J. Madureira
Pinto
COMUNICAÇÃO/IN COMUNICAÇÃO
1. 0 facto de os astros
não falarem sobre as suas condições reais de «existência» pode ser
apresentado como paradigmático, se quisermos dar conta, pela negativa
e a título ilustrativo, da especificidade das ciências sociais
ou humanas.
É que, justamente, os homens
pensam e falam sobre as suas condições reais de existência,
o que envolve, para além, evidentemente, da possibilidade de uma
reprodução/transformação prática das mesmas, consequências teóricas
não desprezíveis: tendo que explicitar as regularidades objectivas
por que se pautam os comportamentos humanos, cabe, de facto, às
ciências sociais a tarefa suplementar de restituir as relações pensadas
(chamemos lhes ideológicas, não temendo utilizar o adjectivo
numa acepção muito mais ampla do que a proposta pelo senso comum)
que os agentes sociais estabelecem com essas regularidades objectivas.
Porque tal tarefa implica, necessariamente, ainda que de modo implícito,
a análise de enunciados linguísticos, já se vê em que medida a construção
conjunta de uma teoria das ideologias e de uma teoria
da linguagem (e, na sua intersecção, a de uma teoria das
significações socialmente produzidas e consumidas) constitui
momento indispensável à progressão do conhecimento em ciências sociais.
Uma prevenção, entretanto.
Como já sugerimos, o senso comum tende a limitar o âmbito da noção
de ideologias, fazendo o coincidir com o conjunto dos sistemas
de «ideias políticas» que as instituições características da democracia
parlamentar se presume, em princípio representarem de modo proporcional
ao número dos respectivos prosélitos. 0 leque das formas ideológicas
corresponderia, assim, ao das opções politico partidárias institucionalizadas.
Não é, porém, nesse sentido apenas que aqui estamos a utilizar o
vocábulo: para além dos corpos sistemáticos de proposições onde
se recortam os referidos sistemas de posições politicas, incluiremos
sob a designação de ideologias todos os esquemas de operadores mentais
(interiorizados através de um longo processo de aprendizagem) a
partir dos quais os agentes não só percebem e avaliam as situações
que vivem atribuindo-lhes um sentido, como, de certo modo ainda
produzem /reproduzem os próprios comportamentos sociais. São, portanto,
as ideologias que definem os padrões sociais da percepção, os princípios
colectivos que orientam os juizos éticos, estéticos, religiosos,
etc.; são também as ideologias que directamente comandam (ainda
que de forma automatizada) os rituais mais ou menos explícitos da
acção social, o modo de organização e ocupação do espaço, etc..
Se, em suma, o símbolo ou o programa do partido político são, obviamente,
manifestaçoes ideológicas, não o serão menos as pequenas
frases pelas quais se define o que é digno e indigno, o que é belo
e feio, o que é ou não interdito; como também o serão os gestos
estereotipados das saudações de cortesia, a segregação espacial
imposta pela sala de aula convencional, etc..
Outras consequências do
facto de os homens pensarem e falarem sobre as suas condições reais
de existência são já de natureza predominantemente metodológica.
Recorrendo às técnicas de recolha de informação utilizadas em
ciências sociais (inquéritos por questionário, entrevistas, análises
de conteúdo, etc.) aos depoimentos que os agentes sociais
emitem sobre as sociedades, a partir das formas mais ou menos elaboradas
de inteligibilidade social (as ideologias, precisamente), torna se
evidente a necessidade de um duplo controle metodológico de cada
vez que os mais vulgares procedimentos de observação são accionados
neste domínio. Os discursos tendencialmente aptos a promover um
conhecimento científico sobre as sociedades terão, pois, para além
do mais, de prever um conjunto de operadores capazes de transcodificar
o sentido inscrito nas informações recolhidas, de modo a transformá lo
em significações teoricamente controladas; não ter em conta tal
prevenção equivale a pressupor que os agentes sociais dispõem do
conhecimento autêntico sobre as suas condições de existência e que,
portanto, «fazer ciência» deve reduzir se, no âmbito da análise
social, a ouvir as pessoas com fidelidade.
