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O estudo do lugar como possibilidade
de construção da identidade e pertencimento
Helena Copeti Callai (UNIJUI/Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul)
Enlaces entre Territoriedade e Identidade Coletiva em uma Reserva
Extrativista da Amazônia Ocidental Brasileira
Valéria de Oliveira (Fundação Universidade
Federal de Rondônia)
Esta pesquisa objetivou verificar a possível relação
entre os discursos identitários e territoriedade em populações
tradicionais. A investigação foi delimitada à Reserva
Extrativista do Lago do Cuniã . A Reserva Extrativista do Lago
do Cuniã é uma reserva federal, localizada em Rondônia,
Amazônia Ocidental Brasileira, mais precisamente na cidade de Porto
Velho, distante aproximadamente 140 km zona urbana da cidade. Para dar
cabo à investigação foi efetuado um estudo de caso
a partir de uma metodologia qualitativa pois a investigação
envolvia categorias que denotam uma carga histórica, cultural,
política e ideológica. O enfoque interpretativo permitiu
a compreensão dos dados a partir da ótica dos próprios
atores. O levantamento dos dados ocorreu no período de agosto de
2002 a fevereiro de 2003, neste período foram efetuadas observações
diretas em campo, entrevistas e análise documental.
Após coleta dos dados verificou-se que:
A reserva possui uma área total de 55ha.
O acesso á reserva dede Porto Velho se faz por via fluvial: 5 horas
de lancha e 11 horas em uma embarcação maior chamada de
batelão;
A reserva é constituída por aproximadamente 60 lagos, que
se unem na época das chuvas sendo berçário de várias
espécies de peixes e aves;
A reserva foi criada em 1999 pelo Decreto Federal nº 3238/99, depois
de um grande embate entre o governo brasileiro que queria transformar
a área em reserva ecológica (onde não se pode habitar
pessoas) e a população que ali vivia. É importante
salientar que as reservas extrativistas, no Brasil, são áreas
públicas, criadas por Decreto Presidencial, ocupadas por populações
tradicionais que vivem do extrativismo. São administradas pela
própria população, através da gestão
compartilhada com o Centro Nacional de Populações Tradicionais
e Desenvolvimento Sustentável- CNPT;
A população está distribuída em 4 comunidades:
Silva Lopes e Araujo, Araçá, Neves e Pupunhas. A infra estrutura
é mínima. Existem 3 escolas que oferecem o ensino de 1ª
a 4ª série do ensino fundamental. Um posto de saúde
( que não possui médico ou enfermeiro), um telefone público,
não existe água tratada e encanada, rede de esgoto sanitário,
e a energia elétrica é fornecida por gerador movida á
óleo disel.
A reserva caracteriza-se por ser uma comunidade de subsistência
composta por 253 pessoas entre adultos, jovens crianças e idosos.
A maioria da população economicamente ativa trabalha como
pescadores, mas há pequenos agricultores, coletores de açaí
e castanha do Brasil;
A população é descendente de indígenas, imigrantes
portugueses, migrantes nordestinos brasileiros (que para lá se
dirigiram durante o I ciclo da borracha no final do séc, XIX e
durante II ciclo da borracha, época da segunda guerra mundial como
soldados da borracha);
A análise dos dados no permitiu verificar que identidade não
é algo estático, mas algo que se constrói constantemente
dia a dia a partir de inúmeros elementos tomados da história,cultura
e tradições de uma comunidade, o referente ambiental territorial
e, sobretudo com os planos futuros. Os discursos identitários não
existem fora de um contexto e na comunidade de Cuniã estão
diretamente ligados à sua territoriedade, á sua história,
cultura e herança indígena (através das representações
simbólicas e místicas, de sua vida cotidiana e do trato
com o meio ambiente), as formas da sua colonização, sua
dependência econômica e sua luta pela permanência naquele
território, bem como por sua posse. Percebeu-se também que
a luta pela identidade e pelo território não resultam em
um assunto do passado, mas como forma de defender a qualidade de vida
que tem direito e gerar por sua vez desenvolvimento sustentável.
Descentralização e cooperação intermunicipal
no Brasil?
Carlos Vasconcelos Rocha (PUC Minas Gerais)
Carlos Aurélio Pimenta de Faria (PUC Minas Gerais)
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, paralelamente aos avanços
no processo de descentralização, proliferaram no Brasil,
mesmo que de forma incipiente, inúmeras e diversificadas experiências
de cooperação intermunicipal, autônomas ou induzidas
pelos governos estaduais e federal, que visavam ao planejamento integrado,
ao fomento do desenvolvimento regional, à preservação
ambiental e à ampliação da capacidade dos municípios
de atender às demandas locais e de responder a outros constrangimentos
relativos à provisão de bens e serviços públicos.
