II Ciclo Anual Jovens Cientistas Sociais
2006-2007
Coordenação científica:Marta Araújo, José Manuel Mendes e Marisa Matias
CONFERÊNCIAS
18 OUTUBRO 2006
Teresa Cardoso (Univ. Aveiro)
Interacção verbal em contexto pedagógico português: por caminhos de acção e reflexão em didáctica das línguas
Comentários: Manuela Guilherme e Olga Solovova
Resumo
Nesta comunicação apresenta-se um olhar específico sobre a interacção verbal, tema que tem sido privilegiado em várias áreas científicas, nomeadamente na didáctica de Línguas. A partir desta abordagem, exploram-se caminhos de acção e reflexão acerca daquela temática, incidindo sobre os trajectos delineados no contexto pedagógico português, em particular nas situações de aula de língua materna e estrangeira. Assim, no breve percurso meta-analítico que se pretende retratar deste conhecimento, salientam-se aspectos de caracterização geral e de enquadramento teórico e metodológico. Articulam-se, ainda, os respectivos contributos e implicações, cujas potencialidades são interpretadas.
Retomam-se, finalmente, os principais traços perspectivados deste campo de estudo, numa tentativa de antecipar alguns desenvolvimentos futuros.
Nota biográfica
Teresa Cardoso é Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Franceses e Ingleses, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi bolseira de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia sob a orientação científica da Professora Doutora Isabel Alarcão, no Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa da Universidade de Aveiro. Nesta qualidade, integrou o Laboratórios Aberto para a Aprendizagem de Línguas Estrangeiras e o Centro de Investigação Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores. De entre as suas áreas de interesse cientifico destacam-se a interacção verbal, a aprendizagem de línguas e a formação de professores, as representações das línguas (sobretudo nos mass media), a comunicação intercultural e a competência plurilingue.
15 NOVEMBRO 2006
Miguel Cardina (Univ. Coimbra)
Movimentos estudantis na crise do Estado Novo: mitos e realidades
Comentários: Rui Bebiano e Alexandra Silva
Resumo
Com base num trabalho de pesquisa histórica, elabora-se um retrato das continuidades e rupturas que se podem detectar nas práticas, discursos e representações dos movimentos estudantis em Portugal durante os anos sessenta e setenta. Simultaneamente, alerta-se para a persistência de alguns lugares-comuns que, impondo-se actualmente na memória colectiva, dificultam uma mais completa compreensão do vasto processo de dissidência politica e cultural que por esses anos atravessa os territórios estudantis.
Nota biográfica
Doutoramento em curso, com bolsa atribuída peta Fundação para a Ciência e a Tecnologia, dedicado à construção da esquerda radical no declínio do Estado Novo. Mestra em História das Ideologias e Utopias Contemporâneas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), com uma dissertação intitulada “A Politização do Maio Estudantil Coimbrão durante o Marcelismo”. Licenciado em Filosofia pela FLUC. Publicou “Tradição, Sociabilidades, compromisso: mutações na auto-imagem estudantil durante o período final do Estado Novo” (Vértice. Nº123, Julho-Agosto de 2005). Para breve estará a saída de “A Tradição da Contestação, Resistência Estudantil em Coimbra nos finais do Estado Novo” (título provisório).
14 DEZEMBRO 2006
Ricardo Roque (Univ. Açores)
Histórias de crânios e o problema da classificação antropológica de Timor
Comentários: João Arriscado Nunes e Oriana Raínho Brás
Resumo
Milhares de crânios humanos encontram-se hoje na posse de museus antropológicos. A origem destas colecções remonta sobretudo a segunda metade do século XIX, quando o estudo de colecções de crânios humanos adquiria centralidade na nascente disciplina da antropologia. O crânio era então tido como principal base empírica para aferir similitudes e diferenças entre tipos humanos, abrindo caminho ao projecto de taxonomia das raças. Foi neste contexto que em 1882 a Universidade de Coimbra acolheu uma colecção de crânios humanos da ilha de Timor. No quadro do recém-criado curso de antropologia, os crânios foram objecto de um estudo craniométrico que concluía acerca da raça ‘Papua’ dos povos Timorenses. A posição etnológica de Timor era um difícil problema sobre o qual não existia acordo entre os investigadores. Em Portugal, na década de 1930, o estudo motivaria acesa controvérsia sobre a autenticidade da colecção e a classificação antropológica de Timor. Esta apresentação investiga este acontecimento, explorando a interacção entre a narração de histórias sobre crânios e a ordem de classificação antropológica de raças humanas. O propósito é discutir o papel de práticas de retrospecção, de pequenas histórias, e dos arquivos associados a colecções de museu na constituição de conhecimento científico.
