Curso de formação
Vidas Faladas, Vidas Escritas
25 e 26 de Junho de 2010, Sala de Seminários do CES, 2º Piso, Coimbra
Inscrição
Objectivos:
A partir de vários tipos de material, desde documentários e histórias de vida a ficções sobre vidas de mulheres, o curso pretende fazer uma reflexão sobre as formas de combater o silenciamento e a invisibilidade das mulheres em diferentes contextos culturais e políticos (com particular enfoque para Brasil, Palestina, Portugal, Moçambique e Timor-Leste). Pretende-se falar de histórias e de narrativas-de-si como formas de construção da subjectividade e de uma memória colectiva, bem como de capacitação para a acção e intervenção no espaço público.
Palavras-chave: Resistências. Silenciamentos. Subalternidade. Violências.
Destinatários: Estudantes; professores/as; activistas; jornalistas; comunidade em geral.
Coordenadoras: Adriana Bebiano (NECC) e Tatiana Moura (NEP)
Duração: 12 horas
Programa
Dias 25/06 (Tatiana Moura, Rita Santos, Shahd Wadi, Teresa Cunha)
9.30 – Apresentação e Recepção dos/as Participantes
Coffee-Break
10.00 – Luto como Mãe. Relatos de familiares de vítimas da violência armada no Rio de Janeiro (Tatiana Moura)
A cidade do Rio de Janeiro, Brasil, é palco de execuções sumárias e arbitrárias cometidas por agentes do Estado. No entanto, para as pessoas que vivem esse drama de perto, tais factos não terminam nem se encerram na tragédia desses massacres. Cada morte arrasta consigo a dor de quem fica, afectando todo o seu círculo social, especialmente a família e amigos.
A visibilidade destas mortes e do rasto de dor que deixam é passageira. Os silêncios são os que permanecem. E são as mães – por vezes irmãs e esposas - que iniciam o percurso pelos caminhos da justiça, na esperança de resgatar algum sentido do que lhes resta e no esforço, nem sempre compensado, de lutar contra a impunidade. Muitas dessas mães experimentam adversidades comuns: stress pós-traumático, desestruturação económica, vivência de longos processos judiciais em condições desfavoráveis, convivência com os assassinos ou ameaças de retaliação. São essas vítimas ocultas da violência armada, que não fazem parte das estatísticas da criminalidade violenta do Rio de Janeiro.
Através da apresentação do documentário “Luto Como Mãe”, serão dadas a conhecer as histórias destas sobreviventes, maioritariamente mulheres, e do seu ritual de passagem do luto à luta por justiça e contra a invisibilidade.
12.30 – Almoço
14.00 – As memórias das guerras e as guerras de memórias. Encontros e desencontros da narração dos sofrimentos de mulheres em Moçambique e em Timor-Leste (Teresa Cunha)
A narração dos sofrimentos das mulheres que emergem das entrevistas em profundidade realizadas em 2008 e 2009 em Moçambique e Timor-Leste dá lugar a uma discussão em torno de três questões que este seminário pretende abordar e problematizar. Em primeiro lugar, a alegação de que os sofrimentos das mulheres são prova da sua valentia e, por isso elas, são heroínas nacionais fendendo assim, o nacionalismo viril e narcisista que as independências políticas têm inscrito nas memórias colectivas dos dois países. Em segundo lugar, essa narração dos sofrimentos transfigura-se num valor político e numa alavanca de reconhecimento público e legitimidade para decidir e governar. Por fim, perceber através das palavras e seus alinhamentos usados nestas narrações algumas peculiaridades e semelhanças do processo em Moçambique e Timor-Leste.
16.30 – Coffee Break
16.45 – Narrativas de corpos ocupados (Shahd Wadi)
Através de histórias de vida – narrativas biográficas/autobiográficas – de mulheres palestinianas, encontradas em estudos, produtos literários e culturais, falaremos dos seus corpos, de como são utilizados pela ocupação israelita mas também como constituem lugares de resistência contra a ocupação e em simultâneo contra uma cultura patriarcal palestiniana. Questionamos como aparecem os corpos das mulheres palestinianas no conflito israelo-palestiniano enquanto arma, campo de batalha e alvo.
Dias 26/06
10.00 – Biografias de Mulheres: Voz e Visibilidade (Adriana Bebiano)
Poucas mulheres figuram na história; quando surgem, é quase exclusivamente no espaço “privado”, no papel de mãe, esposa ou amante: um papel passivo, secundário e definido pela sua relação com o masculino, “o sexo-que-é”. Nos últimos anos assiste-se, porém, a uma multiplicação de biografias de mulheres de perfis diversos – seja sob a forma de romance, de estudo académico, ou de texto de pendor jornalístico – que conferem voz e visibilidade às mulheres antes apagadas do arquivo e da memória colectiva.
A partir de um pequeno número de curtos textos biográficos, este seminário fará uma reflexão sobre as (eventuais) reconfigurações do “feminino” e sobre os (novos) modelos de práticas e comportamentos que emergem destas histórias. Privilegiam-se figuras de mulheres do passado que se afirmaram no espaço público enquanto políticas ou aventureiras, funcionando assim como figuras emancipatórias para o presente.
Os textos de apoio usados serão contemporâneos e em português.
11.30 – Coffee Break
12.30 – Almoço
14.00 – Mulheres e Autobiografia: Textos que tecem vidas (Isabel Pedro)
Mulheres e Autobiografia: Textos que tecem vidas
Perante a marginalização histórica da escrita autobiográfica de mulheres, pretende-se enquadrar a relativamente recente atenção teórica e crítica à “escrita do eu” na qual as mulheres se auto-representam em termos de algumas propostas de diferença segundo as quais a posição de produção de discurso é sobretudo lida como transgressora do silêncio que tradicionalmente compete ao “feminino”. Procuraremos investigar de que formas estes textos de um modo geral exploram a oposição facto/ficção e integram a alteridade, a mobilidade e o provisório como elementos de uma subjectividade “exilada”, opondo-se a modelos autobiográficos baseados numa concepção de identidade subjectiva unitária e transcendente e na confiança na referencialidade e transparência da linguagem.
Estas reflexões serão apoiadas na leitura de textos autobiográficos de diferentes épocas e proveniências, que serão, na sua maioria, fornecidos antecipadamente e, tratando-se de textos em língua estrangeira, sobretudo inglês, procurar-se-á disponibilizar também as respectivas traduções.
16.30 – Coffee Break
16.45 – Mesa Redonda de Encerramento:
Coordenação: Sílvia Maeso.
18.00 – Fim dos Trabalhos
20.00 – Jantar (opcional)
Modalidades de inscrição
Máximo inscrições: 30
Estudantes: limite de 15 inscrições / Normal: limite de 10 inscrições
Investigadores/ Alunos pós-graduação CES – gratuito: limite de 5 inscrições
Preço das inscrições
Normal - 30 euros
Estudantes – 15 euros
Data limite de inscrições: 24 de Junho
Data limite para pagamento: 25 de Junho
Modalidades de pagamento: Pagamento através de cartão de crédito, Pagamento através de referência multibanco, cheque, Transferência Bancária
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