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Culturas Juvenis e Participação Cívica: diferença, indiferença e novos desafios democráticos |
«La jeunesse n’est q’un mot», escreveu em tempos Pierre Bourdieu. Esta formulação chamou na altura a atenção para o facto de «a juventude» não ter de facto uma existência substantiva enquanto grupo social específico. É, pois, necessário desconstruir criticamente a ideia de «uma juventude» e esclarecer o próprio processo de construção de uma imagem – associada no imaginário social a um vasto leque de práticas, de gostos, de referências culturais, de modalidades do imaginário, de estilos de vida, de formas de comportamento, etc. – a propósito dos jovens na sociedade actual, na medida em que tal imagem é largamente fictícia e esconde, na realidade, enormes diferenças entre grupos sociais extremamente dissemelhantes.
Assim, o estudo dirige-se a um sector específico de jovens: os estudantes universitários da UC, procurando conhecê-los confrontando duas gerações distintas. Trata-se de uma análise sócio-histórica sobre os movimentos e experiências estudantis combinando as dimensões cultural e política. Cultural, no sentido mais amplo do termo, porque se propõe captar um conjunto de influências, de práticas, de estilos de vida e de visões do mundo, desenvolvidas por distintas gerações de jovens universitários. Política, igualmente em sentido lato, já que atribuiremos grande importância aos efeitos e significado político que derivam da actividade intelectual e cultural dos jovens, expressas em múltiplas iniciativas e movimentos organizados.
Pretende-se explorar os territórios da memória e da imaginação juvenil em dois períodos históricos distintos: o período de finais da década de sessenta (que se estende em Portugal, sensivelmente, até ao pós-25 de Abril de 1974), e a actualidade. Entre o esvaziamento das velhas utopias, que, parcialmente, animaram os movimentos juvenis dos anos 60 e 70, e as recentes tendências de individualização, consumo e afastamento da intervenção social, importa conhecer, por um lado, as causas desse alheamento e, por outro, quais os valores emergentes entre a juventude que poderão reaproximá-la do sistema político democrático e contribuir para o revigoramento deste.
As actuais tendências para o abstencionismo cívico e político e o alheamento juvenil perante os grandes questões públicas que atravessam o mundo constituem preocupações centrais dos autores deste projecto. Daí que as linhas de análise que este projecto persegue passem por compreender o alcance das experiências de dissidência político-cultural dos movimentos estudantis dos anos 60 e o modo como elas se insinuaram ou apagaram na memória das gerações de hoje. Importa, porém, evitar qualquer avaliação moralista em favor de uma geração – do presente ou do passado – e procurar, em vez disso, caracterizar os interesses, as práticas e as lógicas identitárias dos jovens de hoje. Das articulações entre os contextos micro-sociais e as tendências sociais mais vastas deverão emergir novas linhas de reflexão que permitam conhecer as representações, as práticas e expectativas da actual juventude universitária, o que nos ajudará a perceber melhor uma dimensão fulcral da sociedade e do nosso futuro colectivo.
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