Nesta Introdução Geral apresentamos uma visão
sumária dos temas tratados neste livro. O livro está dividido em 6
partes e 26 capítulos. Os capítulos atribuídos ao 'núcleo duro' da
equipa de investigação foram elaborados com a colaboração de todos os
membros da equipa, contudo, em cada capítulo, identificamos como seus
autores os investigadores que mais decisivamente contribuíram para a
sua elaboração.
Não mencionámos nesta
introdução os autores individualizados dos capítulos. Remetemos o
leitor para o índice, com excepção, apenas, dos capítulos elaborados
pela equipa de investigadores associados.
Na Parte I, intitulada O
Estado e os Sistemas de Justiça: Quadro Teórico e Metodológico,
apresentamos o quadro teórico analítico e metodológico que orientou a
investigação sobre os sistemas de justiça em Moçambique.
No Capítulo 1, (O
Estado heterogéneo e o pluralismo jurídico), procedemos a
uma reflexão teórica sobre o Estado e o direito em África. A análise
centra-se nas características específicas dos Estados Africanos e, em
especial, do Estado moçambicano, dando maior atenção às relações entre
o Estado e a pluralidade de direitos que, reconhecidos ou não
oficialmente, regem os conflitos entre os indivíduos e garantem a ordem
social. O conceito de pluralismo jurídico é o fulcro da análise feita
neste capítulo. Identificamos, ainda, as formas de pluralismo jurídico
que, em nosso entender, mais especificamente caracterizam a paisagem
das justiças em Moçambique.
No Capítulo 2, (Rupturas
e continuidades nos processos políticos e jurídicos),
procedemos a uma análise histórica da evolução político-jurídica de
Moçambique nos últimos 25 anos. É uma história acidentada e turbulenta,
feita de muitas rupturas, mas também de continuidades que, aliás, se
estendem ao período colonial. Diferentes concepções de Estado e de
direito sucederam-se num curto espaço de tempo e nenhuma delas se
sedimentou, com solidez, até hoje. Tal como outros domínios, o domínio
jurídico-judicial construiu-se, no Moçambique recém-independente,
segundo uma lógica de ruptura em relação ao Estado colonial. De facto,
as rupturas fizeram-se sentir basicamente ao nível institucional, com
incidência sobre a composição, organização e funcionamento dos
tribunais e dos outros órgãos de administração da justiça. No entanto,
o núcleo essencial do ordenamento jurídico que esses órgãos foram
chamados a aplicar manteve-se, salvo raras excepções, inalterado,
prevalecendo aqui uma clara opção de continuidade.
O Capítulo 3, (Metodologia),
descreve a metodologia da investigação e faz uma breve referência às
hipóteses de trabalho que a orientaram. Do ponto de vista
organizacional, este projecto foi inovador e mesmo pioneiro na medida
em que assentou numa equipa de investigação binacional, um
co-coordenador e três investigadores moçambicanos e um co-coordenador e
três investigadores portugueses. Como se imagina, não foi fácil montar
a equipa, criar rotinas de investigação e aprofundar as interacções e
dinâmicas de grupo entre os investigadores. Foram muitos os mal
entendidos que houve que superar e muitos os fantasmas a exorcizar. Por
outro lado, muitos dos temas da nossa investigação nunca tinham sido
estudados antes em Moçambique, pelo que não existiam mapas analíticos
detalhados por que nos pudéssemos orientar. A esta dificuldade
somaram-se outras. Dificuldade na obtenção de dados em sectores onde
não há hábitos de os colher nem de os fornecer quando existem e
dificuldades próprias do trabalho de campo realizado bem longe das
cidades de cimento.
Na Parte II, intitulada O
Contexto Social e Político dos Sistemas de Justiça, é feita
uma caracterização macrossociológica da sociedade moçambicana centrada
em alguns aspectos considerados mais importantes para a
contextualização do tema principal da investigação.
