502 - Bernadete Bittencourt
A IMPORTÂNCIA DAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SECTOR INOVADORAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL
Bernadete de Lourdes Bittencourt
Doutoranda em Sociologia Económica e das Organizações sob a orientação do Prof. Dr. José Maria Carvalho Ferreira e da Profª Dra. Maria João Nicolau Santos. Esta investigação está acolhida no SOCIUS/ISEG/UTL e financiada pela FCT.
Resumo
Nesta investigação analisa-se o processo de geração de Inovação Social (IS) em Organizações do Terceiro Sector (OTS) enquadradas na região de Aveiro tendo particularmente em conta o compromisso com o Desenvolvimento Local Sustentável (DLS). O escopo da pesquisa enfatiza as organizações que produzem bens e serviços, optando-se por organizações associativas e cooperativas de perfil inovador.
As diversas atividades relativas ao TS, comprometidas com o DLS, podem consubstanciar práticas de cidadania económica em maior grau de integração mundial [6], elevando a importância dos fatores socioeconómicos que potencializam e interagem com o local [13, 3, 2]. Neste contexto alguns autores salientam a importância do TS aliado a IS para o DLS [1, 6], pois o TS tem pressupostos de criatividade, cooperação e responsabilidade ambiental. A IS, em contexto organizacional, vem sendo percebida como um meio mais criativo de múltiplas sinergias influenciando a dinâmica de políticas de DLS, fortalecendo o tecido social à uma atividade económica diversificada [4, 7]. Destarte, questiona-se: o que possibilita e o que limita a geração de IS em OTS comprometidas com o DLS? Pode-se considerar que as OTS inovadoras fortalecem o DLS?
O TS inclui um grupo de iniciativas organizacionais que possuem características económicas diferentes. Engloba todas as iniciativas privadas que buscam democracia económica associada à utilidade social, caracterizadas por um ambiente de solidariedade [11], com obrigação do excedente reinvestido beneficiando seus membros e a comunidade [5, 9]. Estas iniciativas de organizações privadas, dentro de um princípio cooperativo, representam modelos de atividade produtiva e distribuição de bens e serviços além de enraizamento local [9]. Ademais, as OTS revelam a opção da classe operária por valores associativistas ultrapassando a retórica do capitalismo mercantil e ainda alia-se, de modo positivo, ao DLS [6]. Por conseguinte, as associações e o cooperativismo podem ser como uma das condicionantes de autenticidade do TS, em que o exercício da democracia, participação, solidariedade e compromisso com o meio, unido a IS, pode ser vital para o DLS.
A IS é um termo que se refere a ação, estratégia, processo ou produto de intervenção endógena ou exógena sobre o DLS. Acontece através de uma mudança original/novidade que busca responder as necessidades sociais não satisfeitas por produtos e serviços, com potencial para ser replicado e reproduzido [4, 1, 8]. O comportamento de organizações inovadoras pode resultar em transformações incrementais na prática local, ou mesmo grandes mudanças em escala de DLS [13]. Assim, consolida-se a ideia de que organizações inovadoras promovem maior compromisso local para enfrentar os desafios e problemas da sociedade [13, 12] com relação aos recursos ecossocioeconómicos [10]. A IS pode ser um fator-chave permitindo as organizações, em diferentes áreas, melhorar a sua posição estratégica e competitiva em abrangência local. Este fator de cidadania económica favorece ao local visibilidade global [4, 7], gera, em ambiência regional, políticas de DLS fortalecendo o TS.
Nesse contexto, a construção do processo metodológico desenvolve-se através de estudo qualitativo e exploratório cujos meios de investigação são estudos de caso em ambiente de OTS. Nesse estudo, considera-se o local um meio inovador, espaço/território de participação social e transformação [12], fator determinante para a formação de novas organizações propícias à gestão coletiva [6] e novas interpretações sobre a IS e suas relações com o tecido societal [7]. Parte-se do princípio que no âmbito das OTS possa existir novas abordagens e práticas de IS capazes de promover e fortalecer o DLS [4, 1, 7]. Tenciona-se como resultado aproximar e conjugar os saberes científicos e empíricos, de forma a contribuir para uma melhor compreensão das OTS inovadoras; prospetar ações em que a IS possa estimular a dinâmica do empreendedorismo social com forte potencial para o DLS.
Bibliografia
[1] Albaigès, J. et al. (2009). La innovación social, motor de desarrollo de Europa. Sevilla: Socialinnova.
[2] Amaro, R. R. (2009). “Desenvolvimento local”, in Cattani, A. D.; et al. (Coord.): Dicionário Internacional da Outra Economia. Coimbra: Almedina, pp. 108-113.
[3] Arocena, J. (2006). “La tensión actor-sistema en los procesos contemporáneos de desarrollo”, in Carrizo, Luis María & Gallicchio, Enrique (Eds.). Desarrollo Local y gobernanza. Enfoques transdisciplinarios. Montevideo: CLAEH, pp. 101-109.
[4] Cloutier, J. (2003). Qu’est-ce que l’innovation sociale? Cahier du CRISES, Collection Études théoriques – no ET0313. Québec: CRISES
[5] Defourny, J. & Pestoff, V. (Eds.) (2008). “Images and Concepts of the Third Sector”, in Europe. WP no. 08/02. EMES European Research Network. Recuperado em 20 de Fevereiro, 2009 em http://www.emes.net/fileadmin/emes/PDF_files/Working_Papers/WP_08_02_TS_FINAL_WEB.pdf
[6] Ferreira, J. M. C. (2010). “Associativismo, Terceiro Setor e Desenvolvimento Local Sustentável”, in Ana C. Gomes et al. (Orgs.), (2011), Organização Social do Trabalho e Associativismo no Contexto da Mundialização. Belém: NUMA/UFPA, pp. 67-98.
[7] MacCallum, D. et al. (2009). Social innovation and territorial development. London: Ashgate.
[8] Murray, R. et al. (2010). The open book of social innovation. Social Innovator series: ways to design develop and grow social innovation. Recuperado em 26 de Março, 2011 em http://www.youngfoundation.org/files/images/Open_Book_of_Social_Innovation.pdf
[9] Namorado, R. (2009). “Cooperativismo”, in Cattani, A. D.; et al. (Coord.), Dicionário Internacional da Outra Economia. Coimbra: Almedina, pp. 96-102
[10] Sachs, I. (2007). Rumo à Ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvimento. São Paulo: Ed. Cortez.
[11] Salamon, L. M. et al. (2000). The nonprofit sector: For what and for whom? Working papers of the Johns Hopkins Comparative nonprofit Sector Project, nº 37. Recuperado em 4 de Janeiro, 2010 em http://www.ccss.jhu.edu/pdfs/CNP_Working_Papers/CNP_WP37_ForWhat_2000.pdf.
[12] Santos, M. J. N. et al. (Coord.) (2005). Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Empresarial. Oeiras: Ed. Celta.
[13] Vachon, B. (2001). “Le développement local intégré: une approche humaniste, économique et écologique du développement des collectivités locales” in Dîner-conférence Carrefour de relance de l’économie et de l’emploi du centro de Québec et de Vanier, 19 novembro, Domanie Maizerest, Québec. Recuperado em 23 de abril, 2010 em http://www.cdecdequebec.qc.ca/pdf/diner/bernardvachon.pdf
