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Políticas Públicas
para Educação de Jovens e Adultos: as articulações
entre educação e trabalho
Rosa Elisa M. Barone (PUC São Paulo)
A temática deste estudo - Políticas Públicas para
Educação de Jovens e Adultos: as articulações
entre educação e trabalho -, insere-se no debate que tem
como eixo a interface entre a relação educação
e trabalho e as políticas educacionais para jovens e adultos. Ao
mesmo tempo, faz parte de um debate amplo, conflituoso, de caráter
multidisciplinar que, ao longo dos últimos anos, carrega a marca
do "dissenso". No plano mais geral as questões referentes
à educação estão alicerçadas no pressuposto,
largamente difundido, de que as condições contemporâneas
de produção orientam-se por um novo padrão de competitividade,
tanto internacional como nacional, fundado no paradigma da qualidade,
da busca constante de maior produtividade. O papel a ser desempenhado
pela educação, especialmente aquela de caráter geral,
tem sido insistentemente apontado como um dos pilares fundamentais para
a efetivação das transformações.
No tocante às proposições para a educação
de jovens e adultos os estudos mostram, ao longo da história da
educação, um forte caráter instrumental expresso
na atenção e respostas às demandas emergenciais do
mundo do trabalho. A maior parte das proposições, longe
de se constituir orgânica e institucionalmente, esteve impregnada
por uma fragilidade que, no dia-a-dia, se traduziu na precariedade e pontualidade
identificada na prática escolar. Os estudos mostram que pouco ou
nada mudou nesse quadro e, o mais grave, aprofunda-se o fosso já
existente entre a população jovem e adulta, de baixa escolaridade
e com precária qualificação e sua inserção
e/ou manutenção no mercado de trabalho, em suas múltiplas
tendências.
O estudo focaliza as diferentes práticas escolares e educativas
desenvolvidas, ao longo dos anos 90, no âmbito da esfera pública
- pelos governos federal, estadual e municipal -, bem como aquelas propostas
pela iniciativa privada - sobretudo pelas empresas no chão de fábrica.
Lugar de destaque está dado às práticas de educação
para jovens e adultos desenvolvidas pelas organizações não
governamentais. A análise procura demonstrar em que medida tais
proposições estão articuladas com as demandas contemporâneas
do mundo do trabalho, destacando as avaliações elaboradas
pelos diferentes atores que envolvem tal prática.
O estudo está estruturado em quatro seções que se
complementam. Na primeira está a discussão, de caráter
mais geral, que ocorre hoje no país em relação a
urgência de uma política de educação voltada
aos jovens e adultos. A segunda seção apresenta os diferentes
programas e projetos em curso no país, nos âmbitos já
citados, ao longo da última década. A seção
terceira articula as demandas postas pelo trabalho com as características
presentes nos programas e projetos. Por fim, na seção quatro,
são apresentadas algumas recomendações no tocante
a uma política de educação para jovens e adultos
que, sem perder de vista uma educação cidadã, promove
estratégias de inserção e/ou manutenção
no mercado de trabalho.
O Preço Cultural da Emancipação
Makmiller Martins Pedroso? (Universidade de Brasília)
Márcia Regina Lopes (Universidade de Brasília)
O objetivo central desse artigo é apresentar alguns questionamentos
que podem melhorar o papel da política social de educação
no enfrentamento da questão social. Em particular gostaríamos
de defender que o sistema educacional, sob a pretensão de emancipar
e garantir a autonomia tem, na verdade, reproduzido muito da configuração
das opressões de classe, gênero, raça, dentre outras.
Este diagnóstico parece ser verdadeiro pelos seguintes motivos.
O sistema educacional não tem um ponto de partida neutro. Ele freqüentemente
identifica educação com a absorção de valores
hegemônicos tais como padrões europeus, brancos, masculinos
e de determinada classe, tacitamente afirmados como legítimos.
Por conseqüência, os valores culturais das parcelas oprimidas
são vistos como não portadores de legitimidade e, por isso,
incorretos. Como a parcela das pessoas mais oprimidas também é
a que mais provavelmente usufrui uma condição econômica
ruim, as alterações econômicas que possibilitariam
sair de certas relações opressivas só são
possíveis diante de um câmbio cultural. Para que alguém
saia da sua situação de pobreza por meio da educação
terá que absorver os valores dessa própria educação
que, como já foi colocado, são em grande medida os valores
culturais dos grupos mais privilegiados. Por exemplo, passar a ouvir certas
músicas, freqüentar certos lugares, comportar-se de determinada
maneira, apreciar específicas manifestações artísticas,
usar a língua dentro de certos padrões.
Dessa forma, a mudança das referências culturais dos grupos
mais pobres é vista pelo sistema educacional como produtos benéficos
e desejáveis. Portanto, o deslocamento social não exige
simplesmente renunciar a situação de pobreza, mas também
deixar de lado um conjunto de maneiras de agir e pensar que não
parece existir nenhuma boa razão para ser rejeitado.