Uma das limitações mais
comummente reconhecidas dos estudos sobre os sistemas de justiça
consiste no facto de estes estudos tenderem a analisá-los isoladamente,
descontextualizando-os das realidades sociais e políticas em que
operam. A perspectiva que assim se colhe é o de uma falsa autonomia
desses sistemas, os quais surgem como que auto-referenciados, movidos
exclusivamente por dinâmicas internas. Procurámos, neste projecto,
superar esta limitação e evitar esta perspectiva. Para isso,
solicitámos a investigadores moçambicanos de reconhecida competência
que nos ajudassem, cada um na sua área, a desenhar alguns dos contornos
mais importantes do contexto social e político dos sistemas de justiça
no Moçambique de hoje.
O Capítulo 4, (Reestruturação
económica e desenvolvimento), apresenta um quadro vasto e
detalhado da evolução económica e do desenvolvimento humano, em
Moçambique, nos últimos 40 anos, dando-nos conta da grande turbulência
deste período em que se sucederam modelos tão distintos como o da
economia colonial, da economia socialista e da economia capitalista.
No Capítulo 5, (Os
Moçambicanos, a política e a democracia), são analisados os
problemas da transição democrática a partir das atitudes políticas dos
cidadãos captadas num inquérito nacional de opinião pública. Trata-se
de um período de transição em que coexistem e se combinam modelos muito
distintos de relacionamento dos cidadãos com o Estado, tais como o
modelo paternalista e clientelar, por um lado, e o modelo de delegação
e de representação, por outro.
O Capítulo 6, (Antigos
soldados, novos cidadãos: uma avaliação da reintegração dos
ex-combatentes de Maputo), trata de um dos temas mais
candentes da contemporaneidade moçambicana: a guerra civil devastadora
e violenta e a reintegração social dos combatentes após o acordo de paz
de 1992. É um tema que, por doloroso, é frequentemente ocultado, tanto
nas declarações políticas, como nas análises científicas. Contudo, é um
tema extremamente revelador não só das dificuldades por que passa a
sociedade moçambicana, mas também da grande riqueza dos laços de
solidariedade no interior das comunidades.
Finalmente, no Capítulo 7, (Sistemas
costumeiros da terra), é abordada uma das questões mais
conflituais nos países periféricos, o acesso à terra e os direitos
sobre o seu uso e aproveitamento. O autor analisa os diferentes
sistemas consuetudinários de acesso à terra em Moçambique e salienta,
pelo seu ineditismo, o reconhecimento desses sistemas por parte do
direito oficial, na Lei de Terras nº 19/97, de 1 de Outubro.
Na Parte III, intitulada A
Administração da Justiça Oficial, analisamos a justiça
oficial. A justiça oficial compreende todo o sistema de resolução de
litígios criado, financiado e administrado pelo Estado, com a
salvaguarda da independência própria dos tribunais.
A justiça oficial pode ser
analisada sob duas perspectivas diferentes: a do seu formato
organizativo e a do seu desempenho,
incluindo o direito processual em que se move.
O formato organizativo
mostra-nos quem são os actores e as instituições que compõem o sistema,
como se organizam do ponto de vista hierárquico e os respectivos
papéis, sempre marcadamente diferenciados. O desempenho permite-nos
saber quem recorre à justiça, porque recorre e com que resultado.
Consideramos que a compreensão
do formato organizativo é uma condição indispensável e prévia para a
análise do desempenho da justiça oficial e a identificação dos
problemas que nele se registam, bem como das medidas necessárias para
os ultrapassar. Mas, obviamente, o desempenho não depende apenas do
formato organizativo da justiça, depende sobretudo das condições
de acesso à justiça, designadamente das que propiciam a
presença de certo tipo de litigantes e das que explicam a ausência de
outros.
Formalmente, em Moçambique, a
justiça oficial reparte-se entre o sistema judicial
- tribunais judiciais e Ministério Público - e os tribunais
comunitários. Contudo, a lei que criou os tribunais
comunitários não foi regulamentada, pelo que eles nunca foram
verdadeiramente institucionalizados e não usufruem de qualquer apoio do
Estado. Mantêm-se apenas em funcionamento onde não foram
desestruturados os tribunais populares de base, formalmente extintos em
1992. Por este motivo, entendemos não os incluir no estudo da justiça
oficial, mas antes nas justiças comunitárias, analisadas na Parte V.
