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O teatro no contexto da
globalização cultural: cenário artístico reportórios
e processos de articulação
André Brito Correia (CES/FEUC)
correia@fe.uc.pt
O teatro, enquanto conjunto de apresentações e contactos
entre público e actores num local onde se encontram "em directo
e ao vivo" frente a frente, apresenta uma natureza claramente situada.
O relacionamento entre espectadores e artistas é, aliás,
enquadrado por diversos elementos que são anteriores à performance,
como sejam a zona onde se localiza a sala de espectáculos, a estrutura
arquitectónica dos edifícios teatrais, as áreas de
circulação e convívio do público dentro destes
últimos e a configuração espacial da plateia e do
palco.
No entanto, o teatro como expressão cultural urbana e enraizada
num confronto claramente situado entre criadores e espectadores não
deixa de se constituir como um conjunto de acções onde se
cruzam envolvimentos locais e dinâmicas translocais e transnacionais.
Interessa, portanto, reflectir sobre o modo como a sociologia pode dar
conta das relações estabelecidas entre processos de globalização
cultural e processos de criação teatral.
Proponho, então, que se considere cada grupo de teatro como uma
configuração cultural, ou seja, como uma agregação
de recursos culturais que fazem parte de reportórios artísticos
diferenciados, ou seja, conjuntos de obras artísticas e de convenções.
Estas últimas constituem-se como os sentidos partilhados pelos
membros dos mundos da arte que permitem a acção colectiva.
Os processos de articulação, por sua vez, são os
múltiplos modos pelos quais se agregam os recursos culturais e
pelos quais, portanto, as configurações se redefinem, reproduzem
e alteram. Cada configuração teatral diferencia-se das restantes
pela singularidade da articulação de convenções
e obras realizada no decurso do trabalho de criação artística.
Partindo destas noções, qualquer situação,
por mais local que seja, pode ser abordada do ponto de vista dos recursos
globalizados que aí se mobilizam e activam. Para isso, entende-se
a globalização cultural como um conjunto de processos onde
se insere a circulação transnacional de reportórios
artísticos, ou seja, o conjunto de fluxos que constitui um dos
cenários destas dinâmicas globalizantes, o cenário
artístico mais precisamente.
Sendo assim, interessa conhecer a extensão e intensidade da transnacionalização
de convenções e de obras de arte e a apropriação,
sempre situada e variável, que os grupos teatrais fazem e refazem
desses recursos no decorrer dos seus processos de criação
artística.
As políticas publicas de esporte e lazer no Ministério
de Esporte no Brasil e as desigulades sociais
José Jairo Vieira (Universidade Federal Viçosa)
Andréa Lopes da Costa (IUPERJ-RJ)
Este trabalho tem por objetivo analisar entre as diversas possibilidades
de relações entre esporte e Estado, aquela expressa pela
a proximidade ou distanciamento existente entre as Políticas Públicas
Esportivas (PPE´s) promovidas pelo Ministério do Esporte
(ME) e a proposta de combate à desigualdade social no Brasil. A
questão que se coloca é: As PPE's em seus objetivos gerais
e, principalmente, público alvo atendem a demanda das desigualdades
sociais existentes na sociedade brasileira?
Para tanto, iremos analisar tanto as propostas de PPE´s promovidas
pelo ME, como também, os indicadores sociais relacionados a renda
no Brasil. Na obtenção das PPE´s foram utilizados
documentos oficiais, como material informativo e divulgativo (folder,
panfletos, site oficial, etc). Com relação aos indicadores
sociais de desigualdade social, principalmente o de renda, fora utilizados
dados do censo do IBGE de 2000. Ainda, para melhor detalhar as PPE´S
foi realizada entrevista semi estruturada com representantes do MET.
As PPE´s desenvolvidas pela ME do Brasil são: Esporte na
Escola; Gestão Esportiva; Pintando a Liberdade; Prodetur-sul; Rede
Cenesp; Calendário Desportivo Nacional. Tais políticas são
de âmbito nacional e servem de norte para muitas das PPE´s
desenvolvidas em nível local nos Estados da Federação.
A literatura especializada traz alguns conceitos para a palavra política,
entre eles temos o conferido por Abranches (1987), segundo o qual esta
envolveria a noção de conflito e contradições
de interesses. Neste ponto, a mediação destes interesses
dentro de uma sociedade seria sua principal função da política,
que, com isso, seria especialmente sensível às relações
de poder estabelecidas socialmente. Freqüentemente os grupos que
têm um certo poder na sociedade costumam impor seus interesses na
mediação feita pela política.