Educação de Adultos - um subsistema integrado e
integrador.
José Rodrigues da Costa (EBI Castelo do Neiva)
jrcosta@iosecosta.net
Portugal continua a ser referenciado de forma preocupante. Ontem, apresentava
taxas de analfabetismo que reflectiam a política de então
(50 anos). Hoje, não temos capacidade de mobilização
para o sucesso educativo e são assustadores os indicadores de abandono
precoce e de insucesso, obviamente reflectindo as opções
políticas destes tempos (30 anos).Contudo, a Sociedade evoluiu
positivamente, democratizando-se, a Escola descentralizou-se e as ofertas
multiplicaram-se, os Pais organizaram-se no sentido da gestão participada,
mas 'é lastimável que muitas Escolas fechem as suas portas
à Comunidade', consideram ainda Chapman e Aspin (1997), enquanto
que, ao mesmo tempo, se vai reconhecendo o papel do professor como multifacetado,
incorporando de forma crescente as dimensões do social, cívica,
económica, técnica…
Nesta próxima década, consagrada pelas Nações
Unidas como a Década para a Alfabetização [2003-2012],
também nós - sem esperar um papel pioneiro do Estado - temos
de reflectir sobre a nova visão da alfabetização
e o alerta das Nações Unidas para que, a manterem-se as
tendências actuais, um em cada seis adultos será analfabeto
(não no sentido restrito do 'saber ler e escrever', mas um conceito
que considera as práticas sociais, o saber, a linguagem e a cultura).
A proliferação terminológica tornou-se demasiada
e conceitos como Educação Permanente, Educação
de Adultos, Educação e Formação de Adultos
[…] Aprendizagem ao Longo da Vida vêm permitindo alterações
de política [nacional], mas sem as necessárias avaliações
e os resultados são os que diariamente vamos constatando. Importa,
mas pouco, a adopção de modas. Exige-se, nestes primeiros
dias do milénio, a clara tomada de consciência dos efeitos
da ausência de políticas de alfabetização -
duma política de Educação de Adultos.
'O desemprego, a longo prazo, mina a auto-estima e pode incidir negativamente
na saúde, nas relações interpessoais e nas estruturas
sociais e da comunidade, e em casos mais extremos traduz-se em fenómenos
individual e socialmente disfuncionais, como a delinquência e o
consumo de drogas', refere um estudo da OCDE de 1995. É, de facto,
uma questão social com que deparamos.
Subjacente a esta preocupação, deverá estar uma outra:
a do analfabetismo (literal ou funcional) / da ausência duma política
de Educação de Adultos.
Charlot (1990) considera que hoje, mais do que nunca, o insucesso escolar
gera o insucesso social, o mesmo é dizer, uma vida de insegurança,
de marginalização e de dependência dos mecanismos
de assistência social, o que, aliado às recentes 'Projecções
de População Residente, Portugal e NUTS II' (2004), dando
conta do decréscimo e envelhecimento da população
e de que o número de idosos por cada indivíduo em idade
activa pode triplicar, nos próximos 50 anos, torna a situação
demasiado preocupante.
A nossa comunicação tem subjacentes estas preocupações,
mas certos de que a Escola se deve assumir como um espaço de desenvolvimento
comunitário [que potencia a redução da pobreza],
mas considerando os Pais, a Comunicação Social e o Poder
Autárquico e de que serão os excluídos que podem
apreciar melhor a noção de 'alfabetização
como liberdade'.
Sobre o Magistério e sobre suas Mortes no Brasil: Aspectos
Históricos e Teóricos
Henrique Garcia Sobreira (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
hsobreir@uerj.br
Andréa Silva do Nascimento (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
deia-sn@bol.com.br
O conceito de auto-reflexão, eixo de um currículo de formação
de professores, foi desenvolvido a partir do debate de Theodor Adorno
sobre os tabus que envolvem a profissão de ensinar, criados no
processo social de formação de nossa profissão. A
auto-reflexão consiste na elaboração, pelo destinatário,
dessas experiências primarias/primitivas de formação.
Na investigação sobre a ligação entre a história
social da docência e a história pessoal dos professores,
chegamos aos debates respeito da mudança de Nível de Formação
dos professores para os anos iniciais da Educação Básica.