A despeito de sua significativa abrangência e relativa visibilidade,
este fenômeno, que denominamos genericamente "desfragmentação"
da gestão pública, é ainda subexplorado como objeto
de pesquisa pela Ciência Política brasileira e negligenciado
na produção de estatísticas oficiais . O objetivo
deste trabalho, além de explicitar os fatores que têm gerado
esta pontual e tentativa reversão do que na literatura sobre o
tema é designado de "municipalismo autárquico",
é discutir as suas potencialidades e avaliar os elementos que têm
dificultado ou facilitado a "cooperação horizontal"
para a produção de políticas públicas.
O tema da cooperação intermunicipal ganha relevância,
notadamente na agenda local, como resultado das fragilidades e desafios
resultantes do processo de descentralização das políticas
sociais, especificamente com a transferência de poder de decisão
e de recursos, bem como de atribuições, da União
e dos estados para os municípios.
As experiências mais relevantes de consorciamento, no Brasil, encontram-se
na área da saúde. No contexto nacional, Minas Gerais aparece
como o estado em que essas experiências mais se difundiram (Cruz,
2001:60). Este trabalho pretende também discutir o processo de
consorciamento na área de saúde em Minas Gerais.
Inicialmente procuraremos avaliar o processo de descentralização
e seus impactos nas relações federativas. No caso brasileiro,
uma das questões mais relevantes é a possibilidade/necessidade
de se passar de um padrão competitivo para um padrão cooperativo
de relações intergovernamentais. Finalmente, após
uma breve apreciação do processo de descentralização
e das relações federativas na área da saúde,
são apresentadas algumas hipóteses preliminares sobre o
processo de constituição dos consórcios intermunicipais
de saúde no estado de Minas Gerais, com o intuito de contribuir
para uma maior dinamização do ainda incipiente e muitas
vezes normativo debate acerca das relações intergovernamentais
no país.
Território de fronteira: Brasil/Colômbia
Ricardo José Batista Nogueira (Universidade Federal do Amazonas)
A pretensão deste trabalho é apresentar um desdobramento
da concepção de Fronteira enquanto disjunção
histórica a partir da experiência desenvolvida na fronteira
do Brasil com a Colômbia.
A extensão da linha fronteiriça entre estes dois países
é superior a 1.500 km. No entanto, dos três pontos de contato
existentes - La Pedrera / Vila Bitencourt, Tarapacá / Ipiranga
e Letícia / Tabatinga-, somente este último apresenta uma
dinâmica territorial abrigando diversos fluxos. A cidade brasileira
de Tabatinga possui aproximadamente 25.000 habitantes, enquanto a cidade
colombiana de Letícia possui em torno de 20.000 habitantes. Para
os padrões amazônicos, podemos dizer que este aglomerado
urbano internacional é de porte médio.
A trama fronteiriça entre estas duas cidades é dada pela
origem indígena de ambas, visto que esta região é
dominada por uma das maiores nações indígenas brasileiras,
os Tikunas. Além disso, é importante frisar que estas cidades
têm aparecido na mídia internacional como uma das principais
passagens de drogas da Colômbia para o território brasileiro.
Nossa abordagem sobre esta fronteira parte da existência simultânea
de três concepções fronteiriça: uma fronteira
controlada, em que ambos os países exercem seu controle a partir
de aparatos militares; uma fronteira percebida, em que discutimos a visibilidade
distinta desta região de fronteira por ambos países; e uma
fronteira vivida, em que apresentamos a vida cotidiana de uma sociedade
fronteiriça que sabe apropriar-se das diferenças entre os
Estados-nacionais.
A cidade brasileira de Tabatinga é originária ainda da implantação
de uma fortificação portuguesa no século XVIII, cuja
denominação era São Francisco Xavier de Tabatinga.
Após a independência do Brasil esta região ficou abandonada
por muitos anos, só sendo revigorada com a extração
da borracha, tanto no Brasil como na Colômbia e Peru. No outro lado
da fronteira, as antigas instalações espanholas fragmentam-se
dando origem a diversos estados-nacionais, que vão disputar e definir
territórios. A Colômbia e o Peru travam uma batalha, visto
que interessava aquela uma saída para o rio Amazonas.
A cidade de Letícia é originária de um antigo ponto
de comercialização de borracha peruana. Depois de conquistada
pela Colômbia para a ser o principal ponto estratégico no
sul deste país. Ganhou o status político de capital do Departamento
do Amazonas, abrigando assim uma dinâmica política , e ,
por conseqüência, passou a ter a hegemonia regional. Já
foi um dos principais pontos de tráfico de drogas desta região
na década de oitenta, e em virtude da forte repressão brasileira,
tornou-se desinteressante.
