Este projecto, liderado pelo Instituto de Ciências Sociais, tem como objectivo explorar as múltiplas dimensões e ramificações da história da investigação nuclear em Portugal desde 1910 até ao presente. O ‘Nuclear’, ou antes, a sua ausência, é um tema recorrente nas narrativas produzidas sobre a modernidade portuguesa dos últimos cem anos. A não construção de um reactor nuclear industrial em Portugal tem sido usada uma e outra vez como prova do atraso tecnocientífico português em relação aos demais países ocidentais. Este projecto funda-se numa hipótese alternativa à história das ausências: para compreender a história contemporânea de Portugal é necessário incluir a história do nuclear. Para construir tal narrativa tomaremos os átomos e a vida social como entes que se constituem um ao outro em simultâneo. Ao revelar uma história escondida do Portugal Nuclear, pretendemos explorar a relevância social, política e económica da investigação nuclear na história do país.
Para cumprir tais objectivos, a equipa de investigação seguirá as ligações históricas entre átomos e a sociedade portuguesa localizada em diversos lugares, práticas e eventos. Exemplo disso será o uso de radiações em tratamentos do cancro nos anos 20; a mineração de urânio no Portugal rural dos anos 50; ou o movimento ambientalista anti-nuclear dos anos 70. Assim, em claro contraste com as visões convencionais do nuclear, daremos protagonismo ao estudo da presença difusa da ciência e da tecnologia nucleares na sociedade portuguesa em cinco grandes áreas: física, cancro, minas, ambiente e cultura popular. Estas diferentes dimensões têm sido objecto de importantes trabalhos internacionais em relação a outros contextos. Contudo a bibliografia internacional ainda não explorou estas diferentes dimensões em conjunto, através de uma narrativa integrada. Este projecto pretende assim contribuir para a historiografia da ciência internacional.
A diversidade de temas de investigação, bem como a larga extensão do período histórico considerado, exigem uma equipa interdisciplinar fazendo uso de diferentes metodologias. O projecto integrará historiadores e sociólogos da ciência, sociólogos do ambiente e antropólogos. As metodologias abrangerão a investigação histórica de espaços laboratoriais; pesquisa de arquivo sobre políticas científicas; etnografia de infra-estruturas tecnológicas; análise de media; entrevistas. Esta pluralidade metodológica será acompanhada de um compromisso colectivo com a materialidade dos processos sociais e científicos. Por conseguinte “os átomos” não serão abordados de forma idealista, como habitando esferas etéreas da ciência, mas serão antes tomados nas suas mediações materiais – máquinas, prácticas, e instituições que produzem, sustêm e circulam a sua existência histórica.