, bem como seus familiares. Na verdade, trata-se aqui de perceber
o impacto do diagnóstico da doença e as estratégias
desenvolvidas pelos indivíduos no sentido de sua superação. AIDS: os sentidos do risco
OBJETIVO: O objetivo principal consistiu em compreender a disjunção, aparentemente paradoxal, entre conhecimento e comportamento no que diz respeito ao risco do HIV/Aids. METODOLOGIA: A escolha do universo a ser pesquisado recaiu sobre pessoas infectadas em face do pressuposto de que o portador e o doente se distinguem por apresentar o fato consumado da materialização da doença, o que os coloca em um contexto particular de análise. A história de vida tópica foi eleita como a técnica de acesso ao conteúdo das representações sociais elaboradas pelos sujeitos da pesquisa. As histórias de vida foram colhidas através de entrevistas semi-estruturadas, e o número de entrevistas realizadas incluiu a diversidade do universo pesquisado, no que concerne a diferentes situações de exposição ao risco. Assim sendo, foi entrevistado um total de seis pessoas soropositivas, número que abriga um bissexual solteiro; um heterossexual solteiro contaminado através de relações sexuais; um homossexual casado com homem; uma mulher contaminada pelo marido; um profissional do sexo, no caso, um ex-travesti; e um heterossexual casado, usuário de droga não dependente e ex-detento. O tratamento dado ao material coletado envolveu técnicas de análise de conteúdo, e, em particular, a análise da enunciação. Cada entrevista foi tomada na sua totalidade, compondo um discurso único e singular, perfazendo seis estudos de caso. CONCLUSÕES: A síntese final aponta a diversidade de sentidos atribuídos ao risco do HIV/Aids: a) projeção do risco para um território distante constituído pela figura do "outro"; b) o processo de hierarquização do risco; c) a falta de credibilidade na ciência; d)a questão de gênero; e) a busca do prazer proporcionado seja pelo sexo, seja pela droga; f) fatores de vulnerabilidade social; g) a questão da cidadania; h) a complexidade interna dos sujeitos humanos. O conjunto das narrativas nos mostra que a invariância na determinação dos riscos simplesmente não existe. Não existe nem mesmo a dicotomia determinação/ evitamento de risco. Esta visão dicotômica leva a uma redução da pluralidade existente nos comportamentos. Entre estes dois pólos flutuam miríades de variâncias, sutilezas, significados, polissemias e sentidos. Trabalhar com riscos exige, portanto, abrir mão da busca da invariância, da lógica racional e dos discursos autoritários. Exige ainda estratégias de ação que aceitem a ambivalência das práticas sociais e descartem a expectativa de soluções definitivas.
O presente estudo explora as percepções que um grupo de jovens estudantes do nível secundário tem sobre o seu comportamento sexual e identifica factores socio-culturais que os impedem a praticar sexo seguro, especificamente o uso do preservativo. A resposta a esta questão traz a superfície aspectos sociais e culturais que constituem obstáculos à prevenção contra o HIV/SIDA. Os resultados do estudo poderão ser de grande valia a gestores de politicas de saúde, pessoal das campanhas de prevenção ao SIDA; ajudando-os a repensar algumas das estratégias e reestruturá-las de modo a que se verifique um aumento no numero de indivíduos que usa o preservativo. Um dos maiores obstáculos para o uso do preservativo é a crença, entre os jovens estudantes, de que não há necessidade de usar o preservativo em relações estáveis e consolidadas (como o namoro) porque nesse tipo de relações reina o amor e a confiança. Esta crença no mito da confiança e do amor dá-lhes um senso de imunidade ao HIV/SIDA. Estes estudantes são jovens e constantemente trocam de parceiros. Após algum tempo estabelece-se uma relação estável e consolidada com este novo parceiro, baseada no amor e confiança. Este sentimento, mais uma vez, fortifica o senso de imunidade ao HIV/SIDA. Este ciclo vicioso é ainda alimentado pelas prévias companhas contra o HIV/SIDA que advogavam o uso do preservativo apenas nas 'relações sexuais ocasionais', este slogan é ainda usado pelos jovens estudantes como mecanismo de auto-protecção. Outros factores que influenciam na decisão de usar o preservativo incluem: a percepção de prazer, falta de informaçao clara e sistematizada sobre sexualidade, ausência de educação sexual tanto em casa como na escola, desigualdades de género e poder. O estudo sugere que a solução para as questões expostas
