Seminário
Instituicoes artísticas, Indústrias culturais e Poder Político em Moçambique: evidências e paradoxos
Fátima Mendonça (Universidade Eduardo Mondlane)
22 de Janeiro de 2009, 16.00h, sala de Seminários, CES, 2º piso
Objectivos da reflexão
Pressupostos teóricos
I
Caracterização geral da situação nos anos imediatamente anteriores à Independência (finais de 60 início da década de 70)
- Desenvolvimentos das artes e relação entre artistas e poder político.
II
Exercício do poder pela Frelimo de 1975 a 1986/89: monopartidarismo e economia centralizada.
- Formas de apropriação e rupturas com a herança artística do período colonial.
III
Multi- partidarismo, economia de mercado e poder político
- Factores de ruptura e de pressão com incidências no desenvolvimento do campo artístico
- Paradoxos gerados
Resumo
Far-se-á uma abordagem diacrónica comparada das formas assumidas pelas relações entre a produção artística, as indústrias culturais e o poder político em Moçambique desde a independência, com recurso a um confronto com os últimos anos do colonialismo em que se assistiu a um forte desenvolvimento artístico e intelectual nas cidades a partir de uma pequena burguesia urbana europeia e africana ""assimilada"".
É possivel, a partir de algumas evidências, delimitar três fases nessas relações, a saber:
1975 -1986/89 Forte investimento do Estado no campo artístico sob controlo do Departamento de Trabalho Ideológico do Partido Frelimo com promoção de uma ideologia "nacionalista" "anti-capitalista" orientada para as ideias de "Poder Popular" de "aliança operária-camponesa", "internacionalismo proletário" assente em várias palavras de ordem. Aceitação geral dos produtores artísticos (com algumas resistências) deste controlo relacionada com a aceitação do poder da Frelimo, mas a que pode não ser alheia a situação anterior (tradição de instituições repressivas características do fascismo português ).
1990-2004 : Com uma nova Constituição que introduz o multipartidarismo e a divisão clara entre poderes, o Partido/Estado perde o seu papel interventivo a favor de influências diversificadas por parte dos parceiros/doadores e e de novos agentes económicos . Alarga-se o campo das opções estéticas e do gosto e o controlo ideológico desaparece progressivamente.
A partir da 2004 com um novo Presidente e novo governo o regime sofre algumas alterações qualitativas: a tendência para, no quadro de uma crescente economia de mercado, fazer ressurgir sob outras formas (discurso oficial, opinião pública, poder judicial etc.) relações de controlo ideológico características do período "socialista", geraram paradoxos nas relações entre o campo artístico e o campos económico e político, que podem representar um potencial simbólico, cuja avaliação está ainda por fazer.
Nota biográfica
Fátima Mendonça é professora catedrática jubilada de literatura moçambicana da Universidade Eduardo Mondlane. Pela sua obra e pela sua acção pedagógica é uma referência absoluta para a crítica da literatura moçambicana. Para além de inúmeros artigos seminais – “Literatura Moçambicana, o que é?” e tantos outros - publicados em revistas da especialidade e em colectâneas de ensaios – é autora de Literatura Moçambicana – A história e as escritas, (1987) e com Nelson Saúte organizadora de Antologia da Nova Poesia Moçambicana (1988) e de múltiplos volumes críticos de autores moçambicanos como Poemas de Prisão, de José Craveirinha (2004) ou Os Meus Versos, de Rui Noronha (2006). |