Nota biográfica
Licenciado em Sociologia, possui mestrado em Sociologia histórica pela Universidade Nova de Lisboa. É docente na área de ciências sociais do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais, Universidade dos Açores. Encontra-se a finalizar doutoramento em História na Universidade de Cambridge (Reino Unido). A sua tese consistirá num estudo sobre colonialismo e antropologia em Timor, a partir da análise, da circulação de crânios humanos nos finais do século XIX. É autor de Antropologia e Império: Fonseca Cardoso e a expedição à Índia em 1895 (Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2001) e co-organizador de Objectos impuros experiências em estudos sobre o ciência (Porto, Afrontamento, no prelo).
17 JANEIRO 2007
Ricardo Cardoso (Univ. Porto)
Quem sou eu, o planeador de território? Práticas insurgentes no planeamento
Comentários: Carlos Fortuna e Carina Gomes
Resumo
O planeamento do território e do desenvolvimento urbano, como actividade com um vasto potencial transformador, pode ter repercussões profundas no futuro da sociedade. Como tal, importa reflectir sobre a disciplina, em particular o papel dos profissionais de planeamento como agentes transformadores com um leque alargado de capacidades e poderes. Fazendo uma análise crítica da evolução do pensamento na área do planeamento, pretende-se sublinhar a importância da acção reflectiva e insurgente no contexto da economia política capitalista.
Nota biográfica
Licenciado em Engenharia Civil com especificação em Planeamento do Território e Ambiente, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Tem um mestrado em Planeamento do Desenvolvimento Urbano da Development Planning Unit (University College London), com uma dissertação final intitulada ‘Context and power in contemporary planning: towards reflexive planning analytics’. Actualmente é investigador do Centro de Investigação do Território, Transportes e ambiente da Universidade do Porto, onde integra um projecto que tem como principal objectivo estudar questões de justiça social no sistema Português de planeamento do território.
13 FEVEREIRO 2007
Joana Passos (Univ. Minho)
A ambivalência simbólica de Goa na mitificação da identidade imperial portuguesa
Comentários: António Sousa Ribeiro e Paula Medeiros
Resumo
A ambivalência simbólica de Goa sempre esteve presente na forma como diversos autores a representaram. Estas diferentes visões constituem um arquivo de memória que o século X herdou, cristalizando a posterior decadência (o tempo em que Goa ia era mais ermo do que cidade) como a sua imagem mais forte, a associação mais corrente. No entanto, Goa evoca um primeiro momento de gloria e realização nacional, marcando o principio da criação de um império colonial português. Assim, em diferentes momentos, Goa contém em si o mito da Idade de Ouro, época primordial perfeita, que recompensa os portugueses do “trabalho longo”, e, ao mesmo tempo, invoca um campo semântico inóspito, de falsidade ou de decadência.
Goa tem um lugar particular no imaginário imperial, não como objecto de grandes investimentos administrativos ou grande objectivo económico (sucessivamente substituída pelo Brasil e por Angola), mas por ser o começo de tudo, a chave de uma legitimação histórica a que, em pleno século XIX, Portugal se agarra para compensar a incapacidade de se adaptar à modernidade e a uma ordem capitalista internacional.
Pelo estudo da literatura indo-portuguesa nos séculos XIX e XX, nesta investigação procura-se revisitar a vida cultural de Goa, contribuindo assim para fazer o complexo mapa das vivências e ideologias que o império trouxe à cultura portuguesa e à compreensão que temos do nosso passado histórico e da nossa identidade colectiva. Apresenta-se ainda o contexto de desenvolvimento de uma literatura indo-portuguesa no século XIX através da discussão de alguns excertos de dois folhetins aí publicados: o primeiro conjunto de excertos será retirado de “Traição”, de Frederico Gonçalves, publicado nas páginas do jornal literário “Ilustração Goana” em 1864. O segundo conjunto de citações é de “Jacob e Dulce” de Francisco João da Costa, também conhecido pelo pseudónimo de GIP, texto publicado como romance, mas que apareceu em primeiro lugar como Folhetim, nas páginas do Jornal “O Ultramar”, em 1896.
