O registo e análise de informação estatística sobre desastres naturais têm sido desenvolvidos nos últimos anos em todo o mundo. O desenvolvimento de bases de dados sobre desastres naturais é absolutamente determinante para a gestão dos riscos, visto que permite a implementação sustentada de sistemas de indicadores da vulnerabilidade e do risco, nas escalas nacional e regional, que possibilitam a avaliação do impacto dos desastres naturais, em termos sociais, económicos e ambientais. Portugal foi afectado por diversos desastres naturais severos no decurso do século XX, nomeadamente cheias e movimentos de vertente. No entanto, a gestão preventiva dos riscos só muito recentemente passou a ser assumida como uma prioridade pelo Programa Nacional de Políticas de Ordenamento do Território. A informação de base sobre cheias e movimentos de vertentes ocorridos num passado recente em Portugal está incompleta e encontra-se muito dispersa, facto que constitui um obstáculo à desejável implementação de medidas eficazes para a mitigação dos desastres naturais. Neste contexto, esta proposta tem por objectivo principal suprimir a fragilidade que resulta da inexistência de uma base de dados, consistente e validada, de desastres de origem hidro-geomorfológica em Portugal.
A equipa do Projecto Disaster propõe-se criar, explorar e divulgar uma base de dados SIG sobre cheias e movimentos de vertente catastróficos verificados em Portugal continental no século XX e na primeira década do século XXI. O tema do trabalho é transversal, situando-se na fronteira entre as Ciências Físicas e as Ciências Sociais. A constituição da equipa reflecte muito claramente este enquadramento e constitui uma garantia para o pleno sucesso do projecto. A equipa é constituída por 20 investigadores, especialistas em Ciências da Terra, Ciências da Atmosfera e Ciências Sociais, que integram 4 instituições científicas pertencentes a 3 grandes universidades portuguesas: Lisboa, Porto e Coimbra. Adicionalmente, a equipa assume como prioridade a inclusão de jovens investigadores, pelo que se propõe a contratação de 4 bolseiros de investigação. O Projecto decorrerá num período de 36 meses, estando organizando em três Blocos de Trabalho, que contêm 8 Tarefas. O Coordenador do Projecto será auxiliado, na gestão científica e operacional, por uma Comissão de Coordenação que integra todos os coordenadores das Tarefas. Esta Comissão é composta por 8 investigadores doutorados, que trabalham desde há vários anos com o Coordenador, o que constitui uma garantia da eficácia do modelo de gestão adoptado.
O 1º Bloco de Trabalho é dedicado à estruturação e recolha de dados. Inicialmente, será estabelecida uma definição consistente e objectiva para ‘Desastre Natural’, que determinará os critérios para inclusão/exclusão na base de dados de qualquer cheia ou movimento de vertente com consequências danosas. Por outro lado, o estabelecimento da estrutura da base de dados SIG é determinante para a organização do processo de recolha da informação. A base de dados do Projecto Disaster incluirá toda a informação dos desastres de origem hidrológica e geomorfológica ocorridos em Portugal desde o início do século XX. Adicionalmente, a equipa sistematizará e disponibilizará todas as referências bibliográficas existentes sobre o assunto.
O 2º Bloco de Trabalho é dedicado à Exploração dos dados. Numa primeira fase, a investigação incidirá sobre a distribuição geográfica e o ritmo temporal dos eventos hidrológicos e geomorfológicos catastróficos ocorridos em Portugal continental. De entre os assuntos a abordar, destacam-se: (i) a definição da hierarquia dos municípios, regiões e bacias hidrográficas, no que respeita à ocorrência de cheias e movimentos de vertente catastróficos, bem como o estudo das relações com os factores físicos que favorecem a ocorrência dos eventos; (ii) a avaliação das tendências de evolução temporal no número e magnitude dos desastres de origem hidro-geomorfológica; e (iii) o estabelecimento de limiares críticos de precipitação responsáveis pela ocorrência de cheias e movimentos de vertente em diferentes regiões do país. A exploração das causas dos desastres naturais incluirá o estudo dos padrões de circulação atmosférica que determinam a ocorrência de eventos extremos de precipitação, e a avaliação da vulnerabilidade e do risco dos elementos humanos expostos aos desastres hidro-geomorfológicos. Em particular, a equipa pretende quantificar o risco individual e social, bem como entender porque razão diferentes comunidades e cidadãos têm sido afectados distintamente por cheias e movimentos de vertente.
Os resultados do projecto serão disseminados por um Sítio dedicado na Internet, que explorará tecnologia Web-SIG. Paralelamente, os resultados obtidos serão divulgados em revistas científicas internacionais de referência, com revisão por pares.