RELIGO
ligo o ligar
religião religada
âmago – religare
Penso o acto de ser
união de mim ao outro
vela a visão do templo
gótico longínquo o Deus
na distância vertical
o templo existe no peito
a mão encontrada na mão
a filosofia do toque
o olhar ético amar
a palavra branca o éter
espírito – seja o que for
O outro a cor o espaço
mar quebrando mar unindo
língua verbo corpo culto
profética toda a esperança
de um Deus no mesmo olhar
Este sentido infinito
sentido de identidade
entrelaçada pertença
no sorriso que se troca
no sopro breve que toca
nos lábios de toda a boca
Bordar no templo da carne
aqui no seio do ar
fogo e terra água e eu
pensamento natureza
busca inteira do sentido
aqui sendo todo o céu
Lugar da mãe que aceita
lugar da mãe que revolta
o filho morto no tempo
o filho morto na estrada
sentido da violência
soluçada na garganta
todo o grito afasta o crime
E a geografia da fome?
e o alimento da arma?
guarda-se um Deus solitário
conveniente sacrário
na benção dita (tão) dura
A tristeza é pela morte
esquecimento paixão
até ao encantamento
canta-se um Deus colorido
renovado revivido
como sendo primavera
no ciclo útero da terra
Rito sincrético barro
minha mão na tua mão
Maria mãe – Oxalá
S. Sebastião – Oxossi
Senhora da Luz – Iemanjá
S. José é teu Xangô
S. Jorge é meu Ogum
Santa Bárbara – Iansã
Sentido que nada vela
o padre é Pai de Santo
o terreiro é a capela
JORGE FRAGOSO
Poema resultante das comunicações e debates na sessão temática “Religiões, crenças e identidades” com os professores e investigadores: Márcia Mello Costa de Liberal, Sérgio Ivan Gil Braga, Sueli Pereira Castro, Márcia Pereira Leite, Ronaldo de Paula Cavalcante, Elenita Gonçalves Rodrigues, Rosa Maria Amélia João Melo. E ainda a consulta do livro Sincretismo Religioso & Ritos Sacrificiais de José Carlos Pereira, também presente no mesmo debate.
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