2. Se é certo que os homens
pensam e falam, não é menos verdade que, munidos embora de mecanismos
psicológicos de conhecimento homólogos, o fazem em moldes diferentes,
quando não contraditórios. Não há um pensamento universal
e abstracto, remetendo para uma pretensa natureza humana, há, isso
sim, formas de inteligibilidade historicamente determinadas e,
portanto, descoincidentes; não há uma lógica absoluta e intemporal,
há lógicas (ideo lógicas) sociais diversas.
Não espanta, por isso,
que, falando se uma mesma língua, se possa falar diferentemente;
que, ao limite, um «instrumento de comunicação» como a língua
possa, afinal, promover e reforçar a in comunicação.
3. Centremos esta última
questão.
De acordo com o célebre
modelo de Roman Jakobson, claramente importado da «teoria da comumicação»,
a existência de um código linguístico comum aos interlocutores
garante o essencial da comunicação verbal. Asseguradas as condições
técnicas que o conceito de contacto pretende restituir, quaisquer
emissor e receptor pertencentes a uma «comunidade
linguistica» poderão, desde que o queiram, comunicar por intermédio
de mensagens linguísticas. Esquematicamente,
|
CONTEXTO |
|
EMISSOR.......... |
................MENSAGEM................ |
...............RECEPTOR |
|
CONTACTO |
|
|
CÓDIGO |
|
0 modelo referido, que,
por incluir os protagonistas e alguns elementos do contexto
ou situação da comunicação verbal, permite um avanço importante
relativamente ao formalismo da linguística estrutural de inspiração
saussureana, não tem sido, como devia, objecto de uma critica sistemática.
Contemporizando com as ilusões do «comunismo linguístico» e da livre
troca de mensagens no «mercado» da comunicação, o modelo tem, por
isso mesmo, reforçado o mito de que as conquistas técnicas neste
domínio (mass media, meios audio visuais, etc) poderão,
através da generalização do acesso à Cultura, eliminar as «barreiras
sociais» e, no limite, construir a sociedade sem classes.
Problematizar o modelo
de Jakobson, no sentido de definir a comunicação como um fenómeno
social, e assumir todas as consequências teóricas que dai decorrem,
constituem condições necessárias para romper o círculo de falsas
«evidências» em que ele se apoia e encerra.
4. A primeira e, por certo,
mais resistente de tais evidências é a que atribui aos protagonistas
da comunicação o estatuto de sujeitos auto determinados,
«livres» e criadores, e reduz a dialéctica da comunicação a um jogo
de relações intersubjectivas polarizadas nos locutores.
Afirmar, contra tal pressuposto,
que emissor e receptor não podem deixar de ser definidos como o
«produto» de um conjunto de determinações económicas, políticas
e ideológicas, ao ponto de, conceptualmente, ser legítimo
negar lhes a «iniciativa» do que dizem, lêem e escrevem, implica
uma forma de interrogar a realidade social (uma problemática
sociológica) estruturalmente diversa da que, quase impunemente,
subjaz ao esquema canónico da comunicação.
Se, adicionalmente, esta
problemática estipula que são contraditórias (e não tendencialmente
simétricas) as relações sociais recobrindo o campo de determinações
a que nos referíamos e convém acrescentar que é em grande
medida ao tomar partido relativamente a esta questão que
as teorias disponíveis em ciências sociais irredutivelmente se cindern
já se vê que, no seu âmbito, emissor e receptor não podem
ser tomados como personagens quaisquer, como «actores» indiferenciados
do «drama» da comunicação, antes terão de ser definidos em termos
dos lugares ocupados no espaço historicamente datado e localizado
das práticas sociais, presentes mas, sobretudo, passadas. Emissor
e receptor jamais se poderão considerar, nesta perspectiva, como
entidades analiticamente intercambiáveis; caracterizar se ão,
inevitavelmente, como membros de classes sociais.
5. Se, a partir do ponto
de vista enunciado, é ilegítimo afirmar que emissor e receptor estão
na origem do sentido associado às mensagens da comunicação social,
importa precisar a lógica de determinação a que nos referíamos.