A justiça oficial estudada
nesta Parte fica, assim, reduzida à organização e desempenho dos
tribunais judiciais distritais e provinciais, do Tribunal Supremo e do
Ministério Público. De fora, fica a justiça administrativa e o próprio
Ministério da Justiça, com a excepção do Instituto do Patrocínio e
Assistência Jurídica (IPAJ), ao qual será feita uma referência no
Capítulo 15.
Para além dos actores e
organizações que compõem a justiça oficial, há ainda que contar com
outros actores e instituições que, apesar de exteriores ao sistema
judicial, nele participam directamente - como os advogados e a
respectiva Ordem - ou indirectamente - como as instituições de ensino
do direito.
Outros actores sociais,
formalmente ainda mais distantes do sistema judicial, revelam-se também
importantes pelo papel que desempenham a montante daquele sistema - na
divulgação e conhecimento de direitos e na facilitação do acesso - ou
pela pressão que sobre ele exercem no sentido de melhorar a sua
qualidade. É o caso das organizações não-governamentais (ONGs), em
especial daquelas que se ocupam da defesa dos direitos humanos, e de
outras associações de cidadãos ou empresas (por exemplo, sindicatos,
associações de empresários e associações de consumidores).
Deve salientar-se a importância
social muito relativa, não só de todo o núcleo central do sistema
judicial, formado pelos tribunais judiciais e pelo Ministério Público,
mas também dos actores que com ele se relacionam mais directamente,
devido à grande selectividade no acesso e à sua concentração. Como
referiu recentemente o Presidente do Tribunal Supremo, só "25%
dos cidadãos têm acesso ao sistema judicial oficial". Um
terço dos distritos não possui tribunal e os advogados estão
estabelecidos quase exclusivamente na capital. Mas o facto de aqueles
25% serem cidadãos residentes nos principais núcleos urbanos, com um
largo predomínio da Cidade de Maputo onde se encontra estabelecida a
maioria dos advogados e onde se concentra o poder político e económico
dominante, confere a todo o sistema uma importância formal muito
ampliada, para o que contribui o papel que lhe é reservado na
construção de uma economia de mercado.
No Capítulo 8 (A
caracterização do sistema judicial e do ensino e formação jurídica),
apresentamos a organização do sistema judicial, caracterizando cada um
dos tribunais e as restantes instituições que o compõem. Analisamos,
ainda, criticamente, o plano de estudos da Faculdade de Direito da
Universidade Eduardo Mondlane, deixando algumas sugestões para a sua
reforma.
No Capítulo 9 (O
sistema judicial: os recursos e o movimento processual),
descrevemos a evolução dos recursos humanos afectos ao sistema judicial
e analisamos o movimento processual nos diferentes tribunais para os
quais há estatísticas disponíveis. O movimento dos processos entrados
permite-nos conhecer a procura efectiva do sistema judicial, civil ou
penal, enquanto o movimento dos processos findos traduz a capacidade de
resposta do sistema. Os processos pendentes são a medida da procura não
satisfeita. A partir destas três variáveis, torna-se possível construir
os índices de eficiência do sistema.
O Capítulo 10 (A
justiça cível nos tribunais provinciais) é dedicado à
litigação cível. Depois de uma introdução onde se referem, em
abstracto, as principais características desta litigação, do ponto de
vista da procura - tipo de mobilizadores do tribunal - e da oferta -
formas de gestão do sistema judicial cível -, passamos ao seu estudo,
analisando as variáveis do sistema (autores e réus, tipo de litígios e
resultados obtidos), juntamente com a apresentação de alguns casos mais
ilustrativos.
O mesmo tipo de análise é feito
nos Capítulos 11 e 12 para a justiça criminal e de menores. No capítulo
11 (A justiça criminal nos tribunais provinciais)
analisamos a litigação criminal, caracterizando, entre outras, as
seguintes variáveis: principais tipos de crimes, perfil dos réus e das
vítimas, duração do processo e a decisão final.
O Capítulo 12 (A
justiça de menores) é dedicado ao estudo das características
mais marcantes da justiça de menores que, em termos formais, é quase
exclusiva do sistema judicial da Cidade de Maputo.