Não seria equivocado afirmar que o aumento das políticas
sociais no Brasil ao longo das últimas décadas pode ser
analisado como sendo uma resposta governamental às demandas da
sociedade civil no que se refere a própria situação
de crescente desigualdade observada na sociedade brasileira. Esse é
um ponto importante e, com certeza, o elo de ligação entre
a idéias de políticas esportivas e a idéia de desigualdade
social.
Se, as políticas sociais então, compõem um dos principais
veículos para a realização da idéia de igualdade
social, princípio básico do Estado Moderno, percebemos que,
cada vez mais, concretiza-se a tendência a uma diversificação
das frentes de ação. Às já tradicionais ações
voltadas para a redistribuição de riqueza, garantias de
bem-estar social e seguridade, apresentam-se iniciativas associadas ao
esporte. Daí concluímos que o discurso comum é de
que, através dele pode-se: 1) Criar mecanismos para a ascensão
social, permitindo que um grupo de pessoas carentes encontre realização
profissional; 2) Servir como um instrumento de socialização
e elaboração de espaço para lazer; 3) Servir como
mecanismo de reforço ao controle social na medida em que afasta
seu público alvo da criminalidade comum às regiões
carentes; e, 4) Subjacente a estas questões temos ainda a proposta
subjetiva de elevação de auto-estima.
Desta forma, ao analisarmos as PPE's promovidas pelo ME e o contexto de
desigualdade social brasileira, notamos que apesar, destas políticas
serem em sua maioria justificadas e defendidas como uma necessidade de
determinados grupos sociais, ou seja, terem em alguns casos uma perspectiva
de diminuição das desigualdades sociais e promoção
da equidade social, elas ainda estão distantes de alcançar
amplamente tais grupos e objetivos propostos.
Lazer, trabalho e sociedade: notas introdutórias sobre
o Lazer como um direito social
Erick Rodrigo Fernandes, Edson Marcelo Húngaro, José Luis
Solazzi (Centro Universitário Municipal de São Caetano do
Sul)
erick_rodrigo@hotmail.com
O presente estudo é uma revisão bibliográfica que
teve por foco a análise crítica do entendimento do Lazer
na sociedade contemporânea. Tratou-se de resgate histórico
sobre o significado conceitual do lazer e, conseqüentemente, da sua
materialidade nos limites das relações sociais capitalistas.
É parte integrante da pesquisa que vimos realizando sobre as políticas
sociais para o lazer na cidade de São Caetano do Sul. Na verdade,
trata-se da fundamentação que precede a análise sobre
as políticas sociais que tratam do referido fenômeno na cidade
acima mencionada.
Essa temática foi escolhida devido à relevância do
fenômeno, pois é notório o crescimento do interesse
em torno da mesma. Julgamos ser absolutamente necessário dar continuidade
no aprofundamento dos conhecimentos e discussões em torno do Lazer
a fim de que possamos aumentar a consciência da população
sobre as múltiplas dimensões econômicas, culturais
e políticas presentes nas dinâmicas sociais produtoras e
influenciadas por este fenômeno. Tal relevância cresce ainda
mais na medida em que se percebe a fragilidade com que os órgãos
governamentais têm compreendido o Lazer. Ao que parece, na maioria
das vezes, ele não é entendido como um direito social, mas
muito mais como uma mercadoria ou serviço a ser disponibilizado.
Isto, em parte, deve-se a uma compreensão de Lazer que o reduz
ao seu aspecto moralizante e/ou de consumo.
Para a realização da pesquisa, algumas etapas foram projetadas
e, partes delas, já foram realizadas. Das partes realizadas, ora
apresentamos os resultados referentes aos seguintes aspectos:
" Ao estudo da gênese do lazer na sociedade moderna;
" À análise das diversas visões em relação
ao fenômeno;
" À compreensão das relações entre lazer
e trabalho;
" E ao estudo sobre a possibilidade de entendimento do Lazer como
um Direito Social.
Com este estudo preliminar, percebemos que, ao longo da história
do capitalismo, as relações trabalho/lazer formam um sistema
em que o movimento de um afeta o movimento do outro e que o fenômeno
do Lazer, como esfera própria e concreta, originou-se a partir
da revolução industrial. Para os autores marxistas, o tempo
de lazer é poluído pelos valores nefastos do capitalismo,
mas deve ser considerado como uma reivindicação social necessária
ao desenvolvimento completo do homem e não apenas como um meio
para descansar, consumir determinados produtos e reproduzir a força
de trabalho. Percebemos, também, que a compreensão do Lazer
como um direito social tem relação com o direito ao tempo
livre do trabalho, às férias, ao repouso semanal e ao acesso
aos bens culturais produzidos pela humanidade e que a conquista destes
direitos está ligada às lutas dos movimentos trabalhistas
por igualdade.