Quando pretendemos dar conta da significação dos enunciados linguísticos,
não basta, com efeito, remeter globalmente para o conjunto das respectivas
condições de produção: importa distinguir, no seu âmbito, «blocos
de variáveis» explicativos com graus de especificação diversos,
estipular a posição hierárquica assumida por cada um desses «blocos»
no modelo de causalidade em que se inserem, etc...
6. Tomaremos, por agora,
um deles apenas: o que, como dissemos, determina directamente
a produção de sentido e o carácter contraditório deste para
falantes da mesma língua. Estamos, evidentemente, a referir nos
ao sistema das ideologias sociais.
Contrariando a tese segundo
a qual a diversidade contraditória de produções discursivas e, portanto,
a in comunicação se explicam, em última análise, pela existência
de uma multiplicidade de sub códigos linguísticos, afirmaremos,
pela nossa parte, que tais fenómenos se devem, antes de mais, à
descoincidência de posições ideológicas existentes numa formação
social (é também a falar a mesma língua! que as pessoas
não se entendem).
Valerá a pena recordar
a extrema dispersão e irredutibilidade de significações que mesmo
vocábulos iguais produzem nos slogans e palavras de ordem que invadiram
as paredes de Portugal?
Enquanto, neste caso particular,
são as exigências da luta política organizada que conduzem a uma
ocupação deliberada e controlada, por agentes sociais especializados
e identificáveis, do espaço das ideologias político partidárias
os discursos programáticos dos políticos serão, entretanto,
a contrapartida racionalizadora e sistematizadora das mensagens
a que nos referiamos, procurando prolongar lhes e reforçar lhes
o impacto iremos encontrar nos pequenos rituais e juízos
de todos os dias muitos outros sintomas da pluralidade contraditória
de ideologias sociais, sem que, desta vez, seja sequer possível
a identificação dos respectivos autores.
Em nenhuma sociedade são,
por exemplo, univocos os modos de classificar e hierarquizar objectos
e, muito menos, indivíduos ou grupos. Pense se, relativamente
aos primeiros, na diversidade de escalas de gosto ou na heterogeneidade
de critérios para definir o que «segundo as circunstâncias» deve
e não deve ser dito, visto e ouvido, etc.; relativamente aos segundos,
na panoplia de taxinomias de acordo com as quais espontaneamente
se descrevem a organização e acção sociais. Os princípios accionados
no primeiro caso e as «classes sociais» eventualmente concebidas
no outro surgem perante quem dispõe do respectivo domínio e conhecimento
práticos mas ignora a lógica do processo de aprendizagem que os
inculcou (e esta omissão não será das condições menos importantes
da sua eficácia) como absolutos, naturais (isto é, neutrais)
e, portanto, indiscutíveis. Levar, pelo contrário, a sério
a diversidade de formas de inteligibilidade socialmente compartilhadas
conduz a afirmar a existência de uma pluralidade contraditória de
arbitrários de pensamento (arbitrários culturais, já lhe
chamaram) comandando as produções discursivas e, de um modo geral,
a produção de efeitos de sentido. Restaria acrescentar, se tal não
fosse já por demais óbvio, que, por esse facto, sobretudo por esse
facto, falar em comunicação impõe sempre que se fale, simultaneamente,
em in comunicação social.
Perguntar se á
se não estaremos, com tal proposta, a elidir a especificidade de
funcionamento do conjunto de estruturas fonológicas, morfológicas
e sintácticas do sistema da língua, de modo a fazermos depender
a discursividade, da simples expressão do pensamento, de uma «pura»
actividade cognitiva que só acessoriamente utilizaria o código linguístico.
Demarcando nos também
relativamente a tais vestígios de «mentalismo», afirmaremos que
a «questão semântica», bem como a da comunica-ção/in comunicação
social, forçosamente terão de ser resolvidas de um modo que compatibilize
a autonomia relativa da base linguística dos discursos com
a existência de um sistema contraditório de ideologias. Resta acrescentar
que só através do cruzamento de esforços teóricos das ciências «da
linguagem» e «da sociedade» (até hoje quase totalmente divorciados)
tal compatibilização poderá realizar se.
7. Não é possível, dir se á,
estender a problematização do modelo de Jakobson ao elemento designado
por contacto. Como e porquê questionar o conjunto de condições
físicas que asseguram a transmissão de informação se, neste caso,
estamos pura e simplesmente perante um dado tecnológico?