No Capítulo 13 (A
justiça nos tribunais distritais), analisamos os tribunais
distritais que foram objecto do trabalho de campo, percorrendo as
mesmas variáveis seleccionadas para os tribunais provinciais. A
litigação registada é essencialmente de natureza criminal ou familiar,
sendo notória o interface com os tribunais comunitários. Referem-se os
seus recursos e caracterizam-se os seus actores.
No Capítulo 14 (Caracterização
do desempenho dos tribunais: um roteiro dos bloqueios do sistema
judicial), procedemos a uma análise geral do desempenho dos
tribunais judiciais e identificamos os principais bloqueios registados
no sistema judicial. Analisamos a duração dos processos, identificamos
as causas de morosidade endógena ou organizacional e os problemas de
incompetência técnica e corrupção existentes no sistema judicial.
A Parte IV, intitulada 'O
Acesso ao Direito e à Justiça Oficial', é dedicada às
condições que mais decisivamente afectam a qualidade democrática do
desempenho do sistema judicial, às condições de acesso ao direito e à
justiça oficial. Tanto factores económicos como factores sociais e
culturais afectam o acesso às instâncias oficiais de resolução de
litígios. Nos capítulos que se seguem tornar-se-á evidente a natureza
estrutural de alguns dos obstáculos ao acesso ao direito e à justiça.
Sem pretendermos ser exaustivos, estudamos alguns destes obstáculos
através da análise do desempenho de algumas instituições que têm por
objectivo ampliar o acesso.
No Capítulo 15 (A
advocacia e a representação jurídica), analisamos a
liberalização do mercado de serviços jurídicos, o tipo de advocacia
dominante, a forma de organização da profissão, em particular a criação
da Ordem dos Advogados, e a perspectiva dos advogados sobre os
problemas e reformas do sistema judicial. De seguida, tratamos da
questão do acesso ao direito e aos tribunais, começando pela
caracterização do IPAJ e da profissão de técnico e assistente
jurídicos, terminando com a descrição das ONGs que se têm destacado nas
defesa e na divulgação dos direitos humanos, sem esquecer a relevância
que lhes é atribuída nesse papel pela maioria dos cidadãos.
No Capítulo 16 (As
ONGs, o acesso ao direito e a defesa dos direitos humanos: Liga
Moçambicana dos Direitos Humanos), apresentamos o resultado
do trabalho de investigação levado a efeito na Liga Moçambicana dos
Direitos Humanos, a primeira instituição não-governamental constituída
com a finalidade de prestar assistência jurídica aos cidadãos mais
carenciados e de promover a luta pela defesa dos direitos humanos.
Descrevemos a orgânica interna da Liga e analisamos a estrutura de
atendimento dos utentes, o funcionamento dos órgãos, o tipo de casos em
que é chamada a intervir e as interacções que mantém com organizações
congéneres, nacionais e internacionais.
O Capítulo 17 (Violência
doméstica: factos e discursos), trata da questão da
violência da diferença sexual. Dá-se particular atenção ao estatuto de
subordinação da mulher moçambicana e aos maus tratos que recebe no seio
da família, considerados uma expressão 'natural' da sociedade
patriarcal. Neste capítulo, é abordada também a questão da ausência de
punição das ofensas corporais entre cônjuges bem como outros
comportamentos violentos para com as mulheres e menores.
A mesma problemática é retomada
no Capítulo 18 (A justiça no feminino). Nele se
analisa a situação da mulher na problemática do acesso à justiça, tendo
em conta o renascer de antigas e novas instâncias de resolução de
litígios baseadas na mediação. A intenção é verificar se houve uma
evolução positiva ou negativa no acesso à justiça por parte da mulher,
no quadro do modelo social patriarcal, durante as últimas décadas do
século XX..
Na Parte V, intitulada A
Pluralidade das Justiças Comunitárias, procedemos à análise
dos recursos institucionais e normativos existentes no seio da
sociedade moçambicana para onde é dirigida a maior parte da procura
sócio-jurídica desta. Trata se do domínio da justiça informal.
