Seminário
No âmbito dos seminários de Terça-Feira
O Passado não Morre – dinâmicas dos espíritos em Moçambique

20 de Outubro de 2009, 17:00 – 19:00, Sala de Seminários do CES, 2º Piso

Maria Paula Meneses (CES)

Comentários: Elsa Lechner (CES)

Este projecto procurou, combinando a história, a antropologia e o direito, estudar os problemas da feitiçaria em Moçambique, ao longo do último século, período que conheceu rápidas e profundas mudanças sociais. Os autores, como o relatório aponta, defendem que a feitiçaria deve ser vista não como um vestígio residual da cultura ‘tradicional’ mas antes como parte de um drama social mais complexo, parte integrante dos processos económicos, sociais e políticos contemporâneos.

O relatório aponta como a feitiçaria – vista aqui num sentido amplo - tem sido continuamente politizada contra o estado colonial, durante a luta de libertação nacional, assim como durante o último conflito armado que o país atravessou, já após a independência, assim como durante o presente regime, tendo a interpretação e o uso da feitiçaria e dos espíritos sido continuamente reconceptualizados e renegociados.

Este projecto aponta como o Estado moçambicano, heterogéneo no seu funcionamento, tem vindo a consumir e a explorar estas disputas, negociando a participação de outras instâncias de resolução de conflitos, e criando mesmo espaço para a emergência de novos actores sociais. Ao mesmo tempo, este projecto revela a complexa natureza de relações de género, intergeracionais, étnicas, religiosas, assim como a intricada rede de sentidos associada ao conceito de ser moçambicano. Como este trabalho mostra, combinando uma reflexão teórica, documental, com extenso trabalho de campo, embora o campo da feitiçaria seja um assunto que tem conhecido um interesse crescente nos últimos anos, continua a ser uma prática e um campo de produção de sentido ainda muito mal compreendido.

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