Nota biográfica
Joana Passos é investigadora no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, em Braga. O tema do seu doutoramento foi um estudo comparativo entre as narrativas de mulheres indianas (que escrevem em inglês) e autoras de Cabo Verde e Moçambique. (que escrevem em português). Está no último ano do seu pós-doutoramento, e actualmente trabalha sobre literatura indo-portuguesa (séculos XIX-XX), abordando-a de um ponto de vista pós-colonial que integra preocupações feministas. Ultimamente, a investigadora também se tem interessado por literatura infanto-juvenil e a representação de questões de género e multiculturalismo ao nível destes textos formativos.
7 MARÇO 2007
Pedro Adão e Silva (Instituto Universitário Europeu de Florença)
A Europeização das Políticas Sociais
Comentários: Pedro Hespanha e Vanda Pacheco
Resumo
O modelo social europeu é frequentemente mobilizado no discurso público e político como característica diferenciadora do espaço europeu. Nuns casos, a sua existência é vista como uma vantagem comparativa da Europa, noutros, causa de imobilismo e da incapacidade de adaptação das economias políticas europeias. Nesta apresentação procurarei reflectir sobre esta questão, em primeiro lugar, descrevendo os elementos distintivos da política social na Europa, bem como as suas diferenças de Estado-membro para Estado-membro. De seguida, e partindo de uma visão mais céptica sobre o impacto real da dimensão europeia da política social no repertório político doméstico, discutindo os mecanismos através dos quais a Europa pode ser vista como uma variável independente para explicar as transformações dos Estados providência de base nacional.
Partindo dos conceitos de Europeização e de “goodness of fit” e de “misfit”, procurarei descrever, por um lado, quais são as condições necessárias para que um determinado “instrumento” de política europeia provoque pressões adaptativas no repertório político dos Estados-membros, e, por outro, quais são as variáveis de intermediação que explicam que nuns casos a “norma” europeia seja mais fortemente internalizada do que noutros. De seguida, descreverei as principais características dos vários pilares em que assenta hoje a política social europeia, bem como o modo como se interligam e variam entre sub-campos da política social. Terminarei a apresentação com alguns exemplos de como no caso português as políticas sociais europeias promoveram a mudança e/ou ajustamentos ou, pelo contrário, tiveram um impacto muito reduzido.
Nota biográfica
Pedro Adão e Silva é Licenciado em Sociologia pelo ISCTE (1997), com uma dissertação sobre a prática local do Rendimento mínimo Garantido. É investigador no Instituto Universitário Europeu, em Florença, onde prepara um doutoramento sobre ‘A europeização do Estado Providência da Europa do Sul: o caso de Espanha e Portugal’; é, desde 2002, Professor auxiliar Convidado do ISEG, onde é responsável pela cadeira de ‘política social europeia’ no mestrado de economia e política social. Tem publicado diversos artigos em revistas nacionais e internacionais sobre transformações do Estado Providência com especial incidência nos casos da Europa do Sul.
18 ABRIL 2007
Gina Gaio Santos (Univ. Minho)
Género, carreiras e a relação entre o trabalho e a família: uma perspectiva de gestão
Comentários: Virgínia Ferreira e Mónica Lopes
Resumo
Os modelos tradicionais de carreira (Schein, 1978; Super, 1957) têm ignorado sistematicamente a importância da relação entre o trabalho e a família. Porém, estes modelos, centrados nos estádios de carreira, têm vindo a ser questionados dadas as suas óbvias limitações: um excessivo centramento nas experiências profissionais masculinas e o ignorar da importância da vida familiar e pessoal dos indivíduos. Esta investigação defende a necessidade de incorporar na análise das carreiras quer as experiências de trabalho femininas, quer as masculinas, e de conferir ao conceito de carreira uma definição mais alargada, susceptível de levar em consideração a vida familiar dos indivíduos. O estudo empírico conduzido com uma população de académicos de universidades públicas portuguesas, e destinado a avaliar a forma como a interface entre o trabalho e a família é vivida por aqueles, aponta para a existência de dois tipos de discursos distintos: o discurso da complementaridade e o da subalternização de papéis. Os resultados revelam, ainda, que a noção de estádios de carreira, mas sobretudo o ciclo de vida familiar e as experiências da parentalidade e conjugalidade são dimensões importantes a ter consideração no delinear do desenvolvimento de carreira dos académicos. A concepção de futuros modelos de carreira não pode deixar de ter em linha de conta a vida familiar dos indivíduos e as diferenças de género, apontando para urna visão cada vez mais personalizada e menos estandardizada das carreiras.