passa por uma mudança do foco da maioria das campanhas de prevenção
que incidem no preservativo; maior disponibilidade e propaganda do preservativo
feminino e consequente redução do seu preço. Finalmente
uma forte mobilização dos jovens para investirem emocionalmente
na sua saúde usando o preservativo. Implicações das representações sociais
na vulnerabilidade de género para sida entre jovens universitários:
estudo comparativo Brasil Portugal A sida desde o seu surgimento foi representada como uma doença
do "outro", que era do sexo masculino, homossexual e adulto,
e por esta razão, escamoteou a vulnerabilidade dos homens e das
mulheres heterossexuais, bem como de jovens e idosos. Sabe-se que a vulnerabilidade
à infecção pelo HIV guarda relação
não só com os comportamentos individuais, principalmente
aqueles relacionados à sexualidade e identidade de género,
mas também, com o comportamento dos parceiros, com as condições
sociais que deveriam proporcionar acesso aos serviços de saúde
e, com existência de políticas públicas eficazes.
O fenómeno da sida está ligado às práticas
sexuais e em decorrência dos papéis sexuais. Quando a sexualidade
é discutida, homens e mulheres apresentam respostas diferentes
em decorrência dos diferentes processos de socialização
que experimentam ao longo de suas vidas, o que estabelece padrões
diferenciados de vulnerabilidade entre eles. Não se discute que
medidas de prevenção são necessárias para
modificar o estado actual da epidemia. Todavia, sabe-se que as dificuldades
de prevenção da sida por parte das mulheres desvelam a importância
de serem explicitadas as questões de género que circundam
todo o enfrentamento da sida, já que a subalternidade de género
tem se mostrado determinante na vulnerabilidade das mulheres. O papel
da sexualidade na prevenção da sida assume um interesse
particular quando se considera adolescência e a juventude, pois
é nesta etapa da vida que o adolescente/jovem inicia sua vida sexual.
Isto se reveste de fundamental importância, dado que a proporção
de jovens portadores do HIV está em torno de 13% do total de casos
notificados no Brasil e, de 7,53% em Portugal. Esta investigação
tem como objectivo geral comparar o campo das representações
sociais da sida de grupos de jovens universitários(as) brasileiros(as)
e portugueses(as) e como objectivos específicos identificar o conjunto
de características individuais e sociais presentes no quotidiano
dos/das jovens que as/os tornam mais vulneráveis à infecção
pelo HIV; identificar estratégias de enfrentamento da infecção
pelo HIV e medidas de prevenção a serem adoptadas pelos(as)
jovens e identificar as representações sociais da sida,
sexualidade, sexo e práticas sexuais de jovens universitários(as).
Tomou-se como suportes teóricos a Teoria Feminista, a construção
teórica sobre vulnerabilidade proposta por Mann (1993) e por Ayres
(1999) e a Teoria das Representações Sociais (TRS) de Moscovici
(1961), pela sua importância na análise de aspectos psico-sócio-culturais
que permeiam o processo saúde/doença e as práticas
sociais relativas ao mesmo, assim como pelos actos de comunicação
social e os fenómenos colectivos que contribuem na formação
de condutas e, mais precisamente, das regras que regem o pensamento social.
Trata-se de um estudo do tipo descritivo, exploratório e comparativo
(Brasil e Portugal), com abordagem multimétodos, pois utilizou
o teste de associação livre e a entrevista semi-estruturada.
Para a análise dos dados apreendidos a partir da associação
livre de palavras foi feita a Análise Factorial de Correspondência
(AFC) através do Software Tri-deux-Mots. As entrevistas foram analisadas
utilizando-se a técnica análise de conteúdo temática.
Os resultados apontam para uma vulnerabilidade de género a partir
de praticas e comportamentos individuais e sociais que deixam as jovens
mais vulneráveis que os jovens em ambos os países. |
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