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2020-09-07
Seis meses

A 2 de março de 2020 foram diagnosticados em Portugal os primeiros dois casos de Covid-19. Desde esse dia, passaram seis meses cheios de mudanças estruturais que nos vão deixar marcas por muito tempo.

Confinamento, máscaras e apetrechos de proteção, a distância física entre família e amigos, o medo de sair à rua, de infetar e ser infetado.  Quem pôde aprendeu a trabalhar a partir de casa. As aulas foram dadas à distância. Vivemos sem poder viajar e fazer grandes planos a longo prazo. Ficámos ainda mais dependentes da tecnologia para poder comunicar, porque suprimimos o distanciamento físico com a aproximação possível através de aplicações digitais.

Passámos de estado de emergência para estado de calamidade e para estado de alerta. Mudámos a terminologia, mas ficou a sensação de imprevisibilidade e mergulho em tempos estranhos, o que muitos decidiram chamar de “novo normal”. Sem vacina voltámos às ruas, mais vazias. Tentámos recuperar o tempo que a pandemia nos tirou, porque o sentimento é de perda - de rendimentos, de emprego, de contactos físicos, de oportunidades. Abrimos mão de projetos e planos face ao número crescente de mortos e infetados. 

O desemprego aumentou exponencialmente entre os jovens e ampliou a visão precária de várias gerações relativamente ao seu futuro.  Como vamos estar daqui a dois anos? Como vai resistir a economia a tamanhas perdas? Qual a dimensão desta crise? Relembramos 2008, virá aí nova austeridade? O pior ainda está para vir? Quando vamos sair disto?

PIB, défice, contenção orçamental, projeções, incertezas e angústias que são amenizadas por serviços de streaming e pelas resoluções individuais para esta fase. Será que ainda lhe podemos chamar de fase? Longe vai o tempo em que achávamos que seriam só umas semanas de quarentena em casa. À luz destes seis meses de caminho, percebemos como precisámos do Estado Social e temos agora a certeza que estaríamos perdidos sem o Serviço Nacional de Saúde. Estas são, aliás, algumas das poucas lições que sabemos ter aprendido.  Conclusões certeiras terão que ser guardadas mais para a frente, porque estamos a ir devagar rumo aos meses frios, e à possibilidade de uma nova vaga, vivendo um dia de cada vez e ansiosos à espera da vacina.

Camila Borges