Seminário do Núcleo de Estudos Culturais Comparados
O genocídio do Ruanda no cinema: ausência, representação, manipulação

Fabrice Schurmans, doutorando CES

12 de Fevereiro de 2010, 17:00, Sala de Seminários do CES, 2º Piso, Coimbra


Apresentação

O cinema, como qualquer outro Média, é susceptível de evidenciar tendências manifestas ou latentes da sociedade na qual é produzido, ou seja, pode pelo seu conteúdo descrever em parte a dita sociedade (o manifesto). Porém, muitas vezes insinua mais do que pretende significar. Cabe ao crítico revelar este lado latente do cinema, recorrendo tanto à análise do discurso fílmico, como à História, à Sociologia ou, para dizê-lo noutras palavras, cabe-lhe articular ciências sociais e humanas para praticar uma hermenêutica do filme.

Nesta contribuição pretendo analisar alguns dos filmes de ficção que foram produzidos sobre o genocídio no Ruanda entre 2004 e 2006. Tentarei mostrar que os filmes dos realizadores do Norte – Hotel Rwanda (Canadá, Grã-Bretanha, Itália, 2005) de Terry George (Grã-Bretanha), Shooting Dogs (Alemanha, Grã-Bretanha, 2006) de Michael Caton-Jones (Grã-Bretanha) e Un dimanche à Kigali (Canadá, 2006) de Robert Favreau (Canadá) –, se, por um lado, descrevem de maneira assaz fiel o genocídio nos seus aspectos técnicos (massacres de civis em larga escala por outros civis com machados e outras ferramentas agrícolas), tendem a evitar questionar as suas origens imediatas ou históricas. Através da análise das figuras do discurso cinematográfico, ambiciono também evidenciar como alguns destes filmes colocam o branco no centro do quadro (e do guião), reduzindo o negro a um papel secundário, nas suas margens, acabando desta maneira por (re)produzir uma ideologia africanista e eurocêntrica. Tentarei ainda mostrar como e por que razões a estética de um certo discurso televisivo influenciou parte do corpus escolhido. Por fim, debruço-me sobre os filmes Sometimes in April (EUA, 2004) de Raoul Peck (Haiti) e La nuit de la vérité (França, Burkina-Fasso, 2004) de Fanta Regina Nacro (Burkina-Fasso), propostas contra-hegemónicas vindas de realizadores do Sul que apresentam visões alternativas dos acontecimentos em questão, uma versão mais matizada, mais preocupada também com as realidades locais.

 
Nota biográfica

Fabrice Schumans é doutorando em Pós-colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (dissertação: “O trágico da poscolónia”, sob orientação de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi). Licenciou-se em Filologia Românica (1990) e em Artes e Ciências da Comunicação (1993) na Universidade de Liège (Bélgica). Tem um mestrado em Literaturas Românicas Modernas e Contemporâneas (2002) pela Universidade do Porto (dissertação: “Michel de Ghelderode. Une tragédie de l’identité.”). Leccionou Francês como língua estrangeira em Liège (1991-1994), Coimbra (1994-2000) e Viana do Castelo (2000-2006). Desde 2005 é co-organizador do ciclo “Filmes Falados” dos Encontros de Cinema de Viana do Castelo.

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