Apresentação de livro

"Papéis da Prisão: apontamentos, diário, correspondência (1962-1971)" de José Luandino Vieira

Arnaldo Santos

Eduardo Lourenço

24 de novembro de 2015, 18h00

Auditório 2, Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa)

A apresentação da obra contará com a presença do autor e estará a cargo de Arnaldo Santos (escritor) e Eduardo Lourenço (ensaísta).

Durante os anos de cárcere, José Luandino Vieira coligiu um acervo de textos constituído por 17 cadernos. O processo de escrita destes «Papéis» tem como termos cronológicos e fronteiras espaciais a entrada no Pavilhão Prisional da PIDE em Luanda (1961) e a sua saída do Tarrafal (1972). A materialidade destes cadernos é composta por aproximadamente 2000 fragéis folhas manuscritas onde o autor anotou a sua visão do cárcere como observatório da nação angolana, manifestou os seus projetos políticos e literários, evidenciou o projeto comunitário de Angola como o veículo da união e resistência coletiva, expressou angústias e sonhos pessoais.
Os «Papéis» de José Luandino Vieira são um sismógrafo excecional para mapear os espaços de detenção e confinamento construídos pelo colonialismo português, nos estertores da sua existência, perante a luta crescente dos movimentos de independência africanos em várias frentes: na clandestinidade, nas prisões, na guerrilha.

Trata-se do resultado de uma investigação decorrida no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, através do seu programa de Doutoramento “Patrimónios de Influência Portuguesa” (III-CES). Projeto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian com edição da Editorial Caminho-Leya.

«Trata-se da reunião, num único volume com cerca de 1200 páginas, de tudo o que o autor de ‘O livro dos rios’ escreveu ao longo daqueles quase dez anos em que lutando pela independência de Angola, esteve preso, primeiro em Luanda, depois no sinistro Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde - o chamado "Campo da Morte Lenta". A preparação e organização desses "papéis" é do próprio autor e de Margarida Calafate Ribeiro, Roberto Vecchio e Monica Silva, os três do CES, Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra (e os dois primeiros, além do mais, também titulares de cátedras em Itália), estrutura de investigação responsável pelo projeto, que teve o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian - e sendo a chancela da obra da Caminho, a editora (o editor Zeferino Coelho) habitual de Luandino.» [excerto de artigo publicado no JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, na edição de 14 de novembro de 2015]