Cartografia e cultura: os
territórios das comunidades remanescentes de quilombos no Brasil
O mapeamento dos remanescentes de antigos quilombo realizado no território
brasileiro, foi desenvolvido dentro do Programa das Comemorações
do V Centenário do Descobrimento do Brasil com apoio institucional
da Comissão Nacional do referido Programa (Ministério das
Relações Exteriores) e de parcerias entre A Secretaria de
Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, a
Mapas Editora & Consultoria e da Universidade de Brasília.
Esse trabalho, busca contribuir efetivamente, com informações
geográficas para auxiliar na construção de um novo
perfil das culturas africanas e do negro brasileiro na formação
do país, que continua carecendo de investigação e
de conhecimento. No Brasil, os remanescentes de quilombo, "mocambos",
"comunidades negras rurais" ou "terras de preto",
referem-se ao mesmo patrimônio cultural inestimável em grande
parte desconhecido pelo Estado, pelas autoridades e pelos órgãos
fundiários e de política agrícola oficiais. Se configura,
portanto, a necessidade de recuperação e resgate dos fragmentos
de informações geográficas, sobretudo, do que está
acontecendo na espacialização dos remanescentes de quilombo
no Brasil, como ferramenta básica para subsidiar o planejamento
de programas de desapropriação desses espaços e ações
nas áreas de saúde e educação, principalmente.
Dessa maneira, o trabalho apresenta uma caracterização da
distribuição espacial dos remanescentes de quilombo no território
brasileiro. A base informacional, que é um aspecto estrutural da
pesquisa, foi organizada com dados do Mapeamento Preliminar dos Remanescentes
de Quilombo do Brasil realizado por Anjos (Ministério da Cultura
- Fundação Cultural Palmares, 1997) e informações
coletadas em 1998 e 1999 junto a organismos oficiais, principalmente nas
Procuradoria Geral da República de cada unidade política
do Brasil e, também, nas entidades negras representativas, particularmente,
o Movimento Negro Unificado (MNU). O processo de mapeamento dos dados
obedeceu a dois procedimentos estruturais: inicialmente, as informações
coletadas (basicamente, o nome da comunidade e o município de ocorrência)
foram introduzidas nas planilhas de dados EXCEL, possibilitando a migração
entre os sistemas Macintosh e PC; num segundo momento, o processo de mapeamento
utilizou a divisão municipal do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) de 1997 como referência espacial e para
manipulação dos dados espaciais e construção
preliminar dos documentos cartográficos, o Sistema de Análise
dos Municípios Brasileiros Agregados para o Ano 2000 (SAMBA 2000)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essas
informações foram manipuladas no software CABRAL 1500 (Phillipe
Waniez, 1996) que possibilita representações quantitativas
e qualitativas, saídas gráficas e apresenta várias
funções de um Sistema de Informação Geográfica
(SIG).
Cinema e liberdade em Angola: uma incursão no olhar de
Antonio Ole (1975-1980) O cinema em Angola começou a sua trajetória ainda no período
colonial. Para além dos filmes realizados pela "Cinangola",
agência criada nos últimos anos do colonialismo, com o objetivo
de produzir filmes publicitários e de informação,
havia ainda uma pequena produção cinematográfica
que partia de militantes da causa da luta de libertação
no exterior - um caso exemplar é o de Sarah Maldoror, originária
de Guadalupe, que era casada com Mario Pinto de Andrade, alto dirigente
do MPLA - Movimento Popular pela Libertação de Angola -
e estava igualmente engajada no contexto da luta. Sarah, com apoio do
Movimento, realizou dois filmes, nomeadamente Monangambee, de 1969, e
Sambizanga, de 1972.
Esta comunicação discute a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em 17 de Julho de 1996, como o culminar de uma longa busca pela unificação dos países de língua oficial portuguesa. As intenções da criação de uma comunidade luso-brasileira-africana são um sonho acalentado por Portugal, desde a independência do Brasil. , Portugal não aceitava a ideia da perda da sua grande antiga colónia, ja que o Brasil era o eldorado dos emigrados portugueses e um dos grandes subsidiários da economia portuguesa. Prova disto era que a balança comercial entre os dois países no fim do século XIX e início do séc. XX era sempre favorável a Portugal . Sobretudo Portugal contava com um sentimento de que o Brasil era o seu país irmão, tendo as afinidades necessárias para se afirmar uma comunidade recíproca entre os dois países, afinal a colónia portuguesa no Brasil era realmente significativa para a economia portuguesa e a manutenção dos laços e transmissão da cultura portuguesa no Brasil. Não podemos deixar de observar que os países africanos entravam na formação da comunidade porque pertenciam ao Império. Para não perder os laços com sua antiga colónia,
Portugal passou a defender a ideia da criação de uma comunidade
luso-brasileira que englobava suas colónias em África, formando
assim uma grande comunidade económica de países de língua
portuguesa. Esta proposição, para tentar convencer o Brasil
da utilidade que poderia ter a criação desta comunidade,
era acompanhada pela ideia da criação de um porto seco em
Lisboa, aclamada "Porta para a Europa". Expressão esta
utilizada até hoje em discursos de ambos os países, como
a do Primeiro Ministro português em visita resente ao Brasil "Os
grandes empresários brasileiros já entenderam que é
uma grande vantagem aceder ao maior mercado do mundo que é a União
Europeia e que podem atingi-lo através de Portugal" ; discurso
semelhante ao que se fazia no inicio do século.
I - A pesquisa de Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, sobre a
gênese e características dos povos africanos que foram para
cá transladados, talvez tenha alcançado o limite do que
era possível no momento em que ele escrevia. Preocupação
semelhante não tem ocorrido. Baseado, então, em intervenção
do Prof. Fernando Albuquerque Mourão (1974), professor do Departamento
de Antropologia da USP e reconhecido conhecedor de África discuto
o desinteresse de cientistas sociais brasileiros pelas novas descobertas
e abordagens na historiografia do continente africano, ao meu ver importantes
para teorizar com mais consistência sobre a formação
social brasileira. Penso que tais conhecimentos poderiam contribuir para
a elucidação de questões referentes aos conflitos
e diferentes processos sociais e culturais que historicamente envolveram
as relações entre brancos e negros, no Brasil. São
muitas as leituras que tais aprofundamentos podem nos dar sobre etnicidade. Da Matta, que se desloca do pensamento de Gilberto Freyre, como que o circunscrevendo a um determinado momento teórico; e Coutinho, que o venera, são apenas dois exemplos da benevolência (quem sabe merecida?) que desfrutou (e ainda - quase - desfruta) o pensamento de Freyre. Ao invés de buscar pontos fracos para combatê-lo, estejamos à altura da magia com que, do alpendre da Casa Grande e impregnado da vontade de harmonia racial - uma representação antiga e sedutora da alma brasileira - construiu uma teoria sobre a identidade nacional e um paradigma para cientistas sociais e para uma sociedade inteira. Para estarem à altura de GF, da sua representação, dos efeitos mais do que especiais da sua "viagem", cientistas sociais devem ajudar a trazer para a terra o estado de consciência do qual ele foi o mais destacado arauto. Através de variadas abordagens isso vem sendo feito, a sublimação da metafísica daquele pensamento, no sentido de instituir seus contornos físicos, concretos, identificando a justeza, os limites, os cenários da materialidade que assumem nas relações sociais, na hierarquização social, e, dentro dela, o papel da discriminação e das desigualdades raciais. Esse, me parece, nessa questão, um desafio crucial do nosso tempo. |
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