Concluímos que o Lazer é de fato um direito social que pode
contribuir para a transformação dessa sociedade e que o
Estado deve se preocupar na elaboração e execução
das políticas sociais para o Lazer, sendo que a garantia desse
direito necessita de programas concretos para sua efetivação.
Vale ressaltar que o estudo que ora apresentamos está vinculado
ao Observatório de Políticas Sociais de Esporte, Lazer e
Educação Física da região do Grande ABC. Este
Observatório é fruto de uma parceria entre o Centro Universitário
Municipal de São Caetano do Sul - o IMES - e a Secretaria Nacional
de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/SNDEL do Ministério do
Esporte Brasileiro - o MESP e tem por objetivos mapear e analisar criticamente
as Políticas Sociais ligadas aos temas mencionados nessa importante
região do Estado de São Paulo que é o ABC paulista.
Dessa forma, nossos próximos passos serão os de mapear e
analisar criticamente as ações empreendidas pela atual gestão
da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul quanto ao fenômeno
estudado.
O ensino da dança: reflexões para a construção
de uma pedagogia emancipatória
Cristina Mayumi Velucci Shimizu
Edson Marcelo Húngaro e José Luis Solazzi (Centro Universitário
Municipal de São Caetano do Sul - IMES)
criskinha@hotmail.com
O presente estudo é uma tentativa de analisar as possibilidades
de construção de uma pedagogia de cunho emancipatório
para o ensino das Artes, mais especificamente para o ensino da Dança
e explicitar quais seriam os seus pressupostos. Para tanto, fizemos, inicialmente,
uma revisão bibliográfica sobre o tema das tendências
pedagógicas tendo como principais referenciais as obras de Dermeval
Saviani, Paulo Freire e George Snyders. Terminada tal revisão,
passamos a estudar as possibilidades da Arte, mais especificamente da
Dança, no processo de humanização dos sujeitos. Nessa
etapa, diagnosticamos que os principais métodos de ensino da Dança
pautam-se em técnicas extremamente conservadoras e que não
fazem referência a qualquer outro objetivo que não seja o
do ensino da técnica pela técnica. Constatamos, portanto,
a necessidade de uma nova metodologia para o ensino da Dança que
transcendesse os objetivos puramente técnicos. Uma nova metodologia
que estivesse comprometida com o desenvolvimento do humano no humano e
que, em referência à Saviani, estamos denominando de Emancipatória.
Não terminamos, ainda, o nosso estudo e, portanto, a proposta dessa
nova metodologia está em fase de desenvolvimento, porém
temos já sistematizados alguns resultados que ora apresentamos.
Vale ressaltar que o estudo que ora apresentamos está vinculado
ao Observatório de Políticas Sociais de Esporte, Lazer e
Educação Física da região do Grande ABC. Este
Observatório é fruto de uma parceria entre o Centro Universitário
Municipal de São Caetano do Sul - o IMES - e a Secretaria Nacional
de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/SNDEL do Ministério do
Esporte Brasileiro - o MESP e tem por objetivos mapear e analisar criticamente
as Políticas Sociais ligadas aos temas mencionados nessa importante
região do Estado de São Paulo que é o ABC paulista.
Claro está que, pela sua natureza temática - a Política
Social - abriga perfeitamente um estudo sobre Educação como
é o nosso.
Resultados Iniciais: A dança como um elemento da Arte é
uma importante aliada na formação humana, esta entendida
como processual. Propusemo-nos a estudar os elementos das artes que facilitam
uma educação em que a prioridade seja o ser humano e suas
relações com a sociedade. Para isso, empreendemos um estudo
sobre a especificidade humana que está em transformar e ser transformado
pela natureza. Nesse processo, percebemos a infinitude humana por uma
lado, mas a necessidade de aprendizado, por outro. A partida, portanto,
nosso estudo demonstrou como o processo educacional está ligado
à especificidade humana, à sua característica distintiva
em relação ao restante da natureza: o trabalho. Foi, também,
percebido que este processo de transformação incessante
da natureza é feito em condições históricas
dadas, que não são escolhidas pelos sujeitos em questão.
Temos aqui um segundo resultado deste nosso estudo: o processo educacional
se dá em determinadas circunstâncias sócio-históricas.
A revisão bibliográfica permitiu, ainda, perceber que a
Arte deriva do trabalho - práxis humana fundante do ser humano
-, mas não é ela em si trabalho. Circunscreve-se no âmbito
das expressões culturais humanas que, embora ligadas ao trabalho,
possuem uma especificidade enquanto elementos de práxis humana.