Bastará atentarmos na natureza
dos obstáculos que têm impedido a plena utilização, no domínio das
comunicações de massa, de certas conquistas técnicas, para claramente
nos apercebermos de como é legitimo, quer do ponto de vista teórico,
quer político, pretender questionar o elemento do modelo da comunicação
aparentemente mais anódino que é o contacto. Não é verdade que só
por razões sociais (v. g. sacralização dos critérios dominantes
da divisão social do trabalho) e eminentemente políticas (estratégia
de controle dos mais poderosos centros emissores da comunicação
pelas ou por fracções de classe do bloco no poder) não têm
sido promovidas as formas de comunicação hoje já plenamente
viáveis do ponto de vista técnico conhecidas por televisão
comunitária, que, superando a tradicional relação bipolar mas unívoca
da comunicação, permitiriam uma efectiva democratização da
T.V.?
A conclusão parece óbvia:
pretender furtar o elemento contacto a qualquer esforço de problematização,
com o argumento de que ele remete para algo que obedece a um estrito
determinismo tecnológico, corresponde, afinal, a negar que a «comunicação
social» seja, de facto, um fenómeno social.
8. Um último ponto.
Para além de uma centragem,
em termos globais, das determinações sociais dos «protagonistas»
bem como do «canal» da comunicação, a análise concreta das
concretas condições de produção dos enunciados linguísticos
exige uma referência especificada (o que é bem diferente
de casuistica ou redundante) à situação ou contexto da enunciação.
Trata se de prolongar uma teoria estrutural da comunicação,
através de uma sua teoria conjuntural, que, por isso mesmo,
não abdique da primeira.
A referência ao contexto
caracteristico da relação pedagógica resumirá, de forma exemplíficativa,
as nossas observações a este propósito.
Contrariamente ao que o
senso comum e algumas doutrinas pedagógicas insistentemente proclamam,
a relação professor/aluno não corresponde a um processo interactivo
neutro, que possa desligar se das relações de força
sociais que a transcendem ou reduzir se ao mero circunstancialismo
das técnicas de transmissão do Saber.
Ora, ter em conta aquela
dinâmica permite nos precisamente afirmar, de modo genérico,
que a acção pedagógica corresponde sempre à tentativa
e imposição, por um poder delegado em agentes especializados mas
fundado nas relações de força entre as classes sociais, de um conjunto
de significações e operações (uma competência) que, longe de poder
deduzir se de qualquer princípio universal, constitui rigorosamente
um arbitrário cultural. Sendo assim, já se vê que a eficácia
e legitimação da referida acção pedagógica sempre pressuporão o
exercício, pelos agentes ou instituições de ensino, de uma efectiva
autoridade pedagógica.
Se a relação professor/aluno
envolve, embora dissimuladamente, o exercício de um poder de
imposição (se ela é, afinal, uma relação de poder), jamais
estaremos autorizados a considerar a forma das interacções observadas
na sala de aula como indiferente ou tão só acessória para a
aferição plena do tipo de informação aí transmitida. Pelo contrário,
desde a organização do espaço (o estrado, a localização da cadeira
do professor no ponto de convergência do olhar dos alunos, etc.)
aos rituais que «mestres» e «discípulos» cumprem ritmadamente em
cada período lectivo, passando pelo controle deliberado embora diferenciado
das linguagens discente e docente, tudo, enfim, no universo da sala
de aula instituí um conjunto de condições materiais e simbólicas
que não só assegura a distanciação necessária à legitimação, reprodução
e reforço da autoridade e acção pedagógicas, como ainda impede que
a interacção professor/aluno se reduza a uma relação de comunicação
pura e simples.
0 sentido das mensagens
emitidas pelo professor e, eventualmente, pelo aluno depende, de
facto, tanto de factores extra linguísticos (ligados directamente
ao contexto da enunciação e, indirectamente, ao sistema de posições
objectivas na estrutura social) como de factores propriamente linguísticos.
0 que atrás se disse para
caracterizar os primeiros permite nos, por isso também
a propósito da relação pedagógica não separar comunicação
de in comunicação social.
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