Se até 1996 bastava ter formação em Nível
Médio para obter a autorização habilitação
para ensinar, a nova Lei de Diretrizes e Bases de a Educação
Nacional (LDBEN-BRASIL) não só criou uma nova estrutura
de formação - os Cursos Normais Superiores - como também,
uma de suas ambigüidades sugeria que a partir de janeiro de 2007
todos os professores deviam possuir formação em Nível
Superior. No Instituto de Educação - Nível Médio-
em que acompanhávamos o processo de absorção dessa
novidade, percebemos uma angústia crescente em relação
com sua morte anunciada. Assim se configurou o objetivo do presente trabalho:
analisar a possibilidade de que a morte ocupe o lugar de tabu (memória
encobridora e/ou recordação a ser encoberta) nos processos
formais de educação do educador. Isto foi realizado explorando
parte da historia de nossa profissão no Brasil e buscando aportes
de Hegel e Freud sobre a morte, que puderam servir como guias na elaboração
deste tabu. O trabalho encerra debatendo os modos como a mais recente
interpretação da LDBEN apresentada pelo Conselho Nacional
de Educação, além de manter o anacronismo na formação
inicial de professores, não resolveu a angústia em relação
a formação inicial dos professores de Ensino Fundamental
pois, sem realizar uma reflexão profunda sobre a situação
dos docentes e discentes do Curso Normal Médio, só se transferiu
a sensação de morte injusta para o recém-nascido
Normal Superior.
Avaliação, Auto-Análise Institucional e Gestão
das Instituições de Ensino Superior
Rui Santiago, Cláudia Sarrico, Sónia Cardoso, Denise Leite
(Universidade de Aveiro)
É intenção dos autores expor alguns dos resultados
teóricos procedentes do trabalho de pesquisa bibliográfica
realizado no âmbito das actividades de investigação
do Projecto "Avaliação, Auto-Análise Institucional
e Gestão das Instituições de Ensino Superior: um
estudo comparado em Portugal e no Brasil", em curso na Secção
Autónoma das Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas
Universidade de Aveiro.
A presente reflexão teórica tem igualmente por base alguns
dos dados resultantes da investigação empírica já
realizada e apresentados em vários artigos científicos.
. O principal objectivo do referido projecto é o de construir um
conjunto de construir um conjunto de conhecimentos sobre as modalidades
e práticas da avaliação institucional e analisar
o seu impacto no governo e gestão das instituições
de ensino superior no Brasil e Portugal, esperando que os dados teóricos
e práticos reunidos possam ser úteis na análise e
desenvolvimento de modelos de organização e gestão
das universidades em ambos os países.
Pretende-se, mediante a análise das representações
da avaliação institucional elaboradas por vários
actores académicos (estudantes e gestores académicos das
universidades e gestores de organizações e companhias públicas
locais - Aveiro e Porto Alegre) construir(a) indicadores para a auto-avaliação
e avaliação das universidades participantes no projecto
e (b) definir linhas orientadoras na auto-avaliação que
podem ser usadas na auto-análise destas universidades.
A pesquisa bibliográfica realizada até ao momento tomou
como referência os objectivos descritos e os conceitos-chave do
Projecto (Ensino Superior, Auto-Análise Institucional, Avaliação
Institucional e Gestão Cooperativa) e consistiu tanto na recolha
de documentação sobre o assunto em questão (livros,
artigos científicos, legislação e vários estudos),
como na constituição de um observatório de imprensa,
composto pelos artigos da imprensa escrita portuguesa versando temas relacionados
com o Ensino Superior. A maioria dos documentos científicos aborda
temáticas relacionadas com a avaliação institucional
da qualidade e com a gestão das instituições de ensino
superior, procedendo (i) à caracterização da origem
e evolução dos sistemas de avaliação (ii)
à enumeração e descrição dos seus objectivos,
pressupostos, etapas ou fases, ou (iii) à definição
de conceitos inerentes ao tema (avaliação institucional,
qualidade, avaliação e garantia da qualidade, cultura de
avaliação, cultura de qualidade, acreditação,
etc.).
O estudo das representações da avaliação institucional
elaboradas por diferentes actores académicos apresenta, contudo,
algumas insuficiências, visíveis essencialmente no caso dos
docentes e dos estudantes...É de salientar, a fraca produção
de abordagens científicas que se debrucem sobre '1 análise
e caracterização da participação estudantil
no processo de avaliação institucional ou que tratem estritamente
a forma como este processo é percepcionado e representado pelos
estudantes.
Idêntica tendência se verifica, também, ao nível
do discurso da imprensa. Embora responsável por uma considerável
produção de artigos versando temas como as reformas ou as
políticas no âmbito do Ensino Superior, a contestação
(estudantil e institucional) a essas mesmas reformas ou políticas,
ou o ingresso dos estudantes no Ensino Superior, a imprensa desenvolve
poucos assuntos como a implementação e caracterização
dos sistemas de avaliação institucional, a gestão
e organização das instituições de ensino superior,
a qualidade destas instituições ou a forma como diferentes
actores académicos percepcionam estes aspectos. Esta situação
pode estar, contudo, relacionada com o facto de observação
dos artigos de imprensa (constituição do observatório
de imprensa) ter coincidido com um período de implementação
de reformas no ES ( o exemplo das propinas) ou pelo ingresso dos estudantes
no Ensino Superior.
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