Com tais informações sistematizadas partimos para o entendimento
da Dança como Arte e não simplesmente como movimentação
organizada e sistematizada podendo ser criativa, devemos observar seu
surgimento, desenvolvimento e atual situação. Ela foi se
transformando nas relações da sociedade nos diversos momentos
históricos e assumiu neles papéis distintos, mas, na maioria
das vezes, serviu como elemento de dominação, como expressão
de desigualdade social ou de expressão distintiva de classe. Os
resultados inicialmente obtidos apontam a possibilidade e a necessidade
de se construir uma nova metodologia para o ensino da Dança comprometida
com o processo de emancipação humana.
O desafio pedagógico da interculturalidade na indisciplina
nas aulas de Educação Física
Pedro Tavares e Isabel Mesquita (Faculdade de Ciências
do Desporto e de Educação Física - Universidade do
Porto)
imesquita@fcdef.up.pt
António Rosado (Faculdade de Motricidade Humana - Universidade
Técnica de Lisboa)
Numa sociedade em permanente mudança e constantemente transformada
pela inovação científica, técnica e pedagógica,
a Educação terá de ser encarada como um processo
contínuo que permita uma adaptação eficaz e constante
às condições e variáveis do meio, visando
a inserção do indivíduo numa sociedade que se pretende
ordenada e harmónica.
Um comportamento disciplinado ou indisciplinado é normalmente condicionado
pelo quadro de valores da sociedade em que se insere ou, de quem o perspectiva
pois, em última instância, são estes que permitem
formular um juízo de valor sobre o que é ou não aceitável
(Estrela, 2002). A indisciplina na aula apresenta-se hoje, pela dimensão
que tem vindo a adquirir, como um dos maiores problemas do ensino actual.
A este fenómeno não é alheia a problemática
da interculturalidade, em virtude da coexistência de diferentes
grupos culturais ser uma evidência que potencia a indisciplina,
principalmente na ausência de estratégias promotoras da integração
da diversidade e pluralidade. Todavia, não pode ser mais ignorado
que Interculturalismo é sinónimo de reconhecimento do pluralismo
cultural, isto é, da afirmação de cada cultura, considerada
na sua identidade própria e na sua abertura às outras, de
forma a estabelecer com elas relações de complementaridade
Definimos como objectivo principal do nosso estudo, diagnosticar a variabilidade
da percepção da gravidade de incidentes disciplinares na
aula de Educação Física, no que diz respeito às
matérias nucleares da disciplina, às diferentes estruturas
das tarefas, aos diversos momentos e partes da aula e ao alvo a que se
destinam. Do conjunto de informações que o professor possa
ter relativamente a estas variáveis, identificar a existência
de diferenças nestes comportamentos tendo em consideração
o género, nível de desempenho motor e etnia.
A amostra do presente estudo é composta por 130 professores do
2º e 3º ciclo do ensino básico. Foi aplicado um questionário
de respostas fechadas (escala de Likert de 5 itens), complementado por
questões de resposta aberta. O questionário foi construído
com base na análise crítica da bibliografia da especialidade
(Amado, 1998; Gaudêncio; 2001; Varela; 2001; Januário, 2002);
Oliveira; 2002; Arroz 2003). Posteriormente foi sujeito a um processo
de validação por peritagem (2 professores universitários,
com especialização na área da Pedagogia do desporto,
e com pesquisas realizadas na área da interculturalidade e da indisciplina).
O questionário foi objecto de aplicação piloto, onde
foram discutidos e analisados os procedimentos de preenchimento, o conteúdo
das respostas e a uniformização dos procedimentos de aplicação.
Para tal, foram aplicados a 25 professores de Educação Física.
Para a análise dos dados recorreu-se à estatística
descritiva habitual e à não paramétrica (teste do
qui-quadrado) na associação entre variáveis.
Os resultados do presente estudo mostram que os professores associam a
gravidade de incidentes disciplinares na aula de Educação
Física às matérias nucleares da disciplina, às
diferentes estruturas das tarefas, aos diversos momentos e partes da aula
e ao alvo a que se destinam, identificando comportamentos de indisciplina
particulares em função do género, do nível
de desempenho dos alunos e de distintos grupos culturais. Complementarmente
a formulação de estratégias didácticas para
a indisciplina surgem associadas à questão da interculturalidade,
mostrando de forma inequívoca a necessidade de atender às
diferenças, no âmbito do ensino em Educação
Física e Desporto.
Tal impõe um desafio pedagógico e didáctico que se
coloca a diversos níveis do sistema educativo e formativo, concretizando-se
na acção didáctica, no interior da sala de aula,
no ginásio, a propósito de alunos e de professores.
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