IV Ciclo Anual Jovens Cientistas Sociais
2008-2009

20 de Maio de 2009, 17:00, Sala de Seminários do CES
 
Marisa Azul

O montado de sobro em Portugal: do risco à sustentabilidade ecológica

 
Resumo:
O montado de sobro em Portugal ocupa uma mancha superior a 700 000 hectares de floresta, maioritariamente associada a uma exploração do tipo agro-silvo-pastoril. O uso tradicional do montado representa um exemplo de sucesso de uso do solo sustentável na Europa, por combinar dois aspectos fundamentais de gestão do território: produção e conservação, com repercussões sociais e demográficas. Não obstante, assistimos, desde as duas últimas décadas, ao agravamento do declínio e morte súbita do sobreiro. São vários, complexos, e ainda não totalmente compreendidos, os factores implicados no seu declínio. Modificações profundas do uso do solo no decorrer da segunda metade do século XX e o stress hídrico são apontados como dois factores intimamente associados à vulnerabilidade do montado de sobro. Por outro lado, estudos recentes de modelação advertem que as alterações climáticas constituem um factor de risco efectivo para a sustentabilidade do sobreiro na bacia mediterrânica, por favorecerem o estabelecimento e a agressividade de agentes patogénicos. Este cenário de declínio e morte súbita do sobreiro invoca reconhecer novos parâmetros biológicos e ecológicos para avaliar os impactes do uso do solo, designadamente agrícola e florestal, na diversidade biológica, e compreender quais as inferências no risco e sustentabilidade da árvore e todo o ecossistema montado. Resultados até ao momento sugerem que organismos simbiontes mutualistas do solo (fungos micorrízicos), reconhecidos como elementos funcionais do solo essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas a que estão associados, poderão ser utilizados para diagnosticar níveis de perturbação da diversidade biológica em função das praticas de uso do solo e a condição de mortalidade do sobreiro. Este estudo incidiu sobre a avaliação qualitativa e quantitativa de fungos micorrízicos em várias áreas em montado de sobro e contou com a colaboração dos proprietários, que cederam informações relacionada com a história do uso do solo e opções de gestão nos últimos 25 anos. Se por um lado, a sustentabilidade ecológica do sobreiro é sensível a factores ambientais, o que significa que o futuro passará obrigatoriamente pela investigação das relações bióticas simbiontes-planta-patogénicos sob influencias de factores abióticos, no sentido de identificar opções de gestão que contribuem para a protecção do solo e resiliência do ecossistema; por outro, é impreterível reconhecer que os desafios para o desenvolvimento de estratégias para a valorização, gestão e sustentabilidade do montado, são complexos e passam inevitavelmente pela interpretação integrada e multidisciplinar da informação disponibilizada pela ciência e tecnologia, ciências económicas, demográficas e sociais, e finalmente pela disponibilidade em colaborar com os utilizadores da terra e em comunicar à sociedade os progressos do conhecimento científico.

 
Nota biográfica
: Anabela Marisa Azul, bióloga, é investigadora no Centro de Ecologia Funcional, Departamento Botânica, Universidade de Coimbra. No seu pós-doutoramento investiga o papel ecológico de organismos mutualistas do solo (fungos micorrízicos) como indicador de sustentabilidade em sistemas agro-florestais, concretamente o montado. O seu trabalho inclui o contacto próximo com proprietários, para conhecer a história do uso do solo, com vista a produção e a conservação biológica; também o desenvolvimento de estratégias de educação ambiental direccionada a diferentes públicos, desde a idade pré-escolar.