Nota biográfica
Gina Gaio dos Santos é Assistente na Escola de Economia e Gestão na Universidade do Minho. É licenciada em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e tem um mestrado em Gestão de Recursos Humanos pela Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. Actualmente, encontra-se a frequentar o programa de doutoramento em Ciências Empresariais (ramo de Organizações Políticas e Empresariais) na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.
16 MAIO 2007
Fernando Bessa Ribeiro (UTAD)
Entre martelos e lâminas: uma etnografia das dinâmicas do capitalismo em Moçambique
Comentários: Boaventura de Sousa Santos e Hugo Dias
Resumo
A comunicação procura discutir as dinâmicas do capitalismo em Moçambique a partir da implantação e trajecto da indústria do caju. Nascida durante o período colonial, esta industria exprime um modo concreto da integracão de Moçambique na economia-mundo, através da exploração de recursos naturais e da força de trabalho locais na produção de mercadorias destinadas aos principais mercados dos países centrais. A etnografia apoiada no trabalho de campo efectuado sobretudo no distrito de Manjacaze (província de Gaza), onde se estabeleceram, em diferentes períodos históricos, duas fábricas de processamento de castanha de caju, examina também os efeitos desta integração dependente no sistema capitalista global. Trata-se de uma etnografia que escapa aos cânones clássicos. Em vez de se focar no estudo de um lugar e de uma comunidade aparentemente isolados, escolheu-se uma etnografia plurilocalizada capaz de facilitar a descrição minuciosa dos contextos e dos actores sociais observados em diferentes espaços. Esta estratégia facilitou o acesso a uma compreensão densa do trajecto de Moçambique, feito de aproximações e afastamentos em relação à economia-mundo e ao próprio sistema mundial. Rejeitando as leituras deterministas, por vezes quase fatalistas, e as abordagens culturalistas. a-históricas e centradas na vontade e na liberdade, falsamente ilimitadas, dos actores sociais para agir sobre as estruturas, procurar-se-á escrutinar os problemas e os desafios que o sistema global capitalista coloca aos africanos neste inicio de milénio.
Nota biográfica
Fernando Bessa é professor auxiliar no Departamento de Economia e Sociologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Investigador do Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (UTAD) e investigador associado do Núcleo de Estudos em Sociologia (Universidade do Minho).
Tem trabalhado sobre as dinâmicas do capitalismo e processos de mudança social em Moçambique, onde realizou trabalho de campo para o doutoramento, e sobre prostituição feminina em Portugal e Espanha.
25 JUNHO 2007
Nelson Dias (Univ. Algarve)
Uma outra democracia é possível? A experiência de Orçamento Participativo
Comentários: Giovanni Allegretti e Madalena Duarte
Resumo
A democracia vive hoje no centro de um conjunto conturbado de relações de forças e de poderes antagónicos. O processo de universalização dos princípios e regras da democracia liberal contrasta com a crise de representatividade política que hoje se vive. As elevadíssimas taxas de abstenção com que se defrontam os actos eleitorais em muitos países do Mundo, permitem perceber que a democracia representativa deixou de ser mobilizadora para uma vastíssima camada da população. As amplas lutas políticas e sociais do passado, pela democratização do voto, vêem-se hoje confrontadas com uma situação de subutilização desse direito.
É face a um contexto como este que as experiências de Orçamento Participativo (OP) ganham uma relevância significativa. Em pouco menos de 20 anos, o OP transformou-se num tema de debate que interessa a amplos sectores da sociedade, interpela a acção governativa, o sentido da participação política e a própria democracia. Neste sentido, importa compreender melhor a dinâmica destes processos, nomeadamente as condições necessárias para a sua criação e consolidação, assim como as suas potencialidades e limites na construção de uma democracia mais participativa a nível local.
Nota biográfica
Nelson Dias é licenciado em Sociologia (ISCTE), Pós-graduado em Planeamento e Avaliação de Processos de Desenvolvimento, a terminar a dissertação de mestrado (ISCTE). É membro da Direcção da Associação In Loco (Algarve) e docente da licenciatura de Sociologia da Universidade do Algarve. |