No Capítulo 19 (Os
tribunais comunitários), centramos a nossa análise nos
tribunais comunitários. Trata-se de uma instância de resolução de
conflitos muito complexa e, por isso, merece uma atenção especial neste
projecto de investigação. Mostramos como, nas suas características
estruturais e funcionais, os tribunais comunitários são uma continuação
dos tribunais populares de base. Fora do contexto organizacional e
formal em que aqueles estavam integrados, os tribunais comunitários têm
estado entregues a si próprios e às capacidades locais de improvisação,
de inovação e de reprodução. Daí as grandes disparidades no que
respeita ao seu funcionamento.
No Capítulo 20 (As
autoridades tradicionais no contexto da pluralidade jurídica)
abordamos o papel das autoridades tradicionais na administração da
justiça. O direito e as autoridades tradicionais levantam questões
igualmente muito complexas, hoje amplamente debatidas no continente
africano. Neste capítulo centramos a nossa análise na questão da
justiça tradicional, tentando uma primeira abordagem sobre a
especificidade das autoridades tradicionais como instâncias de
resolução de conflitos.
No Capítulo 21 (As
redes de solidariedade como intervenientes na resolução de litígios: o
caso da Mafalala), partindo do estudo de caso do Bairro da
Mafalala, na cidade de Maputo, analisa-se o papel desempenhado pelas
redes de solidariedade social na resolução de litígios. O estudo
identifica um conjunto de redes primárias de solidariedade (parentesco,
co-residência, vizinhança e religião) às quais os seus membros fazem
apelo para receber apoio material ou extra-económico, de sociedades e
grupos de ajuda mútua, do tipo informal (sociedades funerárias, grupos
de poupança e ajuda mútua e comissões femininas), associações formais
com objectivos recreativos e assistenciais, que funcionam como solução
de recurso em casos de necessidade. No seu seio são geridos diferentes
sistemas informais de controle social, que incluem normalmente
mecanismos de resolução de litígios.
O estudo confronta ainda os
efeitos das políticas económicas e sociais introduzidas no país nas
últimas décadas, bem como os mecanismos de resposta utilizados pela
comunidade para fazer face às muitas situações de dificuldade e de
carência.
O Capítulo 22 (Os
'outros' e 'nós': a questão do acesso, uso e gestão dos recursos
naturais em Licuáti), mostra como a luta pela 'forma mais
adequada' de gestão de recursos naturais em Matutuíne deixa
transparecer a diversidade de interesses políticos e sociais sobre a
posse da terra. Esse conflito é determinado pelas relações de poder e
pelos interesses pessoais dos vários actores intervenientes no
processo, onde as comunidades locais surgem remetidas para um papel
secundário, como elementos passivos desta luta. Este trabalho introduz
ainda uma reflexão crítica sobre a actuação dos investigadores para
quem a situação de dicotomia 'nós' e 'os outros' obrigou a avaliar as
alterações identitárias e nas relações de poder.
O Capítulo 23 (A
gestão e maneio dos recursos marinhos num contexto de conflito: o caso
da Ilha de Moçambique), está centrado na questão da gestão
dos recursos pesqueiros na Ilha de Moçambique. O estudo mostra como a
degradação do recursos marítimos e, em geral, do meio ambiente costeiro
pode gerar um clima de conflito entre as comunidades e o próprio
Estado. Por outro lado, mostra ainda que a manutenção e preservação dos
recursos deve assentar na participação da comunidade, na integração dos
seu saberes em todo o processo e na tomada de decisões.
No Capítulo 24 (A
resolução de conflitos nas comunidades de pescadores da zona de
Angoche/Moma, Província de Nampula), ainda no âmbito da
problemática de acesso e gestão de recursos pesqueiros, partindo do
estudo da comunidade pesqueira de Angoche, discutem-se as relações de
tensão entre as comunidades locais de pescadores e os industriais
ligados ao sector, e a forma como os conflitos são geridos e
resolvidos. Aquela relação coloca em confronto duas lógicas de
funcionamento muito diferentes: as lógicas linhageiras, comunitárias e
costumeiras, por um lado, e as lógicas de funcionamento das
instituições modernas, por outro.
Finalmente, na Parte VI,
apresentamos as principais conclusões desta investigação, bem como
algumas propostas de reforma que, em nosso entender, delas decorrem.
Em Anexo apresentamos alguns
dados estatísticos considerados relevantes.
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