Uma das propostas de alteração territorial para esta região
é a criação de um território federal no Oeste
do estado do Amazonas brasileiro, com o nome de Território do Alto
Solimões, com a capital na cidade de Tabatinga. Segundo seus moradores,
isto daria um status equivalente 'a sua vizinha colombiana, equilibrando
a hegemonia fronteiriça.
Mais recentemente oas forças armadas brasileira vêm deslocando
seus pelotões de infantaria do Sul do Brasil para o Norte com o
objetivo de resgardar esta região das possíveis penetrações
não apenas de narcotraficantes mas também dos guerrilheiros
das FARC's.
Inovando no desenho das relações intermunicipais
: o pacto territorial
Maria do Livramento Miranda Clementino (Universidade Federal do Rio Grande
do Norte)
As cidades vivem atualmente, diante da globalização econômica,
um processo de complexificação de suas realidades, dadas
as constantes e variadas transformações sociais decorrentes
da dinâmica (global) do sistema capitalista. Nesse clima de remodelagem
estrutural, as chamadas regiões metropolitanas brasileiras aglutinam
problemas clássicos como um alto grau de conurbação
ou de tendência funcional entre os municípios que as compõem.
Do mesmo modo, congregam inexoráveis problemas contemporâneos,
como a violência urbana, a falta de moradia, o desemprego, a precariedade
de infra-estrutura e de prestação de serviços púbicos,
que também carecem de soluções urgentes a fim de
melhorar a qualidade de vida de sua população.
A problemática atual das grandes cidades brasileiras está,
então, intrinsecamente relacionada ao atendimento das necessidades
básicas dos seus habitantes, de maneira eficaz e democrática,
a fim de diminuir a extrema desigualdade social existente, que também
tende a ser global.País eminentemente urbano, o Brasil concentra
mais de 80% de sua população nas cidades. Fazendo de sua
realidade urbana uma das mais graves do mundo. Esses problemas requerem
atenções redobradas e especiais por parte dos municípios
e dos governos.
No campo da cooperação intergovernamental observa-se, no
Brasil, o surgimento de algumas experiências de gestão urbana
responsáveis pelo estabelecimento de relações cooperativas
e colaborativas entre municípios integrantes de regiões
metropolitanas.
O trabalho consiste em analisar os avanços e recuos dessas estratégias
de ação dos governos municipais na organização
de um"pacto territorial" que permita uma renovação
da agenda pública local. A idéia de "pacto territorial"
aqui defendida, não se restringe a idéia de um mero espaço
físico regional. Perpassamos essa compreensão em busca de
uma definição mais ampla, que possa abarcar toda a complexidade
da questão metropolitana no Brasil, ou melhor, que possa atender
às demandas que o desenvolvimento metropolitano exige diante de
questões que lhes são postas na atualidade.
A proposta de um "pacto territorial", nesse contexto, vem fundamentada
na idéia de um "acordo político"via negociações
entre forças dinâmicas (atores sociais, empresas,instituições,
estados e municípios) capazes de empreender a interação
entre diferentes setores de um território, não circunscrito
a um único município, no intuito de desencadear um processo
de desenvolvimento integrado e sustentável. Em suma , ao "pacto
territorial" caberia aglutinar forças, delinear demandas e
equacionar problemas comuns.
Todavia, para concretização de um "pacto territorial"
nos moldes aqui proposto e, em se tratando do Brasil, é necessário
levar em conta a necessidade de incorporação da variável
política ao planejamento técnico regional; de considerar
as especificidades municipais, uma vez que cada um dos sistemas urbanos
possui lógica própria e se distribui no território
metropolitano de modo particular; e, principalmente, porque esta idéia
toca num aspecto político importante da redemocratização
país, a descentralização.
O trabalho terá por referência a experiência do Consórcio
do Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo, considerada
a mais bem sucedida experiência de consórcio intermunicipal
no país ; e, duas outras experiências, na região metropolitana
de Natal, no Nordeste do Brasil. Na região metropolitana de Natal,
uma cidade média que caminha rapidamente para a condição
de metrópole média, serão estudadas as experiências
do Consórcio do Pólo Costa das Dunas e a do Parlamento Comum.
O trabalho conclui que essas experiências de mecanismos ou instituições
cooperativas tem alentado o vácuo pela ausência de instituições
no Brasil que dêem conta da complexidade dos problemas metropolitanos.
Palavras chave : cidades, agenda metropoliana, pacto territorial, municípios
brasileiros
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